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ELIO GASPARI
Delúbio tem a idade do Brasil
Delúbio Soares não sabe,
mas é um personagem crônico da história brasileira. Muda
de nome, de gostos e de alcance,
mas vive anexo ao poder enquanto usufrui da graça do rei.
D. Pedro 1º teve o Chalaça. Seu filho foi ajudado pelo mordomo
Paulo Barboza (a quem defenestrou para São Petersburgo). Getúlio Vargas, com todas as suas
cautelas, confiou em Gregório
Fortunato. João Goulart teve Eugenio Caillard. Gregório foi assassinado e Caillard matou-se.
Muitos outros, discretos, passaram do poder para o esquecimento.
Não há força no universo capaz
de manter Delúbio Soares na posição de proeminência que cultivou. Seus charutos Cohiba e sua
familiaridade com o Planalto
prenunciavam um naufrágio. Ele
não era o navio, era o iceberg.
Referindo-se ao acesso que tinha
na administração, jactou-se:
"Com burocrata de ministério? É
só ligar e marcar para quatro,
cinco dias depois".
Comprou uma propriedade
com dinheiro de sacola. É professor da rede pública de Goiás (R$
1.242 mensais), mas não dá aulas
porque foi emprestado ao sindicato de sua categoria, onde não
dá expediente. Como tesoureiro
do PT, em 2004 recebia R$ 5.000
mensais.
Agora o repórter Rodrigo Rangel achou um Toyota Corolla
2005, registrado em seu nome,
guardado na garagem de sua irmã, em Goiânia. Na tabela, custa
R$ 79 mil.
São 63 salários de um professor
goiano.
Dirceu, o guerrilheiro sem rastro
José Dirceu deu um tiro no pé
ao chamar sua sucessora, Dilma
Rousseff, de "camarada de armas". Trouxe para o presente
uma radicalização vencida que
não interessa a ninguém, muito
menos ao governo. Lula começou sua carreira de sindicalista
nos anos 70 distanciando-se desse tipo de militantes.
Dirceu administra suas camaradagens de armas como se a história do período girasse em torno
de sua inesgotável figura. A militância de Vanda/Dilma no Comando de Libertação Nacional, o
Colina, e na Vanguarda Armada
Revolucionária Palmares, é coisa
sabida. A dele, pelos seus depoimentos, é e não é.
Vanda/Dilma participou do
planejamento de assaltos e guardou Carlos Lamarca em seu aparelho. No apartamento viveu
também Iara Iavelberg, que viria
a namorar o ex-capitão. Os militantes da VAR nadavam nos US$
2,6 milhões tomados ao espólio
do cleptocrata paulista Adhemar
de Barros. Um dia Iara levou
Vanda/Dilma para uma aventura
da vaidade. Cortaram cabelo no
salão Jambert da Ataulfo de Paiva, o preferido da grã-finagem
carioca, onde servia-se champanhe aos clientes. (Essa história está muito bem contada no livro
"Iara", da repórter Judith Lieblich Patarra.)
A figura de José Dirceu como o
guerrilheiro heróico das montanhas cubanas e da clandestinidade brasileira faz menos nexo. O
melhor documento sobre esse
período é uma entrevista que ele
deu em 1999 ao repórter Euler
Belém:
"O senhor participou da luta
armada?"
"Não. Eu não participei da luta
armada." Adiante, Dirceu é mais
preciso: "Nunca fiz nada de expressivo na área militar, nunca tive apego a armamentos".
Passam-se alguns parágrafos e
ele diz que "participei da luta armada no Brasil, em 1970 e 1971,
com o Molipo".
O comissário já escreveu pelo
menos dez capítulos de um provável livro de memórias. Nele,
poderá contar como conseguiu
participar e não participar de
uma mesma coisa.
(O Molipo, Movimento de Libertação Popular, foi um grupo
formado em 1970 em Cuba. Tinha cerca de trinta pessoas. Pelo
menos dezoito regressaram ao
Brasil. Dezesseis morreram. Sua
história está no livro "O Apoio de
Cuba à Luta Armada no Brasil",
da professora Denise Rolemberg,
a quem infelizmente Dirceu não
quis dar um depoimento.)
Circo
O PSDB e o governo estão
conversando. Os tucanos dão
ao PT o refresco que não receberam dele. De certa maneira,
evitam que o circo pegue fogo
para prorrogar o espetáculo.
Retardatário
Por determinação do procurador Mário Lúcio Avelar,
foi preso em Brasília e posteriormente transferido (algemado) para Cuiabá o engenheiro Antônio Carlos Hummel, diretor de Florestas do
Ibama. Acusado de tenebrosas traficâncias, era a maior
autoridade a bordo entre os
93 passageiros do camburão
da Operação Curupira.
Quando o procurador soube que a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, não
queria falar do funcionário
por não ter visto o inquérito
onde estariam listadas as acusações contra ele, o doutor
Avelar respondeu: "Se ela
quiser, eu envio para ela. Já
mandei uma cópia para a Polícia Federal, é só ela pedir e
vai entender tudo". Um dia
depois, o procurador pediu a
libertação de Hummel.
O engenheiro, com 23 anos
de ficha limpa no serviço público, gramou quatro noites
na cadeia. No último dia 7, a
Comissão de Processo Disciplinar instaurada no Ibama
solicitou ao procurador uma
"cópia integral" do inquérito
(Ofício CPAD nº 1/2005). Até
o fim do expediente de quinta-feira, a comissão não recebera resposta nem a ministra,
qualquer relatório.
Duros, não
Durante o primeiro ano de
governo de Lula existiu no palácio um negócio denominado "núcleo duro". O que era,
não se sabe, mas uma coisa é
certa: "duro", não era. O carango do doutor Delúbio está
aí para mostrar que nunca
neste país se fez tanto pelos
pobres.
Sem sombra Um curioso da vida de
Brasília esteve numa cerimônia perto do ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos. Prestou
atenção na estampa e
comprovou o que suspeitava: ele não tem sombra.
Quando vai a um lugar
ou diz uma coisa, nem a
sombra está por perto.
Com o sangue frio dos
grandes criminalistas,
Thomaz Bastos consegue
ver o que acontece do outro lado da montanha.
Choldra cassada
A ba$e de apoio do governo não parece disposta a cassar a turma do
"mensalão". Se ninguém
se mexer, vão cassar o direito dos eleitores de
mandar para a Câmara
os candidatos de sua escolha. Nunca é demais
repetir: a tal de "lista fechada" ou "voto de lista"
proposto na reforma política destina-se a fazer
com que a patuléia vote
numa lista organizada
pelo partido.
E quem faz a lista?
Companheiros como José Dirceu no PT e Roberto Jefferson no PTB. Exagero? Tudo bem, as listas
serão conhecidas antes
da votação e os partidos
haverão de montá-las democraticamente. No PT
opinarão, entre outros, o
secretário geral Sílvio Pereira e o tesoureiro Delúbio Soares. No PL, o interminável Valdemar
Costa Neto.
Nas luzes
Aumentou a visibilidade
do professor Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Lula. Tem
a virtude da calma e conhece a alma petista como ninguém.
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