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Fita contradiz depoimento de Mendonça
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
As 46 fitas com gravações de telefones grampeados na presidência
do BNDES, publicadas em parte
ontem pela Folha, põem por terra
o depoimento que o ex-ministro
das Comunicações Luiz Carlos
Mendonça de Barros prestou ao
Ministério Público Federal, no inquérito que investiga suspeita de
improbidade administrativa na
privatização da Telebrás.
As fitas também contradizem informações prestadas nos depoimentos de André Lara Resende
(ex-presidente do BNDES), José
Pio Borges (atual presidente do
BNDES) e Pérsio Arida.
Em dezembro do ano passado,
Mendonça -que recentemente
foi eleito vice-presidente do PSDB,
partido do presidente da República- disse aos procuradores da
República que "não tomou nenhuma providência" para aproximar a
Previ do Opportunity e que se limitou a acompanhar o desenrolar
dos fatos, "respeitando a autonomia de decisão da Previ".
Nas fitas, no entanto, o ex-ministro fala como se agisse intensamente em favor do consórcio liderado pelo Opportunity.
Na véspera do leilão, telefonou
ao então presidente da Previ, Jair
Bilachi, e o colocou na linha com
Pérsio Arida, na época presidente
do Opportunity.
Em seguida, retomou o aparelho
e disse a Bilachi: "O importante para nós é que montem com o Pérsio,
evidentemente chegando a um
acordo. E tudo que precisar, aqui,
nós ajudamos, entendem? Vocês
precisam se entender".
No depoimento, Mendonça confirmou ter telefonado a Bilachi, na
véspera do leilão, por volta da hora
do almoço, mas negou ter conversado sobre dificuldades do Opportunity em obter carta de fiança do
Banco do Brasil.
Novamente, as fitas contradizem
o ex-ministro. No telefonema, ele
afirma, explicitamente: "E agora
nós estamos com esse probleminha (...) que é o problema da carta
de fiança, né? Esse negócio de o
Banco do Brasil, não quero entrar
no mérito deles lá, mas é chato
agora, no meio da tarde, dizer que
não vai dar, né?".
Reunião
Existem mais contradições entre
o que mostram as fitas e o depoimento do ex-ministro. Ele disse
que se ocupava mais dos consórcios interessados na compra da
Embratel, enquanto Lara Resende
e Pio Borges cuidavam do Opportunity. Nas fitas, entretanto, fica
apenas explícito o empenho de
Mendonça de Barros pelo Opportunity.
Mais ainda: o ex-ministro disse
que não participou, na véspera do
leilão, de nenhuma reunião com
representantes de consórcios interessados. No entanto, estava reunido com Pérsio Arida, na presidência do BNDES, no momento
em que ligou para Jair Bilachi, então presidente da Previ.
Vários telefonemas comprovam
que ele viajou incógnito ao Rio para uma reunião com representantes de consórcios interessados na
Telemar, na sede do BNDES.
Em uma de suas conversas grampeadas na véspera do leilão, Mendonça determinou a José Pio Borges: "Chama uma reunião pra 19h
aí, hoje, e nós vamos fechar daquele jeito que só nós sabemos fechar".
Para despistar a imprensa, mandou dizer que iria ao Rio apenas
para visitar uma tia, em Jacarepaguá, zona oeste da cidade.
"Bomba atômica"
Indagado pelos procuradores sobre o significado da expressão
"bomba atômica", o ex-ministro
deu uma resposta incompatível
com o teor de suas falas nas fitas.
Ele afirmou que "bomba atômica" seria informar o concorrente
-no caso, o Opportunity- sobre
as limitações financeiras do consórcio Telemar.
As fitas, no entanto, mostram
que "bomba atômica" seria o recurso extremo de usar o presidente
da República para pressionar a
Previ a aderir ao grupo do Opportunity.
Um trecho das fitas do grampo
mostra uma conversa entre Mendonça de Barros e Pérsio Arida, do
Opportunity, em que é citada a expressão. É o seguinte:
"Lara Resende - Eu quero falar
com você antes, tá? Pra saber o que
você tem... Para sentir o pulso.
Porque, se precisar, nós vamos ter
que detonar a bomba atômica.
Arida - Tá bom. Tá bom. Ok".
Outros depoimentos
As fitas contradizem vários pontos do depoimento de André Lara
Resende. Ele disse aos procuradores que "de forma alguma" conversou com Pérsio Arida sobre estratégias para o Opportunity disputar
os leilões.
No entanto, uma da fitas obtidas
pela Folha contém a seguinte declaração de André Lara a Pérsio
Arida, na véspera do leilão: "Eu
quero falar com você antes, tá? Pra
saber o que você tem... Para sentir
o pulso. Porque, se precisar, nós
vamos detonar a bomba atômica".
Disse também que o BNDES não
forma consórcios, mas apenas tenta tirar dúvidas dos interessados
prestando informações. Essa declaração é derrubada pelo telefonema entre Luiz Carlos Mendonça
de Barros e seu irmão José Roberto
Mendonça de Barros, no qual o ex-ministro das Comunicações afirmou que os consórcios eram todos
montados ali.
Por fim, disse que não procurou
contornar os obstáculos apresentados pela Previ para a formalização do consórcio com o Opportunity e que nunca chegou a saber
quais eram tais obstáculos. Vários
diálogos gravados contradizem
suas declarações.
Pio Borges, seguindo a mesma linha de Lara Resende, disse que o
BNDES não exercia nenhum tipo
de interferência sobre os consórcios e que não soube de problemas
enfrentados pelo Opportunity para a obtenção de cartas de fiança.
Pérsio Arida, por sua vez, negou
que tivesse presenciado o telefonema de Mendonça de Barros para
Jair Bilachi e disse que não tinha
conhecimento de que alguma autoridade tivesse intercedido junto
do Banco do Brasil para que desse
a carta de fiança ao Oportunity.
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