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Arrozeiro pede mais prazo para deixar reserva em RR
Quinta-feira é a data limite dada pelo Supremo para que não índios saiam da Raposa; Polícia Federal diz que retirada será pacífica
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
Apesar do tráfego de caminhões carregados com tratores,
colheitadeiras e outras máquinas agrícolas ter se tornado intenso nos últimos dias na terra
indígena Raposa/Serra do Sol,
Paulo César Quartiero, ex-prefeito de Pacaraima (RR) e rizicultor, diz ser impossível retirar tudo de lá antes de quinta.
"Quero ao menos 45 dias."
Quinta-feira é quando vence
o prazo dado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a não índios e produtores rurais -arrozeiros- para deixar o território. Em março deste ano, a corte confirmou o teor da decisão
do governo federal que, em
2005, homologou como contínua a terra indígena.
Lá, vivem cerca de 18 mil índios, de cinco etnias: macuxi,
uapixana, taurepangue, ingaricó e patamona. Essas etnias reivindicavam a transformação da
área em território indígena havia cerca de 30 anos.
"Já fizemos mais de cem viagens de caminhões da fazenda
para Boa Vista", diz Quartiero
sobre percurso que pode chegar a mais de 200 km. O fazendeiro, que chegou a ser preso no
ano passado após conflito entre
funcionários de sua fazenda e
índios, diz que máquinas e insumos transferidos lotam o terreno de sua empresa, na capital.
Ele afirma também que
"quer tirar tudo que puder" do
interior da reserva. "Vou levar
azulejos, piso, telhado."
A reportagem ouviu outros
dois de cinco produtores de arroz que têm propriedade no interior da terra indígena. Eles
dizem que todas as despesas
com a operação de retirada estão sendo custeadas pelo grupo, "sem ajuda nenhuma do governo federal". Mas evitam falar no valor gasto.
O rizicultor Ivo Barili, por
exemplo, alugou um terreno
em Boa Vista para guardar o
maquinário retirado. Afirma
que ele e seus colegas, que plantavam arroz na Raposa, se tornaram "sem-terra". "Está tudo
jogado no tempo lá no terreno.
Vai apodrecer. Vou entrar para
o movimento dos sem-terra e
acampar em algum lugar."
Barili reclama que ainda não
foram identificadas áreas para
que os rizicultores sejam reassentados. Além disso, o valor da
indenização que eles podem receber pelas benfeitorias em
suas propriedades só deve ser
resolvido após a retirada da população não índia do local.
Outro arrozeiro ouvido pela
Folha, Ivalcir Centenaro conta
que está usando a área de sua
usina de beneficiamento de arroz, em Boa Vista, como depósito. Lá "tem de tudo", diz ele,
de ferro, insumos a máquinas.
Mas não são apenas equipamentos que ainda precisam de
destino. Os arrozeiros dizem
que, juntos, têm ao menos
5.000 cabeças de gado na região. Até agora, não sabem o
que fazer com os animais. Também dizem que ainda falta colher parte do arroz plantado.
A expectativa da Polícia Federal e da Força Nacional de
Segurança, que estão na terra
indígena, é que a retirada termine de forma pacífica.
Após a saída dos não índios, a
próxima pendência a ser resolvida é a convivência entre grupos de índios rivais. Desde o
processo de homologação, indígenas ligados ao CIR (Conselho
Indígena de Roraima) defendiam que só índios ficassem na
área. Já a Sodiur (Sociedade de
Defesa dos Índios Unidos do
Norte de Roraima) apoiava a
permanência de não índios.
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