São Paulo, quinta, 26 de março de 1998

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REFORMA MINISTERIAL
Rumo ao virtual segundo mandato, presidente busca novas alianças, como faz com o PMDB
FHC e Motta procuram limitar ação do PFL

KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel


A volta do senador José Serra (PSDB) ao governo foi articulada por Fernando Henrique Cardoso e pelo ministro das Comunicações, Sérgio Motta, para limitar desde já o espaço do PFL no eventual segundo mandato do presidente.
No fim de janeiro, FHC e Serra tiveram uma longa conversa. O presidente fez o convite para o senador assumir a pasta da Saúde quando tivesse que reformar sua equipe, em abril, por ocasião dos ministros que sairiam para disputar a eleição.
Preocupado com a aproximação entre o PFL e o PPB, expressa pelas inúmeras aparições públicas da dupla Antonio Carlos Magalhães e Paulo Maluf, FHC disse a tucanos, entre os quais Serra, que daria uma feição mais pessoal à sua segunda administração.
Para reclamar do carimbo de que ACM manda no governo, FHC dizia a tucanos que o PSDB tem a área econômica e a Educação, ficaria com a futura pasta da Infra-Estrutura e que gostaria de pôr Serra na Saúde.
O presidente tem trabalhado com o cenário de que está reeleito. Sua dúvida é se ganha no 1º turno, o que seria uma aprovação incontestável de sua gestão. Ou se leva no 2º turno, uma aprovação por falta de melhor alternativa.
Serra, que planejava voltar ao governo só em 99, ficou de pensar e deu início a um demorado processo de reflexão e de consultas a amigos, médicos e políticos.
Sérgio Motta entrou no circuito, argumentando que, no começo de 99, todas as pastas, em tese, estariam abertas a discussão. Avisou que o momento era agora, pois ele seria apenas um dos nomes fortes, ao lado das indicações de PFL, PMDB, PPB, PTB e PSDB.
Na última sexta, quando ainda hesitava sobre a conveniência de aceitar "um ministério onde morre gente", Serra teve duas conversas com Motta, uma delas à noite, na casa do ministro das Comunicações. Motta voltou a lembrar que ACM estava de olho na pasta da Saúde. Em conversas no plenário do Senado, já "nomeara" Paulo Souto futuro ministro em 99.

Projeto 2002
Preocupado em viabilizar o projeto presidencial em 2002 de seu filho e deputado federal, Luís Eduardo Magalhães, ACM queria colocar na Saúde um executivo subordinado às suas diretrizes. Seria uma forma de tomar um trampolim político de um adversário futuro.
Registre-se que Luís Eduardo, em conversas com FHC, chegou a dizer que seria um desafio assumir a Saúde. Parlamentares próximos ao deputado contam que sua preferência era disputar o Senado e ser ministro de FHC em 99. Mas o pai, avaliando que seria temerário deixar Paulo Souto oito anos dirigindo a Bahia, praticamente obrigou o filho a disputar o governo.
Ciente do significado de seu retorno ao ministério, ocupando uma pasta cobiçada pelos aliados, Serra recebeu na sexta à noite um telefonema de FHC, informando que acabara de aceitar a demissão de Carlos Albuquerque e que aguardava uma resposta urgente.
Serra, que fez basicamente duas exigências para assumir a Saúde (garantia de recursos e liberdade para poder enfrentar nomeações políticas), foi a Brasília em segredo no dia seguinte, um sábado.
Conversou com FHC e voltou decidido a aceitar. Mas, num processo de decisão tipicamente tucano, só deu o sim definitivo no domingo, por telefone.
Acabava aí uma articulação que marca a primeira grande derrota do PFL para o núcleo tucano que comanda o governo.
Para entender melhor a razão disso, é preciso voltar a novembro, quando FHC editou o Pacote 51 em resposta à crise asiática e avaliou o momento como o mais delicado de sua administração.
Àquela altura, já estava claro que o namoro entre PFL e PPB era para valer e almejava lances políticos concretos no eventual segundo mandato e na sucessão de 2002.

Barco
No entanto, o comportamento de ACM, que capitaneou a oposição ao pacote contrapondo-se ao aumento do imposto de renda, foi lido por FHC como um sinal de que o PFL não hesitaria em pular do barco imediatamente no caso de uma tragédia econômica.
No desfecho do pacote, ACM contabilizou uma vitória pública porque conseguiu reduzir o aumento do imposto de renda, mas se desgastou muito com FHC.
Desde então, o presidente se convenceu da necessidade de atrair o PMDB, garantindo ao partido um espaço similiar ao do PFL, até então o aliado mais importante do PSDB. Eliseu Padilha, por exemplo, recebeu garantia de que será ministro no ano que vem.
Os caciques do PFL, entre os quais Luís Eduardo, vendiam para o Planalto a tese de que o PMDB jamais viria majoritariamente para o palanque de FHC. Mas a vitória da ala governista na convenção do PMDB mostrou o contrário.
O estilo de FHC não é de mudanças bruscas, e o susto que passou no PFL não significa que prescinda do apoio do partido.
O presidente sempre diz que a atuação de ACM foi importante para aprovar as reformas da Previdência e administrativa. No entanto, deu sinal claro de quem tem outros parceiros para uma emergência agora ou depois da eleição. E que quer ter mais liberdade política em 99.



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