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MÁQUINA PETISTA
Após quase cinco meses, Fazenda mantém 159 funcionários da gestão FHC entre os 254 cargos mais importantes
Governo ainda não ocupou 30% dos cargos
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Às vésperas de completar cinco
meses, o governo Luiz Inácio Lula
da Silva ainda tem três em cada
dez cargos responsáveis por decisões no Executivo vagos ou ocupados por remanescentes da era
Fernando Henrique Cardoso.
Cerca de 22% do chamado alto escalão é formado por pessoas que
não foram exoneradas nem confirmadas nos cargos, e há mais 149
vagas (8%) num universo de
1.781.
A maior concentração de autoridades vindas do governo Fernando Henrique Cardoso encontra-se no Ministério da Fazenda.
Dos 254 cargos importantes, 159
ainda têm os mesmos ocupantes
do governo FHC. O índice de renovação foi de apenas 33%.
E essa "renovação" leva em conta pessoas que apenas trocaram
de cargo de um governo para outro, como Jorge Rachid, que passou de secretário-adjunto a secretário da Receita Federal, e Joaquim Levy, transferido da assessoria econômica do Ministério do
Planejamento para a Secretaria do
Tesouro Nacional.
O percentual é o mesmo registrado até aqui no Ministério das
Relações Exteriores. Dos 102 cargos de alto escalão, 65 ainda apresentam os mesmos ocupantes do
governo FHC.
Perdeu recentemente a liderança nesse ranking o Ministério dos
Transportes. Nas últimas três semanas, a renovação pulou de 25%
para 48%. O ministro Anderson
Adauto diz que não há ninguém
do governo passado em postos estratégicos. A maioria dos que permanecem ocupa cargos técnicos,
segundo ele, mas pelo menos seis
pessoas devem ser substituídas.
Estratégia
Para a Casa Civil, que supervisiona o preenchimento dos cargos, o atraso nas substituições deve-se a uma decisão estratégica no
caso do Ministério dos Transportes. Como a área concentrava o
maior volume de denúncias de
corrupção no governo passado, o
ministério foi considerado "área
minada". Daí as nomeações serem feitas com mais cautela.
"A solução será mais demorada,
mas a grande maioria não vai ficar", adiantou Swedenberger do
Nascimento Barbosa, secretário-executivo da Casa Civil. O prognóstico é diferente para o Ministério da Fazenda: a maioria dos remanescentes fica.
Os ocupantes já confirmados do
"alto escalão" representam, por
ora, 70% dos postos. A renovação
foi recorde na Secretaria Geral da
Presidência e na Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.
Ela também foi alta na equipe do
gabinete presidencial, na Casa Civil e no Ministério da Cultura, um
dos ministérios que mais têm dificuldade para fazer deslanchar os
investimentos previstos no Orçamento, segundo registros do Siafi
(sistema informatizado de acompanhamento de gastos federais).
Ao todo, a administração pública federal dispõe de aproximadamente 20 mil cargos de confiança.
O levantamento sobre a dança de
cadeiras no alto escalão foi feito
pela Patri, empresa que edita há
mais de dez anos o "Dicas de Brasília", guia de autoridades do país.
O maior número proporcional
de cargos vagos encontra-se no
Ministério do Esporte, com 23
dos 35 cargos mais altos à espera
de nomeação.
O trabalho de preenchimento
dos cargos "não tem pressa e pode demorar mais 30, 60 ou 90
dias", disse Swedenberger Barbosa. A regra vale também para as
representações dos órgãos federais nos Estados e para as empresas estatais, cujas nomeações podem demorar ainda mais tempo.
O ritmo de Lula não é mais lento
do que o de George W. Bush, por
exemplo. Quando o presidente
norte-americano tomou posse
depois de oito anos de mandato
do democrata Bill Clinton, o trabalho de ocupação da máquina
pelos republicanos durou seis
meses. Mas as indefinições, assim
como o alto índice de renovação
em algumas áreas, podem ajudar
a explicar o pequeno volume de
investimentos e a demora em algumas decisões de política microeconômica, por exemplo, das
quais dependem investimentos
produtivos no país em 2004. Até
10 de maio, o governo Lula só havia liberado 0,75% dos investimentos programados para 2003.
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