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Acuado, Sarney se diz vítima da mídia por dar apoio a Lula
Presidente volta a defender senador e afirma que sua eleição deve ser respeitada
Renúncia do presidente do Senado é temida no governo porque abriria nova disputa pelo comando da Casa na véspera do ano eleitoral
Lula Marques/Folha Imagem
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O senador Pedro Simon (PMDB) discursa em plenário quase vazio, observado por Eduardo Suplicy (PT) e Heráclito Fortes (DEM)
VALDO CRUZ
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Acuado por novas acusações,
o presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), disse ontem ser vítima de uma "campanha midiática" e relacionou pela primeira vez a atual crise a
seu apoio ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Em solidariedade, Lula saiu mais uma vez
em defesa do aliado, numa estratégia deliberada para tentar
evitar a queda do senador.
Em reunião reservada, Lula
disse à sua equipe que a ordem
é "tentar segurar" Sarney no
comando do Senado. Segundo
um assessor, a renúncia ou até
mesmo um pedido de licença
seria "péssimo" para o governo
no momento.
Para ajudar Sarney em sua
guerra pela sobrevivência política, Lula vai conversar nos
próximos dias com líderes governistas e passar sua orientação de montar uma blindagem
em torno do senador.
Desde sua posse em fevereiro, Sarney enfrenta uma crise
que já levou ao afastamento de
dois diretores-gerais da Casa
(Agaciel Maia e Alexandre Gazineo) e revelou esquemas de
atos secretos, contratos irregulares e pagamento indevido de
horas extras.
Em defesa do presidente do
Senado, Lula afirmou ontem
que ele não deve ser afastado do
cargo porque foi eleito pelos
colegas, e disse mais uma vez
não concordar que, num país
com "coisas importantes para
fazer", as pessoas fiquem um
mês "tratando de coisas menores". Ele defendeu ainda o afastamento de Agaciel enquanto
durarem as investigações.
Ontem, Sarney foi obrigado a
divulgar nota para se defender
da acusação, publicada pelo
jornal "O Estado de S. Paulo",
de que seu neto José Adriano
teria sido beneficiado em operações de intermediação de
crédito consignado no Senado.
Sarney diz que os esclarecimentos dados por seu neto, que
nega ter sido favorecido nas
operações, mostram a "verdadeira face de uma campanha
midiática para atingir-me, na
qual não excluo a minha posição política, nunca ocultada, de
apoio ao presidente Lula".
Na nota, ele afirma ainda
considerar "suficientes" as explicações dadas por seu neto
sobre as operações de intermediação de empréstimos consignados, acrescentando que ele é
"extremamente qualificado",
com mestrado na Sorbonne e
pós-graduação em Harvard.
Sarney já teve de se explicar
sobre a nomeação de um neto e
duas sobrinhas, além de permitir que uma funcionária usasse
um apartamento em prédio
restrito ao Senado.
Com o agravamento da crise,
Sarney preferiu não ir ontem
ao Senado, para evitar constrangimentos diante do anúncio de que senadores, como Pedro Simon (PMDB-RS), iriam
pedir a sua renúncia. À tarde,
foi a um oftamologista.
Apoio
Assessores do peemedebista
avaliam que a guerra da opinião
pública está perdida. A estratégia é manter o apoio dos aliados. O governo acredita que, se
mantiver os aliados PMDB, PT
e PTB unidos na defesa do presidente do Senado, que tem
ainda apoio do DEM, Sarney terá condições de atravessar a
crise sem perder o cargo.
Lula teme uma renúncia de
Sarney porque ela abriria uma
nova guerra pelo comando da
Casa na véspera do ano eleitoral. O governo também não
quer licença do senador, pois
nesse caso assumiria interinamente seu adversário Marconi
Perillo (PSDB-GO), primeiro-vice-presidente do Senado.
A dificuldade em traçar uma
estratégia de defesa, na avaliação de um assessor presidencial, é o surgimento de uma
acusação atrás da outra. Quando todos avaliavam que Sarney
escapara do caso dos atos secretos, surgiu o episódio envolvendo seu neto com crédito
consignado, destaca o assessor.
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