São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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CESTA DE INCERTEZAS

Proximidade das eleições provoca apreensão em famílias que recebem ajuda do governo

Miseráveis temem fim dos benefícios

Jarbas Oliveira/Folha Imagem
Ao lado dos seus quatros filhos, Maria Granjeiro da Costa, que sustenta a família com os R$ 30 que recebe do bolsa-escola


KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CARIDADE

A proximidade das eleições é motivo de apreensão para as famílias cadastradas nos programas sociais do governo federal. Muitas temem perder os benefícios que recebem, frequentemente seu único sustento.
No distrito de Campos Belos, no município de Caridade, a 75 km de Fortaleza, a maioria das famílias sobrevive exclusivamente desses programas. Perderam parte da safra agrícola por causa da seca, no início do ano, e outra parte por uma enchente que atingiu a região há um mês.
O distrito não tem comércio nem indústrias. As casas são feitas de taipa (barro), sem sistema de água encanada ou esgoto.
No município, 1.187 crianças recebem o bolsa-escola e o auxílio-gás, outras 681 famílias estão cadastradas para receber os R$ 15 do bolsa-renda, dinheiro que não é entregue pelo governo federal há quatro meses.
"Parece que o governo decidiu acabar com o bolsa-renda porque choveu. Só não sabe que, como choveu demais, o feijão apodreceu", disse Eliane Souza Santos, 23, mãe de três filhos, que recebe o bolsa-escola apenas do mais velho, adotivo, de 12 anos.
A família de Eliane sobrevive com os R$ 15 desse benefício, os R$ 15 do auxílio-gás, depositados a cada dois meses, e a ajuda de parentes e vizinhos. Quando chega o bolsa-renda, são mais R$ 15. Eliane diz ter medo de que o próximo presidente acabe com todos os benefícios. "A gente sabe que isso tudo só foi criado para as eleições", disse a dona-de-casa. "Ninguém consegue enganar mais a gente, não. Agora, só escuto no rádio que o próximo presidente vai é acabar com tudo. Será que vai mesmo?"
Lúcia Maria Granjeiro da Costa, 36, também tem medo de perder o benefício. Ela sustenta os quatro filhos com os R$ 30 que recebe mensalmente do bolsa-escola das duas crianças mais velhas -de 13 e de 8 anos. O marido está desempregado e perdeu a colheita.
Apesar do medo, a dona-de-casa não sabe nem quem são os pré-candidatos. "Escuto muito falar nesse (José) Serra", disse.
Enquanto a política nacional não é muito conhecida na região, a local é estampada dentro das casas de cada família: fotos de vereadores e do prefeito, bonés e calendários com dedicatórias de políticos dividem com imagens de artistas a decoração.
A maioria dos moradores de Campos Belos acredita que o responsável pelo cadastramento de todos nos programas sociais é o prefeito Júnior Tavares (PSDB), considerado "gente muito boa". FHC e Serra não são vistos como responsáveis.
O medo de perder o dinheiro do bolsa-escola faz com que as famílias mantenham as crianças na escola, mesmo tendo de cruzar a BR-020 e caminhar mais seis quilômetros.
Na casa de Ivoneide Firmino de Sousa, 26, a renda restringi-se aos R$ 15 do bolsa-escola de seu filho mais velho, de nove anos, aos R$ 15 do auxílio-gás e aos R$ 15 do bolsa-renda, quando liberados pelo governo. Quando tem roupa para lavar, ganha ainda cerca de R$ 10 ao mês.


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