São Paulo, Sábado, 26 de Junho de 1999
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EUA não vêem risco comercial

MARCIO AITH
de Washington


O novo assessor oficial do presidente Bill Clinton para a América Latina, Arturo Valenzuela, negou que a Cúpula do Rio esteja sendo vista pelo governo norte-americano como ameaça à forte influência comercial dos EUA na região.
Em entrevista à Folha, Valenzuela disse que a reunião poderá servir como um instrumento para que as Américas forcem a abertura do "restritivo" mercado europeu e que, portanto, só pode trazer boas notícias para o comércio mundial.
"Os europeus têm um regime mais restritivo com relação a produtos da América Latina. Já os EUA têm uma economia muito mais aberta", disse, em alusão ao (tão propagado pelos norte-americanos) número indicando que a tarifa geral média dos EUA, de 3%, é uma das menores do mundo.
Valenzuela já trabalhou no Departamento de Estado norte-americano e ultimamente dirigia a cadeira responsável pelos estudos sobre América Latina na Georgetown University, em Washington.
Na Casa Branca, ele conversa regularmente com Clinton sobre quaisquer problemas políticos e econômicos de relevo na América Latina, desde o acompanhamento da crises institucional que afetou o Paraguai em março como a situação econômica brasileira.
Valenzuela negou também que os recentes problemas com as exportações brasileiras de aço e de suco de laranja aos EUA estejam acelerando uma aproximação dos brasileiros com os europeus.
"Reconheço que há elementos na sociedade dos EUA que querem um maior protecionismo. Mas não dou muita importância a eles. O déficit comercial dos EUA hoje é de US$ 300 bilhões, o maior de sua história. Os EUA estão absorvendo grande parte da produção mundial. Obviamente alguns setores vão querer proteção. Mas o interesse do governo é o de manter a expansão econômica por meio da abertura, não só dentro dos EUA como no resto do mundo".
Nesse contexto, Valenzuela definiu a cúpula como um "esforço positivo dos países da região (América Latina) para terem um maior fluxo comercial com a Europa".
Segundo ele, ninguém em Washington está preocupado com que interesses dos EUA sejam prejudicados pelos encontros no Rio entre a UE (União Européia) e o Mercosul e entre a UE, representantes da América Latina e do Caribe.
"Não podemos nos esquecer que os EUA têm grandes aliados na Europa. Todos sairão ganhando com a Cúpula do Rio. Não se trata de um processo de exclusão".
Valenzuela discordou da idéia de que a reunião possa atrasar o cronograma de implantação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e deixou claro que as verdadeiras dificuldades para a criação dessa área estão dentro dos EUA.
"Clinton poderá não conseguir, até o final de seu mandato, aprovar o "fast-track" no Congresso norte-americano", disse ele, referindo-se ao projeto que daria ao presidente norte-americano poder para negociar a criação de acordos comerciais desse porte. "A Alca continua sendo uma prioridade para a administração Clinton. Mas as coisas se complicaram politicamente. O presidente tentou por dois anos e não conseguiu."
No entanto, Valenzuela insiste que o tema ainda é prioritário. Mas reconhece que é complicado e difícil aprová-lo num ano eleitoral. Segundo ele, "o que está claro é o compromisso que há em todos os setores políticos dos EUA para o livre comércio da região. Se vier um outro governo democrata ou republicano, também vai haver um compromisso com o assunto".


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