São Paulo, Quarta-feira, 26 de Maio de 1999
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FHC critica "tripas expostas" a todo instante

da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso classificou ontem o momento econômico e político do país de "denso" e questionou se o Brasil, a todo instante, precisa ver "suas tripas expostas por CPIs, porque os caminhos normais não permitem que essas mesmas tripas sejam expostas".
FHC disse ainda que "forças" com "paixão política" estão sempre prontas a tentar desestabilizar o governo e a economia.
As afirmações foram feitas ontem pela manhã, em tom grave, durante evento realizado na CNI (Confederação Nacional da Indústria). FHC não se referiu diretamente à reportagem publicada ontem pela Folha, mostrando que o presidente tomou partido de um dos consórcios no leilão da Telebrás, em julho do ano passado.
"(A economia) já está encarrilhada. Temos de evitar que outras forças a desencarrilem. Elas estão todas aí, prontas para descarrilar, na paixão política, imaginando que ao descarrilá-la em algum momento terão vantagens. Não terão. Todos perderemos", disse FHC.
No discurso, o presidente afirmou deixará de manter o controle sobre o país. "Nós teremos a força suficiente, o discernimento, a firmeza, a serenidade e também a energia para manter a economia e o país nos trilhos que nos levem ao crescimento e ao progresso".
Na crítica que fez às CPIs, FHC lamentou o fato de haver o impedimento legal para que a Receita Federal faça a quebra de sigilo bancário, mesmo em casos "com indícios veementes" de sonegação de impostos, e que seja necessário recorrer às Comissões Parlamentares de Inquérito para esse fim.

"Falsos problemas"
FHC defendeu que haja no país um sentimento de amor próprio, isento de "falsos problemas" e de "paixões políticas", para dar sequência ao crescimento do país.
"É preciso que cada vez mais exista uma coesão moral, que não se deixe minar por falsos problemas nem pelas paixões políticas, mas que se deixe levar adiante pelo amor ao Brasil", afirmou. "E não venham dizer que eu sou otimista. Já cansei de encarar o otimismo como se fosse algo negativo -é positivo, o Brasil é otimista e vai crescer. Precisa crescer."
O presidente disse que é preciso coragem "para saltar os obstáculos" e que não se pode ficar criando outras dificuldades além das existentes, "que já são muitas".
FHC citou alguns projetos de lei em tramitação no Congresso que possibilitarão ao governo ter maior controle sobre a arrecadação de impostos, que seriam na prática uma antecipação de alguns pontos da reforma tributária.
"Por que não temos a coragem de mostrar que é preciso haver algum tipo de informação fiscal naqueles casos em que há indícios veementes de sonegação? (...) Ou será necessário que a todo instante nós tenhamos o Brasil vendo suas tripas expostas por CPIs, porque os caminhos normais não permitem que essas mesmas tripas sejam expostas (...) e corrigidas adequadamente antes?", questionou FHC.
Segundo ele, "sabe Deus se depois da exposição (as falhas) serão corrigidas ou se a exposição foi na verdade feita por parte daqueles que mereciam tê-las (as próprias tripas) expostas". FHC disse ainda que, em alguns casos, as investigações acabam sendo "vítimas de algum exibicionismo eventual", mas que cabe ao Congresso "a ponderação" para evitá-lo.
Outro projeto defendido por FHC é o que estabelece limites de prazo para liminares concedidas contra pagamento de impostos. "Quem não se estarreceu ao ouvir que, por causa de liminares, nós temos a receber mais de R$ 30 bilhões?", questionou o presidente.
FHC classificou ainda de "frívolas" as discussões que estão sendo travadas por setores do governo das vantagens da estabilidade e do desenvolvimento. "Não existe crescimento sustentado sem estabilidade, e a estabilidade, só por ela, não resolve os anseios do povo." (WILLIAM FRANÇA)


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