São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 2000


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SOCORRO A BANCOS
Ex-presidente do BC diz que disse ao presidente "que havia problemas na BM&F"
FHC sabia da crise, afirma Lopes

DA SUCURSAL DO RIO

O ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes disse ontem, em depoimento ao juiz Abel Gomes, da 6ª Vara Federal, que informou ao presidente Fernando Henrique Cardoso no almoço do dia 14 de janeiro do ano passado, "que havia problemas na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuro)".
Do almoço, realizado em Brasília no mesmo dia em que houve a operação de socorro aos bancos Marka e FonteCindam, participaram, de acordo com Lopes, "outras pessoas", entre elas o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
O depoimento foi prestado ontem à tarde no processo que apura a operação de socorro aos dois bancos, que causou um prejuízo de R$ 1,6 bilhão ao BC.
Lopes disse ter informado ao presidente que medidas estavam sendo tomadas para evitar crises de confiança e crises bancárias, "no que o presidente concordou integralmente". Ele disse que falou com FHC de forma genérica, sem citar os bancos Marka e FonteCindam. Afirmou ainda não lembrar se Pedro Malan estava presente naquele momento.
Lopes disse ao juiz da 6ª Vara Federal não ter comunicado o ministro da Fazenda sobre a operação de socorro e sobre o conteúdo do voto 006, expediente adotado pelo BC, na época da desvalorização, para poder suprir com dólar instituições em dificuldades para honrar compromissos. O ex-presidente do BC confirmou que o voto 006 foi decidido por ele, por Cláudio Mauch, e por Demósthenes Madureira de Pinho Neto, ambos também réus no processo.
Lopes e Mauch tiveram dificuldades para explicar à Justiça Federal o que é "risco sistêmico" . Na vez de Mauch, o juiz chegou a dizer que queria ""uma resposta tão clara e objetiva" como parecia ter sido o argumento usado por eles para justificar o voto 006.
Sobre o bilhete escrito por Salvatore Cacciola, dono do Marka, no qual o banqueiro pedia ""uma intervenção muito maior" de Lopes na negociação da cotação do dólar que seria vendido a sua instituição, Lopes afirmou não saber o que Cacciola queria dizer.
Lopes classificou de ""desrespeitoso, agressivo e sem educação" a atitude de Cacciola de se dirigir a ele como Francisco porque ninguém o chama dessa forma, nem pessoas de sua intimidade. Segundo Lopes, o banqueiro queria dar a impressão uma intimidade que não existia. Chegou a dizer que não tinha certeza se tal bilhete era o mesmo que ele tinha visto porque ao recebê-lo das mãos de seu consultor Alexandre Pundek, leu rapidamente e o jogou no lixo.

Resposta do Planalto
O porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, disse ontem que o presidente Fernando Henrique Cardoso não conhece o depoimento de Lopes e, por essa razão, não caberia respondê-lo.
"Não li o depoimento, muito menos o presidente, e não cabe falar sobre isso, mas, em todos os relatos que tenho, é exatamente o contrário. O depoimento, tal como refletido na entrevista do próprio procurador que participou do depoimento e da imprensa, é que o dr. Chico Lopes informou que o presidente e o ministro da Fazenda não tinham conhecimento nenhum da operação."


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