São Paulo, terça-feira, 26 de junho de 2007

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Acuado, Roriz resiste às pressões do partido para se explicar

Em escutas, senador aparece supostamente combinando partilha de dinheiro; peemedebista afirma que se trata de negociação normal sem dinheiro público

SILVIO NAVARRO
RANIER BRAGON

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Enquanto se empenha em buscar uma saída para o caso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a cúpula do PMDB cobrou explicações ontem do senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) sobre as gravações em que aparece supostamente combinando partilha de dinheiro de origem ignorada.
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, está analisando o caso para decidir se requisita ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito contra Roriz.
Captadas com autorização judicial, as conversas mostram Roriz acertando a divisão de dinheiro com o ex-presidente do BRB (Banco de Brasília) Tarcísio Franklin de Moura. Os diálogos foram gravados pela Polícia Civil do Distrito Federal na Operação Aquarela, que resultou na prisão de 19 pessoas. Moura é suspeito de ter desviado R$ 50 milhões do BRB.
A resistência de Roriz para ir à tribuna do Senado para dar explicações irritou integrantes do partido. Segundo a Folha apurou, a orientação da cúpula do PMDB era para que ninguém saísse em defesa do senador antes que ele apresentasse uma justificativa convincente.
Com apenas quatro meses na Casa, a avaliação é que o ex-governador do Distrito Federal tem pouco respaldo político no Legislativo. Nos bastidores, uma ala do partido chegou a cogitar rifar Roriz se isso ajudasse a abafar o processo contra Renan. A ordem era para que ele se defendesse em 24 horas.
"Voltei de viagem e pedi que ele se pronunciasse [...]. Toda denúncia é considerada grave até que se dê explicação", disse o líder da bancada no Senado, Valdir Raupp (RO). Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo, também cobrou respostas: "Ele tem que prestar os esclarecimentos necessários".
O PSOL anunciou que entrará até amanhã com uma representação contra Roriz no Conselho de Ética do Senado. O partido teme porém que o caso sirva para abafar o de Renan: "Não queremos que o foco se desvirtue porque agora se iniciou a operação "banho-maria'", disse o líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ).
A resposta de Roriz só saiu no final da tarde. Ele passou o dia recluso em sua casa, com advogados e assessores. Em nota, classificou a divulgação dos diálogos com o ex-presidente do BRB como "tentativas criminosas de confundir uma negociação normal, sem recursos públicos, entre pessoas físicas e jurídicas privadas".
Nos diálogos, Roriz e Moura combinam levar um montante de dinheiro ao escritório do empresário Constantino de Oliveira, conhecido como Nenê, presidente do conselho de administração da Gol. Nesse mesmo dia, houve um saque de R$ 2,231 milhões numa agência do BRB em nome de Constantino. Ele nega possuir conta no BRB. O cheque foi emitido pela Agrícola Xingu. Moura teria autorizado sua compensação em agência do Banco do Brasil em Taguatinga (DF).
Roriz afirmou que, dos R$ 2,2 milhões, só usou R$ 300 mil a título de empréstimo. A diferença, alegou ter devolvido a Constantino. Ele apresentou documentos da compra de um bezerro, procedente da Universidade de Marília, no valor de R$ 271 mil. O resíduo, de R$ 28,6 mil, disse que usou para socorrer o primo Benjamim Roriz, com problema de saúde.
A Universidade de Marília confirmou que a Agropecuária Palma, controlada pela família Roriz, adquiriu uma "prenhez" da raça nelore em leilão realizado em novembro, no valor de R$ 532 mil. A "prenhez" significaria futura inseminação artificial entre o esperma do touro "Heliáco" com o óvulo da vaca "Essência". Os dois animais seriam premiados.


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