São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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Arrozeiro pede mais prazo para deixar reserva em RR

Quinta-feira é a data limite dada pelo Supremo para que não índios saiam da Raposa; Polícia Federal diz que retirada será pacífica

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

Apesar do tráfego de caminhões carregados com tratores, colheitadeiras e outras máquinas agrícolas ter se tornado intenso nos últimos dias na terra indígena Raposa/Serra do Sol, Paulo César Quartiero, ex-prefeito de Pacaraima (RR) e rizicultor, diz ser impossível retirar tudo de lá antes de quinta. "Quero ao menos 45 dias."
Quinta-feira é quando vence o prazo dado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a não índios e produtores rurais -arrozeiros- para deixar o território. Em março deste ano, a corte confirmou o teor da decisão do governo federal que, em 2005, homologou como contínua a terra indígena.
Lá, vivem cerca de 18 mil índios, de cinco etnias: macuxi, uapixana, taurepangue, ingaricó e patamona. Essas etnias reivindicavam a transformação da área em território indígena havia cerca de 30 anos.
"Já fizemos mais de cem viagens de caminhões da fazenda para Boa Vista", diz Quartiero sobre percurso que pode chegar a mais de 200 km. O fazendeiro, que chegou a ser preso no ano passado após conflito entre funcionários de sua fazenda e índios, diz que máquinas e insumos transferidos lotam o terreno de sua empresa, na capital.
Ele afirma também que "quer tirar tudo que puder" do interior da reserva. "Vou levar azulejos, piso, telhado."
A reportagem ouviu outros dois de cinco produtores de arroz que têm propriedade no interior da terra indígena. Eles dizem que todas as despesas com a operação de retirada estão sendo custeadas pelo grupo, "sem ajuda nenhuma do governo federal". Mas evitam falar no valor gasto.
O rizicultor Ivo Barili, por exemplo, alugou um terreno em Boa Vista para guardar o maquinário retirado. Afirma que ele e seus colegas, que plantavam arroz na Raposa, se tornaram "sem-terra". "Está tudo jogado no tempo lá no terreno. Vai apodrecer. Vou entrar para o movimento dos sem-terra e acampar em algum lugar."
Barili reclama que ainda não foram identificadas áreas para que os rizicultores sejam reassentados. Além disso, o valor da indenização que eles podem receber pelas benfeitorias em suas propriedades só deve ser resolvido após a retirada da população não índia do local.
Outro arrozeiro ouvido pela Folha, Ivalcir Centenaro conta que está usando a área de sua usina de beneficiamento de arroz, em Boa Vista, como depósito. Lá "tem de tudo", diz ele, de ferro, insumos a máquinas.
Mas não são apenas equipamentos que ainda precisam de destino. Os arrozeiros dizem que, juntos, têm ao menos 5.000 cabeças de gado na região. Até agora, não sabem o que fazer com os animais. Também dizem que ainda falta colher parte do arroz plantado.
A expectativa da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança, que estão na terra indígena, é que a retirada termine de forma pacífica.
Após a saída dos não índios, a próxima pendência a ser resolvida é a convivência entre grupos de índios rivais. Desde o processo de homologação, indígenas ligados ao CIR (Conselho Indígena de Roraima) defendiam que só índios ficassem na área. Já a Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima) apoiava a permanência de não índios.


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