São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em e-mail, espião disse que o papai do céu o protegia

DA REPORTAGEM LOCAL

Em sua página na Orkut, o novo centro de discussões na internet, o ex-funcionário da Kroll preso no sábado, o português Tiago Verdial, diz gostar de Cartola, Nelson Sargento e Clara Nunes. Na quinta, antes de ser preso e no dia em que a Folha revelou que a Kroll espionava o governo, disse a colegas por e-mail, de seu apartamento na Urca, no Rio. "Já li a matéria, tô passado. E o crack luso [uma referência a ele próprio] não foi citado!!". No texto, Verdial avalia duas alternativas: seu nome seria mencionado numa próxima reportagem ou, segundo suas próprias palavras, "papai do céu tá me protegendo e nunca serei lembrado. Gostei da 2ª opção".
No final da mensagem, convoca os amigos: "Alô, Alô, moçada do Riiio, hoje é quinta-feira vamo pro samba?" Esse é o "espírito" de Verdial, contaram seus amigos à Folha: alegre e expansivo demais para a imagem que leigos no assunto associam a espiões. Funcionário da Kroll por dois anos até que deslizes seus foram descobertos pelas autoridades, o português dizia ter-se mudado atrás de "felicidade" de São Paulo-onde estudou economia na USP e administração na FGV, sem se formar- para o Rio de Janeiro.
Uma vez no Rio, e por orientação da Kroll, aproximou-se de jornalistas para extrair deles notícias e plantar versões. Mesmo sem ser membro, virou figurinha fácil na lista de conversa virtual da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). "Trocamos muitas ligações e e-mails. Mas Verdial não era associado", disse o jornalista Claudio Julio Tognolli, um dos diretores da associação. "Até porque data de quase três meses alerta que fiz à diretoria da Abraji, para que ele não fosse admitido como sócio."
Verdial nunca revelou nas mensagens que era funcionário da Kroll -embora, numa ocasião, tenha distribuído dados sobre um seminário da empresa.
Outros membros da Abraji contam que Verdial postou na lista mensagens com informações pessoais do ministro Luiz Gushiken, e sobre o investidor Naji Nahas.
Mas não se limitavam à lista seus esforços para extrair informações de jornalistas. Em janeiro passado, durante a crise financeira da Parmalat, ele telefonou para duas jornalistas especializadas em economia da Folha. Usou o nome verdadeiro para se identificar, mas mentiu quanto ao empregador. Disse que representava um grande fundo credor da Parmalat.


Texto Anterior: Outro lado: Banqueiro nega pedido de violação telefônica à Kroll
Próximo Texto: Justiça: Procuradoria investigará, de novo, obra do TRT de SP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.