São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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DE VOLTA AO NINHO

Aliança presidencial seria o embrião de união de partidos

PSDB e PMDB estudam futura fusão

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fundado por dissidentes peemedebistas em 1988, o PSDB e o PMDB têm planos de transformar a aliança presidencial de 2002 no embrião de uma futura fusão entre os dois partidos se o tucano José Serra for eleito presidente da República.
Em conversas reservadas, Serra e o presidente do PMDB, o deputado federal Michel Temer (SP), consideram inevitável desencadear uma reforma partidária em 2003 dando o pontapé inicial com a fusão tucano-peemedebista.
Entre os motivos que facilitaram a reaproximação PSDB-PMDB estão a morte de Ulysses Guimarães, em 1991, e a derrocada política de Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo. Quércia, hoje, integra a minoria da sigla e namora com o PT e com o próprio PSDB, tentando voltar ao Senado para deixar o segundo plano da política paulista.
O PSDB nasceu de uma dissidência do PMDB em 1988. Naquela época, políticos como Serra e Fernando Henrique Cardoso condenavam a hegemonia no partido de Quércia, então governador de São Paulo. O motivo principal para deixar o PSDB foi a falta de espaço na política paulista. Além disso, a discordância moral em relação a Quércia foi uma causas da cisão.
Uma das vozes mais fortes contra o quercismo era Mário Covas, governador paulista morto em 2001 e espécie de consciência política do tucanato. Ele impediu, por exemplo, a adesão de FHC a Fernando Collor de Mello.
Ironicamente, o apoio de Covas ao cearense Tasso Jereissati para candidato a presidente -e não ao paulista Serra- foi decisivo para a formação da aliança PMDB-PSDB. Isso aconteceu no segundo semestre de 2000, quando ficou claro para Serra que a melhor opção para vencer Tasso seria se aliar ao PMDB e pôr em segundo plano as pontes com o PFL.
Além do apoio de Covas, Tasso tinha a preferência do PFL, à época o parceiro preferencial de FHC e tido pelos tucanos como mais confiável do que o PMDB.
A primeira medida de Serra foi rifar a promessa de apoio ao PFL para presidir a Câmara e fazer um acordo de divisão das duas Casas do Congresso com o PMDB a partir de 2001. Serra, à época ministro da Saúde, apoiou o então líder do PSDB na Câmara, Aécio Neves, para presidente da Casa em troca do apoio a um peemedebista para comandar o Senado. Se Tasso era o que podia trazer o PFL para uma aliança, Serra traria o PMDB.

Apoio presidencial
FHC foi fundamental para compensar o forte apoio de Covas a Tasso. O presidente colocou fichas na candidatura Serra, espalhando que ele era o seu preferido.
Após derrotar o PFL na disputa congressual, PMDB e PSDB continuaram se afinando. Nessa altura, o crescimento da pré-candidatura da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), ajudou Serra. Ao subir nas pesquisas, Roseana minava a chance de Tasso atrair o PFL, o que fortaleceu Serra.
Em 13 de janeiro deste ano, cinco dias antes de Serra assumir publicamente a pré-candidatura, veio o convite que simbolizaria a união prioritária com o PMDB.
Tomando café num domingo na casa de Temer, vizinho de Serra no bairro paulistano do Alto de Pinheiros, o tucano ofereceu a vaga de vice ao partido e fez uma confidência. Disse não vislumbrar mais chance de acordo com o PFL, cuja pré-candidata viria a abandonar a disputa em abril.
Ficou combinado que os peemedebistas sepultariam a candidatura própria e que Serra trabalharia para que FHC e os tucanos aceitassem trocar de vez o PFL pelo PMDB como parceiro preferencial do PSDB. É esse acordo que será oficializado na pré-convenção de 15 de junho dos dois partidos.


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