São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Antropóloga se destaca por ter inovado políticas sociais do país, dizem amigos

DA REPORTAGEM LOCAL

O velório de Ruth Corrêa Leite Cardoso, 77, foi, além de um encontro político, uma demonstração da importância da antropóloga e ex-primeira-dama como referência acadêmica e figura pública. Professores, pesquisadores e ex-orientandos foram se despedir daquela que consideravam uma "inspiradora e amiga".
Ruth já tinha uma longa carreira como antropóloga dedicada a estudos de gênero e de aculturação quando, em 1995, se tornou conhecida nacionalmente como a mulher do então presidente FHC.
Antes de chegar a Brasília, Ruth se destacou, na área acadêmica, ao criar na USP o Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero. A relevância de suas duas teses sobre aculturação dos japoneses no Brasil voltou a repercutir neste ano, em razão do centenário da imigração japonesa.
Na academia, fez grandes amigos. A socióloga Gilda Figueiredo Portugal Gouvea estava ontem entre os mais emocionados. "Era uma mulher incrível, independente e crítica. Ser mulher de Fernando Henrique não era nada fácil, e ela nunca foi sombra." Para Gouvea, a maior perda é a da amiga Ruth. "Uma mulher que cozinhava bem, assistia novelas e era dedicada aos amigos."
Seus estudos não tiveram a mesma repercussão que os de FHC, conhecido internacionalmente pela teoria da dependência, mas a levaram a lecionar em Berkeley (EUA) e Cambridge (Inglaterra).
Para a socióloga Anna Peliano, Ruth foi responsável pela mudança no perfil das políticas de combate à pobreza, que ganharam maior importância no governo. Na gestão tucana, de 1995 a 2002, o programa Comunidade Solidária, implantando por ela, alfabetizou 3 milhões de jovens, capacitou 114 mil para o mercado de trabalho e estimulou a organização de mulheres artesãs em cooperativas de produção.
Apesar disso, o programa foi criticado por aliados do governo, como o senador Antonio Carlos Magalhães, do então PFL, e pelo então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, que declarou: "Essa masturbação sociológica me irrita". FHC respondeu: "Ministro não critica governo". Motta calou.
Amigo de Ruth desde os anos 60, o governador José Serra disse que um dos legados da antropóloga foi ter elevado as políticas sociais a outro patamar.
Discreta, Ruth criticou várias vezes a imprensa por considerar que tinha sua vida privada invadida com freqüência. Durante sua última internação, voltou a reclamar do assédio ao tucano Clóvis Carvalho.
Também reclamava do título de primeira-dama e, em 1997, chegou a dizer a jornalistas: "Eu não sou primeira-dama. Isso é coisa dos Estados Unidos e vocês é que inventaram aqui".
Decidida a estudar filosofia, Ruth mudou-se de Araraquara (SP), onde nasceu em 19 de setembro de 1930, para São Paulo aos 19 anos. Na USP, conheceu FHC, um ano mais novo do que ela. Eles se formaram em 1952, se casaram no ano seguinte e tiveram três filhos.


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