São Paulo, sábado, 26 de abril de 2008

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Pimentel se rebela contra veto do PT à aliança com Aécio

Direção petista de Belo Horizonte vai recorrer da decisão da Executiva Nacional

Lula pode discutir crise com ministros na segunda; para ele, partido cometeu um erro porque, ao enfraquecer mineiro, fortalece Serra


Cristina Horta/"Estado de Minas"
Aécio Neves participa, ao lado do prefeito Fernando Pimentel, de lançamento da TV Digital Minas

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PT de Belo Horizonte decidiu recorrer da decisão da direção nacional do partido de proibir a formação de aliança com o PSDB na capital mineira. Em reunião na manhã de ontem, com cerca de 15 lideranças municipais, entre elas o prefeito Fernando Pimentel, dirigentes da sigla decidiram usar todos os prazos legais e lutar pela coligação com o governador Aécio Neves (PSDB), se preciso até na Justiça Eleitoral.
O candidato mais provável da aliança é Márcio Lacerda (PSB), secretário estadual de Desenvolvimento Econômico.
Contrariado com o que considerou "uma grosseria" com o governador de Minas, o prefeito afirmou que "o PT nacional trata como inimigo um adversário que quer se transformar num aliado". Pimentel disse que a direção nacional do PT "está optando pela linha do isolamento político que levou o PT a maus resultados no passado".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que o PT nacional errou ao vetar a aliança porque isso enfraquece Aécio e fortalece o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Ambos ambicionam disputar a Presidência em 2010.
A Folha apurou que Lula pretende discutir em reunião com ministros na segunda-feira a crise entre o PT nacional e a seção mineira da sigla. Anteontem, ao saber da decisão, Lula a chamou de "burrice" em conversa reservada.
Pimentel, que ontem teve uma reunião longa com Aécio, disse que "o que está sendo decidido não está no estatuto do partido". "Quem pode rever a decisão de uma convenção é só outra convenção", disse. "Acho que o presidente [nacional do PT] Berzoini cometeu um equívoco político."
No mesmo dia, o governador afirmou que, se a aliança não ocorrer, "os mineiros vão lamentar". "Espero que essa decisão do PT seja amadurecida e eventualmente contornada."
"Temos que ter muita paciência com a Executiva Nacional: trabalham sentados em Brasília sem descolar os olhos da avenida Paulista", criticou o deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG).
A estratégia do PT-BH é esticar a questão até junho, prazo final dado pela Justiça Eleitoral para a realização de convenção, quando será votada a proposta de aliança com o PSDB.
Avaliam as suas lideranças, conforme apurou a Folha, que o PT nacional nada poderá fazer contra, porque até lá não terá ainda havido nenhuma proposta oficial no papel.
Se, mesmo depois disso, o PT nacional a proibir, existe a disposição de recorrer à Justiça Eleitoral com o argumento de que uma decisão de convenção só pode ser derrubada por outra convenção e que, em eleição municipal, a convenção municipal deve ser soberana. Advogados já estão sendo contatados para preparar essa defesa.
O recurso ao diretório nacional, que é uma instância superior à Executiva, teria o propósito de questionar o fato de a Executiva ter tomado uma posição sem que houvesse aliança formal com o PSDB.
O prefeito de Belo Horizonte foi criticado pelo vice-presidente José Alencar, em discurso durante encontro do PRB mineiro. Para ele, faltou habilidade nas negociações e nomes importantes na política de Minas, como os ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), não foram consultados.
Aliados de Lula lembram que, ao dar aval ao acordo entre PT e PSDB em BH, ele aconselhou Pimentel a discutir com os petistas mineiros o melhor candidato no PSB. Os nomes citados para disputar a prefeitura eram os de Márcio Lacerda e de Ana Lúcia Gazzolla, ex-reitora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Outro nome
Uma solução para a crise, segundo um ministro, poderia ser a troca de Lacerda. Amigo do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), ele é visto como um nome muito associado a Aécio.
Pimentel e Ciro não querem trocar Lacerda, que também contava com o apoio de Aécio. Ana Gazzolla, por outro lado, tem boas ligações com tucanos e petistas em Minas.
A troca de nomes agradaria a Patrus e Dulci e poderia servir de argumento para mudar a decisão da Executiva Nacional.


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