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Fisco rastreia laranjas em negócios dos Sarney
Devassa da Receita em empresas da família inclui investigação de pessoas usadas, segundo a PF, para ocultar bens e lavar dinheiro
Para Procuradoria do MA, valores movimentados "são incompatíveis com situação financeira'; fiscalização é de rotina, diz filho de senador
LEONARDO SOUZA
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS
A Receita Federal começou a
rastrear a movimentação financeira de pessoas apontadas
pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal como
laranjas usados pela família
Sarney para ocultar a propriedade de empresas e praticar lavagem de dinheiro, de acordo
com dados do fisco aos quais a
reportagem teve acesso.
Conforme a Folha publicou
ontem, a Receita iniciou uma
devassa em negócios do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado
José Sarney (PMDB-AP), e empresas e pessoas ligadas direta
e indiretamente à família.
Os auditores detectaram elementos que configuram crimes
contra a ordem tributária, como envio ilegal de recursos ao
exterior, contratos de câmbio
falsos e lavagem de dinheiro. A
investigação está em curso e
ainda não houve autuações.
O caso se estende à Usimar,
fabricante de autopeças conhecida no final dos anos 1990 por
ter recebido recursos da extinta Sudam (Superintendência
de Desenvolvimento da Amazônia) para um projeto no Maranhão que não saiu do papel.
O episódio ocorreu na gestão
da governadora Roseana Sarney, irmã de Fernando, que hoje ocupa novamente o posto.
Por meio de nota, Fernando
Sarney afirmou que a fiscalização da Receita é de rotina e nada tem a ver com câmbio e lavagem de dinheiro. Ele negou
qualquer ligação com a Usimar.
O empresário disse ainda
que a fiscalização não tem relação com a saída de Lina Vieira
do comando da Receita porque
foi iniciada antes da nomeação
dela para o cargo. No entanto,
foi na gestão de Lina que a Justiça Federal expediu um ofício
determinando celeridade na
investigação. A receita constituiu então um grupo especial
de fiscalização com auditores
de fora do Maranhão.
Entre os alvos do fisco estão
Dulce de Britto Freire, Walfredo Dantas de Araújo e Thucydides Barbosa Frota, que constam como sócios do grupo Marafolia, especializado em shows
e eventos. Segundo a PF, Fernando Sarney e sua mulher,
Teresa Murad, "são os donos
de fato" do negócio.
Daniel Britto, filho e advogado de Dulce, nega que sua mãe
seja laranja dos Sarney. Segundo ele, além de ser sócia-proprietária do Marafolia desde
1995, Dulce é diretora de eventos do sistema Mirante de comunicações há uma década.
O Marafolia e seus supostos
proprietários estão no rol dos
investigados pela PF na Operação Boi Barrica (rebatizada de
Faktor). A investigação se desdobrou em cinco inquéritos.
Fernando foi indiciado em três,
por formação de quadrilha,
gestão de instituição financeira
irregular, lavagem de dinheiro
e falsidade ideológica. Walfredo e Thucydides já foram indiciados, entre outros crimes,
por formação de quadrilha.
Na manifestação sobre o trabalho da PF, a Procuradoria da
República no Maranhão informou que "os valores que transitam nas contas dos sócios laranjas [da família Sarney] são
incompatíveis com a situação
financeira" deles, "bem como
incompatíveis com o valores
declarados ao fisco".
Conforme dados obtidos pela polícia, Dulce movimentou
em 2003 em suas contas R$ 1,9
milhão. Declarou à Receita, porém, rendimentos de R$ 110
mil. Ela tem também em seu
nome a empresa Britto Freire
Promoções Ltda, nome fantasia Clubão Jamaica, "um fenômeno na área de lucratividade
e movimentação", diz a PF.
Os policiais descrevem terem ido várias vezes ao local,
sempre fechado. Segundo vizinhos, o lugar abriria esporadicamente. Ainda assim, a empresa movimentou em 2005 e
2006 quase R$ 9 milhões.
A polícia captou diálogos de
Fernando e Teresa dando ordens aos sócios sobre como gerir o Marafolia, inclusive sobre
a divisão de dinheiro.
Segundo o Ministério Público, as escutas "permitem identificar perfeitamente, nas conversas com os sócios laranjas e
com parceiros comerciais, não
só a posição de proprietário do
empreendimento Marafolia
mas também a atuação negocial de Fernando, que toma todas as decisões importantes".
Num dos inquéritos da PF, é
transcrita conversa entre Teresa e um homem não identificado (HNI) sobre um evento feito
pelo Marafolia. "HNI diz que
ficou o 166 para Tete [Teresa] e
FS [Fernando]. HNI diz que
falta receber 500 mil do governo que não receberam."
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