UOL

São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARCO DE ALIANÇAS

Semana deve selar adesão de PMDB e PP à base do governo

Lula atrai centro e direita para ter apoio às reformas

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva consolida nesta semana duas articulações que atraem forças políticas tidas como de centro e de direita para sua base de apoio no Congresso. Objetivo: garantir votos suficientes para aprovar as reformas tributária e previdenciária, sua prioridade legislativa.
Amanhã, a Executiva do PMDB deve oficializar, após idas e vindas, aliança com o governo. A assessoria de Lula também deverá marcar para o mesmo dia um almoço do presidente com 35 dos 45 deputados federais do PP. Esses 35 pediram o encontro para hipotecar apoio legislativo a Lula.
Na conta da Casa Civil, o êxito dessas costuras dará a Lula algo entre 350 e 360 votos na Câmara. Para aprovar as reformas, são necessários 308 (60% dos 513 deputados federais), em dois turnos de votação. Estão incluídas nesse cálculo defecções dos tradicionais aliados de Lula e do próprio PT, além de adesões pontuais dos oposicionistas PSDB e PFL.
Historicamente, há alto valor simbólico na adesão quase total de PMDB e PP. Na prática, trata-se de aliança ao centro e à direita com os herdeiros de forças políticas que foram adversárias no regime militar instaurado em 1964.
O PMDB vem do antigo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), agremiação que se opunha aos militares. O PP (ex-PPB) é um herdeiro da Arena (Aliança Renovadora Nacional), o braço legislativo do regime de exceção.
Segundo o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), a reunião da Executiva decidirá pelo "apoio congressual definitivo ao governo". Ele diz que é "um apoio mais compromissado e que facilitará a aprovação das reformas".
Na eleição, 30% do PMDB ficou com Lula. Os outros 70%, incluído o grupo de Temer, apoiaram o tucano José Serra. Após a eleição, Lula conquistou o partido aos poucos, graças à decisiva e hábil ação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e aos cargos oferecidos à legenda.
Sarney rachou aos poucos o grupo que apoiava o governo FHC. Primeiro, conquistou Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado. Depois, Eunício Oliveira (CE), líder do PMDB na Câmara. Por último, levou Temer a se render: os rebeldes hoje não somam mais do que 10 dos 68 deputados do PMDB.
A reunião da Executiva também servirá para o desencadeamento prático das nomeações prometidas aos peemedebistas para postos de segundo e terceiro escalão. Renan levará a Transpetro, subsidiária da Petrobras, que será entregue a um ex-senador a ele ligado. O governo também oferece diretorias de bancos e estatais.
"Ministério não é algo para já, mas para o futuro, segundo o ministro José Dirceu", diz Temer. Provavelmente, o PMDB ganhará uma ou duas pastas na reforma que deve sair em dezembro.
O encontro de Lula com 35 deputados do PP servirá para atender a um pleito desses parlamentares. Segundo o presidente do partido, Pedro Corrêa (PE), "esses 35 querem dizer ao presidente que apoiarão o seu governo".
Corrêa quase conseguiu levar todo o PP para o governo, mas enfrentou um pequena rebelião. "O partido preferiu respeitar a posição de independência de uma parcela minoritária", afirma o presidente do PP.

CCJ e depois
Nesta semana, as reformas tributária e previdenciária entram em fase final de tramitação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara. O relatório da proposta tributária deverá começar a ser votado na quinta. O relatório da previdenciária deverá ser apresentado, com votação prevista para a próxima semana.
Concluídos os trabalhos da CCJ, as propostas vão para as comissões especiais, que deverão examiná-las no prazo de 60 dias. Só então as reformas seguem para votação em plenário.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Parabolicamará: Mercadante é evasivo sobre Dirceu
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.