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PITTAGATE
Companhia Yukon River, citada por ex-primeira-dama de SP, existe em paraíso fiscal e possui conta bancária em Nova York
Pitta é sócio de Nahas no Caribe, diz Nicéa
KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL
MALU GASPAR
DE NOVA YORK
O prefeito Celso Pitta e o especulador financeiro Naji Nahas são
sócios numa empresa chamada
Yukon River nas Ilhas Virgens
Britânicas, disse à Folha Nicéa
Pitta, ex-primeira-dama de São
Paulo. O jornal confirmou a existência de uma Yukon River Ltd.
nas Ilhas Virgens (um conhecido
paraíso fiscal do Caribe) e descobriu uma conta de empresa homônima no MTB Bank de Nova
York, cujo número é 70.245.
Segundo Nicéa, Pitta e Nahas
mencionaram o nome da empresa "várias vezes" no apartamento
do prefeito. "Eu percebia que falavam de dinheiro de empresas que
foram recebendo e depositando
na conta dessa empresa."
Além de Nicéa, pessoas com negócios na Prefeitura de São Paulo
disseram à Folha, com a condição
de não ter o nome revelado, que a
empresa Yukon River faria parte
de um suposto esquema de propina para Pitta e Nahas.
A Folha depositou um cheque
de US$ 81,03 na conta da Yukon
River em Nova York. A princípio,
o MTB recusou o depósito, alegando que só poderia ser feito
com autorização do correntista,
mas depois o aceitou.
O MTB, que está sob investigação judicial nos Estados Unidos
acusado de lavagem de dinheiro e
outros crimes financeiros, foi
vendido para o Commercial Bank
of Connecticut. O presidente dessa instituição, Donald Weaang,
confirmou que a Yukon River é
correntista, mas se recusou a informar quem são seus proprietários ou diretores, bem como o endereço e o telefone da empresa:
"Nunca faria isso. Somos obrigados por lei a manter o sigilo".
Nicéa contou que o filho de Naji
Nahas, o empresário Fernando
Nahas, costumava levar envelopes ao apartamento de Pitta após
o trabalho. Um dia teria deixado
com ela um envelope para Pitta.
Segundo Nicéa, enquanto o prefeito tomava banho, ela abriu o
envelope e viu o nome Yukon River em papel timbrado. "O Fernando é que faz a parte de documentação." A ex-primeira-dama
declarou que as visitas de Nahas e
de seu filho aconteceram a partir
do final de 98. "Foi depois que o
Maluf perdeu a eleição (para governador) que o Nahas veio mesmo com frequência aqui."
Segundo Nicéa, Pitta e Naji Nahas tiveram uma discussão. O
prefeito teria dito: "Você colocou
o seu filho nessa (na Yukon River). Quero saber como é que você vai se sair?". Para ela, foi uma
"ameaça" caso algo vazasse.
Em um mês e meio de apuração, a Folha obteve a informação
de que o nome inteiro da empresa
é Yukon River Ltd. e que ela receberia propina do suposto esquema do lixo em São Paulo.
A Yukon River Ltd. é das Ilhas
Virgens Britânicas, um paraíso
fiscal. Tem o número 2.953 no registro público daquele país. Criada em 23 de fevereiro de 1987, o
capital social é de US$ 50.000,00.
O registro público não dá o nome dos proprietários e diretores
da empresa. Fornece apenas o
agente financeiro que criou a
companhia. No caso, foi a Insinger Corporate Formation Ltd.
A Insinger confirmou que a Yukon River Ltd. é sua cliente, mas
se recusou a dar os nomes dos donos e da diretoria, alegando sigilo.
Nas Ilhas Virgens Britânicas,
um paraíso fiscal, a lei permite
que se esconda o verdadeiro dono
de uma empresa ou de uma conta.
A Yukon River é um tipo de "offshore" (qualquer empresa criada
no exterior) aberta por pessoas físicas ou jurídicas interessadas em
camuflar a sua propriedade, a fim
de não pagar impostos no país de
origem ou esconder dinheiro com
origem legal ou ilegal.
Raramente, a polícia internacional chega aos donos verdadeiros.
Com base nas informações de
Nicéa, a Folha apurou qual seria
um dos supostos roteiros para remessa de dinheiro que teria sido
desviado irregularmente da coleta
de lixo em São Paulo. O dinheiro
sairia da América do Sul (Brasil
ou Argentina), iria para um ou
dois paraísos fiscais (Panamá e
Ilhas Virgens Britânicas, por
exemplo), seguiria para os Estados Unidos (onde é aplicado e "lavado") e retornaria aos paraísos
fiscais.
No caso da Yukon River, a conta
no MTB seria uma conta de passagem de dinheiro que precisa ser
limpo (leia-se: encontrar uma forma de justificar a procedência).
Coincidentemente, o banco está
sendo investigado nos Estados
Unidos, entre outros motivos, por
fraude financeira na Argentina.
Um das empresas de São Paulo
que trabalham na coleta de lixo é a
Enterpa, vendida para o grupo
Macri, da Argentina. A Folha
apurou que parte da suposta propina do lixo sairia da Argentina.
O deputado federal Aloizio
Mercadante (PT-SP), que investiga o "esquema do lixo" em São
Paulo, disse que chegou ao nome
de Naji Nahas como o principal
intermediário entre a prefeitura e
empreiteiros. "Investigo exigências que o Naji Nahas teria feito a
empresas para o pagamento de
dívidas atrasadas da prefeitura
com o setor e exigências quanto
ao contrato da licitação futura para a coleta de lixo em São Paulo",
afirmou Mercadante.
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