São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2004

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ALTA ESPIONAGEM

Aposentado do MI6 seria o chefe do Projeto Tóquio, que espionou teles e governo

Agora PF está no encalço de espião inglês no caso Kroll

ANDRÉA MICHAEL
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um espião inglês contratado pela Kroll estava na mira da Polícia Federal. O nome de Wiliam, que é um agente do serviço secreto britânico aposentado conhecido pelo apelido Bill, surgiu de diálogos monitorados -em telefonemas e e-mails- pela PF com autorização judicial, em meio às investigações relacionadas à atuação da Kroll no segmento de telecomunicações.
A idéia da PF era prender Bill juntamente com Tiago Verdial, detido no sábado no Rio de Janeiro e levado para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Há alguns dias há mandado de prisão expedido para ambos.
Mas a divulgação do caso na última quinta-feira, em reportagem exclusiva da Folha, precipitou a decisão de executar o mandado judicial somente para Verdial, sem esperar um novo retorno de Bill ao Brasil.
O espião inglês, ex-integrante do famoso MI6 (área externa da inteligência britânica), é o coordenador mundial do chamado Projeto Tóquio, um esquema de investigação internacional de negócios na área de telecomunicações. Em seu âmbito a Kroll, contratada por Carla Cico, presidente da Brasil Telecom, tinha como alvo investigar a Telecom Italia. As empresas travam batalhas judiciais.
A Brasil Telecom é controlada pelo banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity. Sua liderança, no entanto, é questionada pela Telecom Italia.
Conforme dados reunidos pela PF, Dantas havia contratado a Kroll há mais de cinco anos para levantar informações relacionadas ao setor de telecomunicações. O banqueiro estava disposto a romper o contrato, mas a Kroll conseguiu manter o negócio usando profissionais estrangeiros, como Verdial, que é português, e o inglês Bill.
O Projeto Tóquio, cujo foco atual de apuração estava no Brasil e na Itália, resvalou em espionagem de autoridades do governo brasileiro, como o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb.

Objetivos
Na investigação em curso, iniciada em março como desdobramento de um inquérito relacionado à falência da Parmalat, a PF tem três objetivos: 1) provar eventuais ilegalidades praticadas pela Kroll; 2) provar o grau de conhecimento e conivência que os seus contratantes tinham sobre os ilícitos que podem ter sido praticados e 3) chegar às bases da disputa comercial entre Telecom Italia e Brasil Telecom, com a apuração de crimes de ordem econômica/ comercial.
Segundo a Folha apurou, a direção da PF considera já ter em mãos provas documentais de que a Kroll fez monitoramento ilegal de autoridades e corrompeu servidores para obter informações privilegiadas. Haveria também evidências de grampo ilegal de e-mails e de telefones.
No caso dos outros dois objetivos -saber se o contratante da Kroll, a Brasil Telecom, compactuou com ilícitos e se há mais crimes de ordem econômica a serem investigados-, ainda não há na PF certeza sobre o rumo a seguir.
Pelas informações que recebeu até o momento, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, autoridade escalada para acompanhar os interesses de Estado no caso, diz estar convicto de que o governo não foi espionado.
"É claramente uma disputa de empresas. Cabe ao Estado, e isso estamos fazendo, investigar que tipo de crime eventualmente foi cometido", diz Bastos.
A diretoria da Kroll no Brasil se reunirá hoje para discutir o caso.

Prisão de Verdial
No sábado, quando prendeu Verdial no Rio de Janeiro, a PF executou mandados de busca e apreensão de documentos e equipamentos (computadores, por exemplo), que estão sendo periciados em Brasília.
Documentos em poder da PF revelam que Verdial informou à Kroll que pagava por "provas". Em um de seus e-mails, o agente disse ter guardado algumas dessas "provas" e o local onde estariam "caixas" com elas. Seguindo a pista, a PF apreendeu o material.
Não está claro, entretanto, se Verdial teve tempo, nos últimos dias, para limpar também esse material de alguma evidência contra si. Verdial prestou depoimento entre as 20h30 do sábado e às 3h30 da madrugada de domingo. Ontem à tarde, novamente foi ouvido pela PF.
Acompanhado de três advogados, o colaborador da Kroll confirmou as bases do contrato em que a empresa tinha como alvo a Italia Telecom. Procurados, nem ele nem os advogados falaram à reportagem.
A colaboração de Verdial foi limitada, segundo a Folha apurou. Ele é acusado de formação de quadrilha, corrupção ativa, quebra de sigilo constitucional, exploração de prestígio e obtenção ilegal de documentos confidenciais.


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