|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA não vêem risco comercial
MARCIO AITH
de Washington
O novo assessor oficial do presidente Bill Clinton para a América
Latina, Arturo Valenzuela, negou
que a Cúpula do Rio esteja sendo
vista pelo governo norte-americano como ameaça à forte influência
comercial dos EUA na região.
Em entrevista à Folha, Valenzuela disse que a reunião poderá servir
como um instrumento para que as
Américas forcem a abertura do
"restritivo" mercado europeu e
que, portanto, só pode trazer boas
notícias para o comércio mundial.
"Os europeus têm um regime
mais restritivo com relação a produtos da América Latina. Já os
EUA têm uma economia muito
mais aberta", disse, em alusão ao
(tão propagado pelos norte-americanos) número indicando que a tarifa geral média dos EUA, de 3%, é
uma das menores do mundo.
Valenzuela já trabalhou no Departamento de Estado norte-americano e ultimamente dirigia a cadeira responsável pelos estudos
sobre América Latina na Georgetown University, em Washington.
Na Casa Branca, ele conversa regularmente com Clinton sobre
quaisquer problemas políticos e
econômicos de relevo na América
Latina, desde o acompanhamento
da crises institucional que afetou o
Paraguai em março como a situação econômica brasileira.
Valenzuela negou também que
os recentes problemas com as exportações brasileiras de aço e de
suco de laranja aos EUA estejam
acelerando uma aproximação dos
brasileiros com os europeus.
"Reconheço que há elementos na
sociedade dos EUA que querem
um maior protecionismo. Mas não
dou muita importância a eles. O
déficit comercial dos EUA hoje é
de US$ 300 bilhões, o maior de sua
história. Os EUA estão absorvendo
grande parte da produção mundial. Obviamente alguns setores
vão querer proteção. Mas o interesse do governo é o de manter a
expansão econômica por meio da
abertura, não só dentro dos EUA
como no resto do mundo".
Nesse contexto, Valenzuela definiu a cúpula como um "esforço positivo dos países da região (América Latina) para terem um maior
fluxo comercial com a Europa".
Segundo ele, ninguém em Washington está preocupado com que
interesses dos EUA sejam prejudicados pelos encontros no Rio entre
a UE (União Européia) e o Mercosul e entre a UE, representantes da
América Latina e do Caribe.
"Não podemos nos esquecer que
os EUA têm grandes aliados na Europa. Todos sairão ganhando com
a Cúpula do Rio. Não se trata de
um processo de exclusão".
Valenzuela discordou da idéia de
que a reunião possa atrasar o cronograma de implantação da Alca
(Área de Livre Comércio das Américas) e deixou claro que as verdadeiras dificuldades para a criação
dessa área estão dentro dos EUA.
"Clinton poderá não conseguir,
até o final de seu mandato, aprovar
o "fast-track" no Congresso norte-americano", disse ele, referindo-se
ao projeto que daria ao presidente
norte-americano poder para negociar a criação de acordos comerciais desse porte. "A Alca continua
sendo uma prioridade para a administração Clinton. Mas as coisas
se complicaram politicamente. O
presidente tentou por dois anos e
não conseguiu."
No entanto, Valenzuela insiste
que o tema ainda é prioritário. Mas
reconhece que é complicado e difícil aprová-lo num ano eleitoral. Segundo ele, "o que está claro é o
compromisso que há em todos os
setores políticos dos EUA para o livre comércio da região. Se vier um
outro governo democrata ou republicano, também vai haver um
compromisso com o assunto".
Texto Anterior: Cúpula do Rio: UE aposta em "opção" anti-EUA Próximo Texto: Brasil quer definir fim de negociação Índice
|