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EM FAMÍLIA
Prefeito de Sobral, Cid Gomes governa cidade do Ceará com o PT de Lula e diz considerar FHC um "frouxo"
PFL fica com "ossinho", diz irmão de Ciro
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOBRAL (CE)
O prefeito Cid Gomes (PPS), 39,
não repete na cidade cearense de
Sobral (a 222 km de Fortaleza) a
aliança nacional de seu irmão Ciro -que se aproximou de setores
considerados conservadores da
política para tentar chegar à Presidência da República.
Cid se transformou em liderança regional graças aos efeitos de
uma aliança com o PT de Luiz
Inácio Lula da Silva. Foi, aliás, para derrubar os setores mais tradicionais da política municipal, representados, em Sobral, pelo PFL
-hoje próximo a Ciro no cenário
nacional- e pelo PMDB, que Cid
conseguiu atrair o PT em 1996,
quando se elegeu prefeito pela
primeira vez.
Assim como seu irmão presidenciável, Cid tem uma inclinação a frases fortes. Afirma que o
PFL tem que manter ""uma distância regulamentar" da campanha de Ciro. "Fica com um ossinho aí", disse sobre o partido de
Jorge Bornhausen. Na mesma linha, chamou o presidente Fernando Henrique Cardoso de
"frouxo" durante a entrevista em
seu gabinete em Sobral.
Agência Folha - Nacionalmente,
não parece uma traição a proximidade entre Tasso (PSDB) e Ciro?
Cid Gomes - Não, de maneira alguma. Em 1998, o Ciro se lançou
candidato e conseguiu preservar a
relação com o Tasso. Mas o Tasso
se dedicou muito ao Fernando
Henrique, muito, e os caras (do
PSDB) não ficaram satisfeitos. Eu
acho que também agora está diferente. O Tasso fez todo o sacrifício
e não foi reconhecido. Agora,
com muita razão, ele não vai fazer
esse sacrifício todo, não, porque o
candidato (Serra) é pior.
Agência Folha - Caso vença, o sr.
acredita que Ciro conseguirá a harmonia que existe em Sobral, com o
apoio do PT e do PSDB?
Cid - Quem pauta a relação de
Executivo e Legislativo é o Executivo. Aqui em Sobral, nos primeiros seis meses de mandato, você
pensa que eu não tive problema?
Tive, sim senhora.
Chegou o presidente da Câmara
aqui, que era uma pessoa que foi
criada junto conosco, mas veio
""cheio da razão" reclamar. Os vereadores chegaram a derrubar
um veto meu, mas aí eu endureci.
Só então a gente conseguiu encontrar um equilíbrio.
Agência Folha - Em boa medida,
FHC manteve essa harmonia.
Cid - Mas sabe quando é que eu
me decepcionei com o Fernando
Henrique? Você lembra que o Tribunal Superior Eleitoral cassou o
mandato do Humberto Lucena
(ex-senador pelo PMDB-PB que,
em 1994, havia utilizado a gráfica
do Senado para imprimir material de campanha)? Aí o Senado
aprovou uma anistia e ele [FHC"
sancionou (em 1995).
Essas coisas são instintivas. O
senador lá viu isso e pensou: "O
cabra é frouxo". FHC ficou contra
toda a opinião pública em nome
de atender uma harmonia entre
os Poderes. Harmonia é uma coisa, apoiar uma atitude antiética, é
outra. Ali eu me decepcionei e as
pessoas viram: um frouxo.
Agência Folha - E quanto ao PT?
Não há experiências que deram
certo aqui?
Cid - Veja bem, são experiências
assim, de dia-a-dia, até positivas.
Mas que não resolvem o problema. O orçamento participativo eu
uso aqui, a renda mínima, mas isso é paliativo. Você tem que atacar o centro da tensão, você tem
que mexer na equação fiscal. Nesse aspecto, ou o PT não tem um
projeto ou, se tem, não diz.
Agência Folha - O que o sr. acha
da aproximação do PFL com o Ciro?
Cid - Que se reserve no seu devido lugar, mantenha distância, a
distância regulamentar. Fica com
um ossinho aí (risos).
Agência Folha - Mas o PFL tem
grandes colégios eleitorais, o Antonio Carlos Magalhães na Bahia, por
exemplo.
Cid - O ACM, apesar de todo o
fetiche que se faz contra ele, é um
cara que tem um grande mérito
na Bahia, fez uma excelente administração. É talvez, no Brasil, apesar de o chamarem de oligarquia,
o cara que formou mais quadros.
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