São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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Fisco rastreia laranjas em negócios dos Sarney

Devassa da Receita em empresas da família inclui investigação de pessoas usadas, segundo a PF, para ocultar bens e lavar dinheiro

Para Procuradoria do MA, valores movimentados "são incompatíveis com situação financeira'; fiscalização é de rotina, diz filho de senador


LEONARDO SOUZA
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS

A Receita Federal começou a rastrear a movimentação financeira de pessoas apontadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal como laranjas usados pela família Sarney para ocultar a propriedade de empresas e praticar lavagem de dinheiro, de acordo com dados do fisco aos quais a reportagem teve acesso.
Conforme a Folha publicou ontem, a Receita iniciou uma devassa em negócios do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP), e empresas e pessoas ligadas direta e indiretamente à família.
Os auditores detectaram elementos que configuram crimes contra a ordem tributária, como envio ilegal de recursos ao exterior, contratos de câmbio falsos e lavagem de dinheiro. A investigação está em curso e ainda não houve autuações.
O caso se estende à Usimar, fabricante de autopeças conhecida no final dos anos 1990 por ter recebido recursos da extinta Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) para um projeto no Maranhão que não saiu do papel. O episódio ocorreu na gestão da governadora Roseana Sarney, irmã de Fernando, que hoje ocupa novamente o posto.
Por meio de nota, Fernando Sarney afirmou que a fiscalização da Receita é de rotina e nada tem a ver com câmbio e lavagem de dinheiro. Ele negou qualquer ligação com a Usimar.
O empresário disse ainda que a fiscalização não tem relação com a saída de Lina Vieira do comando da Receita porque foi iniciada antes da nomeação dela para o cargo. No entanto, foi na gestão de Lina que a Justiça Federal expediu um ofício determinando celeridade na investigação. A receita constituiu então um grupo especial de fiscalização com auditores de fora do Maranhão.
Entre os alvos do fisco estão Dulce de Britto Freire, Walfredo Dantas de Araújo e Thucydides Barbosa Frota, que constam como sócios do grupo Marafolia, especializado em shows e eventos. Segundo a PF, Fernando Sarney e sua mulher, Teresa Murad, "são os donos de fato" do negócio.
Daniel Britto, filho e advogado de Dulce, nega que sua mãe seja laranja dos Sarney. Segundo ele, além de ser sócia-proprietária do Marafolia desde 1995, Dulce é diretora de eventos do sistema Mirante de comunicações há uma década.
O Marafolia e seus supostos proprietários estão no rol dos investigados pela PF na Operação Boi Barrica (rebatizada de Faktor). A investigação se desdobrou em cinco inquéritos. Fernando foi indiciado em três, por formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Walfredo e Thucydides já foram indiciados, entre outros crimes, por formação de quadrilha.
Na manifestação sobre o trabalho da PF, a Procuradoria da República no Maranhão informou que "os valores que transitam nas contas dos sócios laranjas [da família Sarney] são incompatíveis com a situação financeira" deles, "bem como incompatíveis com o valores declarados ao fisco".
Conforme dados obtidos pela polícia, Dulce movimentou em 2003 em suas contas R$ 1,9 milhão. Declarou à Receita, porém, rendimentos de R$ 110 mil. Ela tem também em seu nome a empresa Britto Freire Promoções Ltda, nome fantasia Clubão Jamaica, "um fenômeno na área de lucratividade e movimentação", diz a PF.
Os policiais descrevem terem ido várias vezes ao local, sempre fechado. Segundo vizinhos, o lugar abriria esporadicamente. Ainda assim, a empresa movimentou em 2005 e 2006 quase R$ 9 milhões.
A polícia captou diálogos de Fernando e Teresa dando ordens aos sócios sobre como gerir o Marafolia, inclusive sobre a divisão de dinheiro.
Segundo o Ministério Público, as escutas "permitem identificar perfeitamente, nas conversas com os sócios laranjas e com parceiros comerciais, não só a posição de proprietário do empreendimento Marafolia mas também a atuação negocial de Fernando, que toma todas as decisões importantes".
Num dos inquéritos da PF, é transcrita conversa entre Teresa e um homem não identificado (HNI) sobre um evento feito pelo Marafolia. "HNI diz que ficou o 166 para Tete [Teresa] e FS [Fernando]. HNI diz que falta receber 500 mil do governo que não receberam."


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