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SOCORRO A BANCOS
Ex-presidente do BC diz que disse ao presidente "que havia problemas na BM&F"
FHC sabia da crise, afirma Lopes
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes disse ontem,
em depoimento ao juiz Abel Gomes, da 6ª Vara Federal, que informou ao presidente Fernando
Henrique Cardoso no almoço do
dia 14 de janeiro do ano passado,
"que havia problemas na BM&F
(Bolsa de Mercadorias e Futuro)".
Do almoço, realizado em Brasília no mesmo dia em que houve a
operação de socorro aos bancos
Marka e FonteCindam, participaram, de acordo com Lopes, "outras pessoas", entre elas o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
O depoimento foi prestado ontem à tarde no processo que apura a operação de socorro aos dois
bancos, que causou um prejuízo
de R$ 1,6 bilhão ao BC.
Lopes disse ter informado ao
presidente que medidas estavam
sendo tomadas para evitar crises
de confiança e crises bancárias,
"no que o presidente concordou
integralmente". Ele disse que falou com FHC de forma genérica,
sem citar os bancos Marka e FonteCindam. Afirmou ainda não
lembrar se Pedro Malan estava
presente naquele momento.
Lopes disse ao juiz da 6ª Vara
Federal não ter comunicado o ministro da Fazenda sobre a operação de socorro e sobre o conteúdo
do voto 006, expediente adotado
pelo BC, na época da desvalorização, para poder suprir com dólar
instituições em dificuldades para
honrar compromissos. O ex-presidente do BC confirmou que o
voto 006 foi decidido por ele, por
Cláudio Mauch, e por Demósthenes Madureira de Pinho Neto,
ambos também réus no processo.
Lopes e Mauch tiveram dificuldades para explicar à Justiça Federal o que é "risco sistêmico" .
Na vez de Mauch, o juiz chegou a
dizer que queria ""uma resposta
tão clara e objetiva" como parecia
ter sido o argumento usado por
eles para justificar o voto 006.
Sobre o bilhete escrito por Salvatore Cacciola, dono do Marka,
no qual o banqueiro pedia ""uma
intervenção muito maior" de Lopes na negociação da cotação do
dólar que seria vendido a sua instituição, Lopes afirmou não saber
o que Cacciola queria dizer.
Lopes classificou de ""desrespeitoso, agressivo e sem educação" a
atitude de Cacciola de se dirigir a
ele como Francisco porque ninguém o chama dessa forma, nem
pessoas de sua intimidade. Segundo Lopes, o banqueiro queria
dar a impressão uma intimidade
que não existia. Chegou a dizer
que não tinha certeza se tal bilhete
era o mesmo que ele tinha visto
porque ao recebê-lo das mãos de
seu consultor Alexandre Pundek,
leu rapidamente e o jogou no lixo.
Resposta do Planalto
O porta-voz da Presidência,
Georges Lamazière, disse ontem
que o presidente Fernando Henrique Cardoso não conhece o
depoimento de Lopes e, por essa
razão, não caberia respondê-lo.
"Não li o depoimento, muito
menos o presidente, e não cabe falar sobre isso, mas, em todos os
relatos que tenho, é exatamente o
contrário. O depoimento, tal como refletido na entrevista do próprio procurador que participou
do depoimento e da imprensa, é
que o dr. Chico Lopes informou
que o presidente e o ministro da
Fazenda não tinham conhecimento nenhum da operação."
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