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FHC critica "tripas expostas" a todo instante
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso classificou ontem o
momento econômico e político do
país de "denso" e questionou se o
Brasil, a todo instante, precisa ver
"suas tripas expostas por CPIs,
porque os caminhos normais não
permitem que essas mesmas tripas
sejam expostas".
FHC disse ainda que "forças"
com "paixão política" estão sempre prontas a tentar desestabilizar
o governo e a economia.
As afirmações foram feitas ontem pela manhã, em tom grave,
durante evento realizado na CNI
(Confederação Nacional da Indústria). FHC não se referiu diretamente à reportagem publicada ontem pela Folha, mostrando que o
presidente tomou partido de um
dos consórcios no leilão da Telebrás, em julho do ano passado.
"(A economia) já está encarrilhada. Temos de evitar que outras forças a desencarrilem. Elas estão todas aí, prontas para descarrilar, na
paixão política, imaginando que
ao descarrilá-la em algum momento terão vantagens. Não terão.
Todos perderemos", disse FHC.
No discurso, o presidente afirmou deixará de manter o controle
sobre o país. "Nós teremos a força
suficiente, o discernimento, a firmeza, a serenidade e também a
energia para manter a economia e
o país nos trilhos que nos levem ao
crescimento e ao progresso".
Na crítica que fez às CPIs, FHC
lamentou o fato de haver o impedimento legal para que a Receita Federal faça a quebra de sigilo bancário, mesmo em casos "com indícios veementes" de sonegação de
impostos, e que seja necessário recorrer às Comissões Parlamentares de Inquérito para esse fim.
"Falsos problemas"
FHC defendeu que haja no país
um sentimento de amor próprio,
isento de "falsos problemas" e de
"paixões políticas", para dar sequência ao crescimento do país.
"É preciso que cada vez mais
exista uma coesão moral, que não
se deixe minar por falsos problemas nem pelas paixões políticas,
mas que se deixe levar adiante pelo
amor ao Brasil", afirmou. "E não
venham dizer que eu sou otimista.
Já cansei de encarar o otimismo
como se fosse algo negativo -é
positivo, o Brasil é otimista e vai
crescer. Precisa crescer."
O presidente disse que é preciso
coragem "para saltar os obstáculos" e que não se pode ficar criando outras dificuldades além das
existentes, "que já são muitas".
FHC citou alguns projetos de lei
em tramitação no Congresso que
possibilitarão ao governo ter
maior controle sobre a arrecadação de impostos, que seriam na
prática uma antecipação de alguns
pontos da reforma tributária.
"Por que não temos a coragem de
mostrar que é preciso haver algum
tipo de informação fiscal naqueles
casos em que há indícios veementes de sonegação? (...) Ou será necessário que a todo instante nós tenhamos o Brasil vendo suas tripas
expostas por CPIs, porque os caminhos normais não permitem
que essas mesmas tripas sejam expostas (...) e corrigidas adequadamente antes?", questionou FHC.
Segundo ele, "sabe Deus se depois da exposição (as falhas) serão
corrigidas ou se a exposição foi na
verdade feita por parte daqueles
que mereciam tê-las (as próprias
tripas) expostas". FHC disse ainda
que, em alguns casos, as investigações acabam sendo "vítimas de algum exibicionismo eventual", mas
que cabe ao Congresso "a ponderação" para evitá-lo.
Outro projeto defendido por
FHC é o que estabelece limites de
prazo para liminares concedidas
contra pagamento de impostos.
"Quem não se estarreceu ao ouvir
que, por causa de liminares, nós temos a receber mais de R$ 30 bilhões?", questionou o presidente.
FHC classificou ainda de "frívolas" as discussões que estão sendo
travadas por setores do governo
das vantagens da estabilidade e do
desenvolvimento. "Não existe
crescimento sustentado sem estabilidade, e a estabilidade, só por
ela, não resolve os anseios do povo."
(WILLIAM FRANÇA)
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