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Em e-mail, espião
disse que o papai
do céu o protegia
DA REPORTAGEM LOCAL
Em sua página na Orkut, o novo
centro de discussões na internet, o
ex-funcionário da Kroll preso no
sábado, o português Tiago Verdial, diz gostar de Cartola, Nelson
Sargento e Clara Nunes. Na quinta, antes de ser preso e no dia em
que a Folha revelou que a Kroll
espionava o governo, disse a colegas por e-mail, de seu apartamento na Urca, no Rio. "Já li a matéria,
tô passado. E o crack luso [uma
referência a ele próprio] não foi
citado!!". No texto, Verdial avalia
duas alternativas: seu nome seria
mencionado numa próxima reportagem ou, segundo suas próprias palavras, "papai do céu tá
me protegendo e nunca serei lembrado. Gostei da 2ª opção".
No final da mensagem, convoca
os amigos: "Alô, Alô, moçada do
Riiio, hoje é quinta-feira vamo
pro samba?" Esse é o "espírito" de
Verdial, contaram seus amigos à
Folha: alegre e expansivo demais
para a imagem que leigos no assunto associam a espiões. Funcionário da Kroll por dois anos até
que deslizes seus foram descobertos pelas autoridades, o português
dizia ter-se mudado atrás de "felicidade" de São Paulo-onde estudou economia na USP e administração na FGV, sem se formar- para o Rio de Janeiro.
Uma vez no Rio, e por orientação da Kroll, aproximou-se de
jornalistas para extrair deles notícias e plantar versões. Mesmo
sem ser membro, virou figurinha
fácil na lista de conversa virtual da
Abraji (Associação Brasileira de
Jornalismo Investigativo). "Trocamos muitas ligações e e-mails.
Mas Verdial não era associado",
disse o jornalista Claudio Julio
Tognolli, um dos diretores da associação. "Até porque data de
quase três meses alerta que fiz à
diretoria da Abraji, para que ele
não fosse admitido como sócio."
Verdial nunca revelou nas mensagens que era funcionário da
Kroll -embora, numa ocasião,
tenha distribuído dados sobre um
seminário da empresa.
Outros membros da Abraji contam que Verdial postou na lista
mensagens com informações pessoais do ministro Luiz Gushiken,
e sobre o investidor Naji Nahas.
Mas não se limitavam à lista
seus esforços para extrair informações de jornalistas. Em janeiro
passado, durante a crise financeira da Parmalat, ele telefonou para
duas jornalistas especializadas em
economia da Folha. Usou o nome
verdadeiro para se identificar,
mas mentiu quanto ao empregador. Disse que representava um
grande fundo credor da Parmalat.
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