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Juiz transforma Protógenes em réu por vazar Satiagraha
Mazloum pede que Paulo Lacerda, ex-diretor da Abin, seja incluído em processo
Delegado afastado da PF é acusado ainda de cometer
fraude processual ao editar
fitas usadas em ação contra banqueiro por suborno
DA REPORTAGEM LOCAL
O juiz da 7ª Vara Federal de
São Paulo, Ali Mazloum, aceitou ontem denúncia do Ministério Público Federal e transformou em réu o delegado Protógenes Queiroz, hoje afastado
da Polícia Federal.
Com a decisão, Protógenes
será julgado por crimes de vazamento de informação sigilosa e fraude processual durante
a Operação Satiagraha, que
prendeu o banqueiro Daniel
Dantas em julho de 2008.
A decisão já era esperada. De
novo, trouxe o pedido de que
Paulo Lacerda, ex-diretor da
Abin (Agência Brasileira de Inteligência), seja denunciado pela Procuradoria Geral da República pela participação da Abin
na Satiagraha.
Ao contrário do Ministério
Público Federal, que pediu arquivamento do inquérito que
investiga a participação da
Abin, Mazloum considerou ilegal e "clandestina" a participação dos agentes e disse que a
atuação de Lacerda foi muito
mais ativa do que se imaginava.
Para o juiz, houve crimes de
quebra de sigilo e usurpação de
função pública.
Segundo Mazloum, "verifica-se a existência de quase uma
centena de telefonemas entre
ele [Protógenes] e Paulo Lacerda" nas semanas que antecederam a prisão de Dantas.
Por conta desses telefonemas e da participação ilegal da
Abin na operação da PF,
Mazloum pediu que o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, denuncie
Lacerda criminalmente.
"Engajamento"
Mazloum registra ainda em
sua decisão a existência de vários telefonemas entre Protógenes, o juiz do caso, Fausto De
Sanctis, e o procurador da República Rodrigo de Grandis.
Esses telefonemas teriam ocorrido no período da investigação
e entre o primeiro e o segundo
pedido de prisão de Dantas.
Os contatos, segundo o juiz,
devem ser investigados pelos
conselhos nacionais de Justiça
e do Ministério Público. Para
Mazloum, o Judiciário tem o
dever de controlar excessos da
PF "e deve exercê-lo sem engajamento no processo".
De Grandis não comentou a
decisão porque não teve acesso
aos autos. O juiz De Sanctis
também não quis se manifestar
sobre o caso ontem.
Vazamento
A decisão do juiz afirma haver indícios fortes de que Protógenes, responsável por investigar Dantas, cometeu crime ao
ter convidado produtores da
TV Globo para filmar secretamente o encontro de um policial com dois intermediários de
Dantas, que haviam oferecido
propina para o banqueiro ser
excluído do inquérito.
Repórteres acompanharam
também, no dia da deflagração
da Satiagraha, a prisão de investigados, entre eles Dantas, o
investidor Naji Nahas e o ex-prefeito Celso Pitta.
Entre outras evidências de
vazamentos, Mazloum cita novamente "centenas" de telefonemas, que não haviam sido divulgados, entre Protógenes e
jornalistas. "Cerca de cem" deles teriam sido com a jornalista
Andréa Michael, da Folha. A
repórter afirma que os telefonemas nunca ocorreram.
Outros 50 deles seriam conversas entre os celulares do delegado e as empresas de outros
dois personagens: o empresário Luis Roberto Demarco Almeida e o jornalista Paulo Henrique Amorim. Ex-sócio de
Dantas no banco Opportunity,
Demarco é hoje um dos principais desafetos do banqueiro.
Segundo o pedido do Ministério Público Federal aceito
por Mazloum, ao confiar em
jornalistas que não têm o compromisso de sigilo, Protógenes
colocou em risco a integridade
da operação. A pena para este
crime é de seis meses a dois
anos de prisão ou multa.
O juiz entendeu que o crime
de fraude processual ocorreu
com a edição da filmagem anexada ao processo, quando foram cortadas cenas em que os
jornalistas apareciam no reflexo de um espelho. A pena pode
variar entre seis meses e quatro anos de prisão.
Além de Protógenes, foi aceita denúncia contra o escrivão
Amadeu Ranieri Bellomusto. A
partir da intimação, os réus
têm dez dias para apresentar
uma resposta.
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