São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2006

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Lula e Chirac evidenciam impasse em exportações

Brasileiro pede mais concessões, mas francês diz ter feito 'tudo o que podia'

Presidente da França espera maior compromisso dos Estados Unidos e abertura brasileira para produtos industrializados e serviços


Sérgio Lima/Folha Imagem
O presidente francês, Jacques Chirac, assiste a apresentação da Esquadrilha da Fumaça com Lula e a primeira-dama, Marisa


EDUARDO SCOLESE
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Lado a lado no Palácio da Alvorada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o colega francês, Jacques Chirac, demonstraram ontem a intensidade do impasse nas negociações da Rodada Doha de comércio internacional. Para Lula, chegou a hora de líderes tomarem decisões políticas. Já Chirac assegurou que a União Européia e a França já concederam "tudo o que podiam" no setor agrícola.
O presidente francês, na verdade, espera hoje maior compromisso dos EUA e abertura brasileira para produtos industrializados e serviços.
Em entrevista, os dois apresentaram versões conflitantes para a situação. Chirac disse que há a falsa impressão de que a Europa é fechada para produtos agrícolas de países emergentes. Citou números para defender a França: vende aos latinos anualmente US$ 400 milhões, compra US$ 2,5 bilhões.
"Está errado falar que a Europa é um mercado fechado. Não é possível falar em dificuldades de exportação da América Latina para a Europa. [...] A Europa fez tudo o que podia fazer e, honestamente, não tem mais condições de dar outros passos, a não ser que outras pessoas mudem", insistiu, em referência direta aos EUA.

Concessões
Minutos depois, foi a vez de Lula contra-atacar diplomaticamente. "Todo mundo acha que fez o que podia fazer, que deu o que podia conceder. [...] O Brasil está disposto, junto com o G20 [grupo de países em desenvolvimento que luta pela abertura da agricultura mundial], a fazer as concessões possíveis para que haja um acordo. Os americanos têm que fazer suas concessões, porque o subsídio nos EUA é muito alto e cria um desequilíbrio no comércio agrícola no mundo, e a Europa pode fazer mais concessões de acesso a mercado."
Desde que percebeu que os diálogos empacaram, Lula tenta obter compromissos de líderes dos países desenvolvidos, em vez de pressionar negociadores na OMC (Organização Mundial do Comércio). Disse já ter abordado os líderes de Reino Unido, Alemanha, EUA e Espanha e que pretende expor a idéia ao G8 (os sete países mais ricos e a Rússia) em julho.
Um acordo satisfatório, segundo Lula, seria os países mais pobres ganharem "um pouquinho", os emergentes "empatarem" e os mais ricos fazerem uma "pequena concessão".


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