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ALTA ESPIONAGEM
Aposentado do MI6 seria o chefe do Projeto Tóquio, que espionou teles e governo
Agora PF está no encalço de espião inglês no caso Kroll
ANDRÉA MICHAEL
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um espião inglês contratado
pela Kroll estava na mira da Polícia Federal. O nome de Wiliam,
que é um agente do serviço secreto britânico aposentado conhecido pelo apelido Bill, surgiu de diálogos monitorados -em telefonemas e e-mails- pela PF com
autorização judicial, em meio às
investigações relacionadas à atuação da Kroll no segmento de telecomunicações.
A idéia da PF era prender Bill
juntamente com Tiago Verdial,
detido no sábado no Rio de Janeiro e levado para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília.
Há alguns dias há mandado de
prisão expedido para ambos.
Mas a divulgação do caso na última quinta-feira, em reportagem
exclusiva da Folha, precipitou a
decisão de executar o mandado
judicial somente para Verdial,
sem esperar um novo retorno de
Bill ao Brasil.
O espião inglês, ex-integrante
do famoso MI6 (área externa da
inteligência britânica), é o coordenador mundial do chamado
Projeto Tóquio, um esquema de
investigação internacional de negócios na área de telecomunicações. Em seu âmbito a Kroll, contratada por Carla Cico, presidente
da Brasil Telecom, tinha como alvo investigar a Telecom Italia. As
empresas travam batalhas judiciais.
A Brasil Telecom é controlada
pelo banqueiro Daniel Dantas, do
Opportunity. Sua liderança, no
entanto, é questionada pela Telecom Italia.
Conforme dados reunidos pela
PF, Dantas havia contratado a
Kroll há mais de cinco anos para
levantar informações relacionadas ao setor de telecomunicações.
O banqueiro estava disposto a
romper o contrato, mas a Kroll
conseguiu manter o negócio
usando profissionais estrangeiros, como Verdial, que é português, e o inglês Bill.
O Projeto Tóquio, cujo foco
atual de apuração estava no Brasil
e na Itália, resvalou em espionagem de autoridades do governo
brasileiro, como o ministro Luiz
Gushiken (Comunicação de Governo) e o presidente do Banco do
Brasil, Cássio Casseb.
Objetivos
Na investigação em curso, iniciada em março como desdobramento de um inquérito relacionado à falência da Parmalat, a PF
tem três objetivos: 1) provar eventuais ilegalidades praticadas pela
Kroll; 2) provar o grau de conhecimento e conivência que os seus
contratantes tinham sobre os ilícitos que podem ter sido praticados
e 3) chegar às bases da disputa comercial entre Telecom Italia e
Brasil Telecom, com a apuração
de crimes de ordem econômica/
comercial.
Segundo a Folha apurou, a direção da PF considera já ter em
mãos provas documentais de que
a Kroll fez monitoramento ilegal
de autoridades e corrompeu servidores para obter informações
privilegiadas. Haveria também
evidências de grampo ilegal de e-mails e de telefones.
No caso dos outros dois objetivos -saber se o contratante da
Kroll, a Brasil Telecom, compactuou com ilícitos e se há mais crimes de ordem econômica a serem
investigados-, ainda não há na
PF certeza sobre o rumo a seguir.
Pelas informações que recebeu
até o momento, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, autoridade escalada para acompanhar os interesses de Estado no
caso, diz estar convicto de que o
governo não foi espionado.
"É claramente uma disputa de
empresas. Cabe ao Estado, e isso
estamos fazendo, investigar que
tipo de crime eventualmente foi
cometido", diz Bastos.
A diretoria da Kroll no Brasil se
reunirá hoje para discutir o caso.
Prisão de Verdial
No sábado, quando prendeu
Verdial no Rio de Janeiro, a PF
executou mandados de busca e
apreensão de documentos e equipamentos (computadores, por
exemplo), que estão sendo periciados em Brasília.
Documentos em poder da PF
revelam que Verdial informou à
Kroll que pagava por "provas".
Em um de seus e-mails, o agente
disse ter guardado algumas dessas "provas" e o local onde estariam "caixas" com elas. Seguindo
a pista, a PF apreendeu o material.
Não está claro, entretanto, se
Verdial teve tempo, nos últimos
dias, para limpar também esse
material de alguma evidência
contra si. Verdial prestou depoimento entre as 20h30 do sábado e
às 3h30 da madrugada de domingo. Ontem à tarde, novamente foi
ouvido pela PF.
Acompanhado de três advogados, o colaborador da Kroll confirmou as bases do contrato em
que a empresa tinha como alvo a
Italia Telecom. Procurados, nem
ele nem os advogados falaram à
reportagem.
A colaboração de Verdial foi limitada, segundo a Folha apurou.
Ele é acusado de formação de
quadrilha, corrupção ativa, quebra de sigilo constitucional, exploração de prestígio e obtenção
ilegal de documentos confidenciais.
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