São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2010

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Institutos divergem sobre metodologia

Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi explicam critérios para seus levantamentos sobre a intenção de voto do brasileiro

Pontos de discordância são a definição do universo pesquisado e a formulação e ordem das perguntas mostradas no levantamento

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

De 30 de março a 18 de abril, o pré-candidato a presidente pelo PSDB, José Serra, apareceu em quatro pesquisas de intenção de voto. Suas taxas variaram de 33% a 38%. No caso da ex-ministra Dilma Rousseff (PT), os percentuais foram de 28% a 32%. A diferença entre o tucano e a petista chegou a ser de um a dez pontos pontos percentuais nesse período.
Há várias razões para essa discrepância entre Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi, os institutos mais conhecidos do país. Entre as mais visíveis estão duas. Primeiro, a data de coleta de dados não foi exatamente a mesma. Segundo, a metodologia usada é diferente entre as quatro empresas.
Há grande divergência entre os institutos a respeito de qual é a melhor forma de coletar dados sobre intenção de votos. A Folha fez uma lista de perguntas e enviou para as quatro empresas detalharem seus procedimentos. A íntegra das respostas pode ser acessada por meio de link no final deste texto.
Os pontos principais de discordância são a definição do universo pesquisado (como escolher o grupo socioeconômico mais representativo do eleitorado) e a formulação e ordem das perguntas apresentadas.
O Datafolha faz sua escolha de universo a ser pesquisado mesclando dados do TSE (número de eleitores existentes em cada cidade) e do IBGE (sexo e faixa etária). "Não usamos cotas para variáveis como escolaridade ou renda familiar mensal pois não há dados atualizados para os municípios brasileiros", diz o diretor-geral do instituto, Mauro Paulino.
Para não ocorrer distorção, o Datafolha controla algumas variáveis (renda e escolaridade) conforme o histórico de sua ampla série pesquisas.
Já o Ibope usa um sistema "de cotas proporcionais em função das variáveis sexo, idade, grau de escolaridade e setor de dependência econômica", diz Márcia Cavallari Nunes, diretora-executiva de Atendimento e Planejamento. Para o diretor do Sensus, Ricardo Guedes, "os dados da divisão socioeconômica geográfica do IBGE representam adequadamente o país". O Vox Populi, de acordo com seu diretor-presidente, João Francisco Meira, "usa os dados censitários do IBGE".

Ordem das perguntas
Apenas um dos institutos abordados nesta reportagem, o Datafolha, começa suas pesquisas sobre eleição presidencial sem "esquentar" o entrevistado. Trata-se do jargão usado no meio para designar as perguntas que oferecem algum tipo de estímulo antes de indagar sobre intenção de voto.
"A ordem das perguntas pode influenciar as respostas dos entrevistados. Dependendo dos assuntos colocados antes da pergunta central da pesquisa, seja ela sobre a aprovação do governo ou confiança no político, a resposta pode ser afetada", diz Mauro Paulino.
Quando faz levantamentos regionais e o contratante pede uma pergunta "quebra-gelo" (outro sinônimo para "esquentar"), o Datafolha escolhe temas que não suscitem um juízo de valor sobre os candidatos.
Numa pesquisa sobre intenção de voto realizada no final de março no Rio Grande do Sul, por exemplo, o Datafolha perguntou qual era o interesse dos entrevistados pelo processo eleitoral. Só depois indagou sobre a intenção de voto. O Ibope há vários anos faz algumas perguntas de "quebra-gelo". No último levantamento sobre voto para presidente, concluído no dia 18, indagou sobre o interesse do entrevistado pelo processo eleitoral e sobre a satisfação em relação "à vida que vem levando hoje".
"É um tema polêmico", diz Márcia Cavallari, do Ibope. "A única forma de comprovarmos se a ordem do questionário faz diferença seria realizarmos duas pesquisas com a mesma metodologia amostral e mesmo período de tempo, apenas com questionários diferentes".
Para Ricardo Guedes, do Sensus, "é lícito ter perguntas que repliquem o processo natural de escolha do eleitor". Pelo seu argumento, na hora do voto, as pessoas fazem algum tipo de reflexão sobre o desempenho do governo. Na pesquisa, portanto, seria natural buscar um comportamento semelhante.
O Sensus foi o único dos quatro institutos cuja pesquisa apontou empate técnico entre José Serra, com 33%, e Dilma Rousseff, com 32%. É também o instituto que faz mais extensivamente perguntas para "esquentar" o entrevistado. No questionário do Sensus, antes de apurar a intenção de voto, o entrevistado é questionado sobre como avalia "o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva". Em seguida, outra pergunta: "Por quê?". Só depois de o entrevistado refletir sobre esse assunto é que vêm as perguntas sobre sua intenção de voto. João Francisco Meira, do Vox Populi, acha que um instituto pode "desejar reproduzir determinada situação que vai influir na hora do voto". Para ele, "o questionário é relevante, mas não existe um jeito mais ou menos correto", afirma.
O Vox Populi faz primeiro a pergunta de intenção de voto com resposta espontânea (sem mostrar os nomes dos pré-candidatos). Mas antes de começar as perguntas com estimulação de resposta (mostrando os nomes de quem vai concorrer), apresenta duas indagações.
A primeira tenta aferir se o entrevistado conhece cada candidato. Em seguida, pergunta sobre cargos ocupados pelos principais políticos na disputa presidencial. O eleitor, portanto, é instado a refletir sobre quem são os candidatos antes de declarar o seu voto.
Há um outro aspecto metodológico a ser considerado: a consistência dos formulários ao longo da série de pesquisas de cada instituto.
No caso do Datafolha, o formulário se mantém inalterado ao longo de todo o processo eleitoral. O instituto também não faz pesquisas para partidos ou para políticos.
Todos as outras empresas de pesquisa aceitam serviços de partidos ou de políticos. E há também pesquisas comparadas como se fossem da mesma série, mas cujos formulários de coleta de dados são diferentes.
No caso das duas pesquisas Sensus deste ano, há diferença nas perguntas formuladas. Em janeiro, o instituto fez o seu tradicional levantamento para a CNT (Confederação Nacional do Transporte) no qual começa a coleta de dados com mais de dez perguntas sobre a situação do país, incluindo as áreas de saúde, emprego, educação, segurança pública e renda. Pergunta sobre a avaliação do governo Lula e só depois passa para o bloco de intenção de voto.
Já em abril, o Sensus fez nova pesquisa -desta vez para um sindicato de São Paulo. As perguntas prévias foram apenas sobre preferência partidária e avaliação do governo Lula, mas com uma novidade: pedia ao entrevistado que elaborasse uma resposta sobre a razão de aprovar ou desaprovar a administração do petista. É nesse levantamento que Serra e Dilma surgiram empatados.

FOLHA ONLINE

Leia a íntegra das respostas dos institutos

www.folha.com.br/1011327


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