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REFORMA AOS PEDAÇOS
Guimarães quer converter IR em "Imposto Robin Hood"
Relator admite que projeto pode elevar carga tributária
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O deputado Virgílio Guimarães
(PT-MG) admitiu ontem que o
projeto de reforma tributária, do
qual é relator, abre brechas para o
aumento da carga tributária.
"Sem dúvida o sistema tributário é muito vulnerável", disse Guimarães. "A realização plena do
sistema tributário é na legislação
infraconstitucional. Isso merece
muita atenção. Eu defendo aqueles que apontam o risco, mas não
[os que] apontam a certeza [de
aumento da carga tributária]."
Ele participou de debate sobre a
reforma promovido pela Força
Sindical, em São Paulo. Também
estavam presentes o presidente da
Fecomercio-SP (Federação do
Comércio do Estado de São Paulo), Abram Szajman, o próprio
presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o coordenador de estudos tributários da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), Cláudio Vaz, e o tributarista Ives Gandra Martins.
Para o deputado, porém, "essa
talvez seja a reforma tributária
mais preocupada em ter instrumentos de controle" contra a possibilidade de elevação dos impostos. O relator disse ainda que é
preciso esperar pela queda na taxa
de juros para que caia também a
carga tributária. Ele respondia à
afirmação de Szajman e de Gandra Martins de que era impossível
esperar uma carga menor devido
ao tamanho do Estado brasileiro.
"O principal gasto [do Estado] é
a taxa de juros. Precisamos derrubar a taxa de juros. Esse é o nosso
inimigo central", disse Guimarães. "Aí sim vamos poder reduzir
a carga tributária." Ele acredita
porém que "a carga tributária deve ficar neutra". "Para quem vai
investir, para quem vai exportar,
quem vai produzir e para as populações mais pobres, a carga tributária cai. Para os sonegadores,
[para] os que apostam na guerra
fiscal, a carga vai fazer justiça."
Discussão
Guimarães e Gandra Martins
chegaram a discutir. O relator,
após ouvir as críticas do advogado, disse: "A reforma tem que ser
equilibrada, adequada, sem esses
comandos aparentemente auto-aplicáveis, que só se aplicam para
o aumento da arrecadação dos
advogados tributaristas". O tributarista respondeu que "certamente os advogados ganharão muito
dinheiro graças", justamente, "à
reforma tributária", pois ela criará disputas a serem resolvidas.
Uma "grande novidade" da
proposta, segundo o relator, é a
maior função redistributiva do
Imposto de Renda. "O IR, que é o
Imposto de Renda, seria melhor
se ele fosse chamado de IRH, Imposto Robin Hood", pois vai "tirar do rico e passar para o pobre".
Os instrumentos para isso, ele
disse, serão acertados em legislação infraconstitucional. O dinheiro que vai "para o pobre" será o
Imposto de Renda negativo. "Vai
se aproximar muito da legislação
que está em tramitação do projeto
de renda mínima, do senador
[Eduardo] Suplicy [PT-SP]."
Estatização
O tributarista Ives Gandra Martins afirmou ontem que existe o
risco de que a implementação de
progressividade no ITCMD (imposto sobre a herança), prevista
na reforma tributária, possa levar
à estatização ou à desnacionalização de indústrias brasileiras.
Afirmando que o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) defendeu como alíquota máxima
"razoável" 35% para as heranças,
Gandra Martins disse: "Como os
grandes empresários são as grandes fortunas, cada vez que morrer
um grande empresário no país,
seus herdeiros teriam que vender
um terço [da empresa] ou entregar um terço para pagar o tributo.
Em duas gerações, nós teríamos a
estatização das empresas".
Guimarães disse defender a exclusão do patrimônio produtivo
da tributação. Caso contrário, ele
disse, o país poderia "afugentar
investimentos", o que "não seria
inteligente". Essa exclusão, entretanto, não consta do relatório.
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