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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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Frase acalma oposição na Venezuela

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiu preventivamente para evitar protestos hoje em sua visita à Venezuela, ao lado do presidente Hugo Chávez: em entrevista no Brasil, Lula se declarou a favor de um referendo sobre o mandato de Chávez, desde que resguardadas as premissas constitucionais. Disse tudo o que a poderosa oposição venezuelana queria ouvir, mas sem desagradar Chávez.
A declaração de Lula não foi casual nem de improviso: foi cautelosamente articulada por setores diplomáticos de Brasília e de Caracas e executada durante entrevista dele a correspondentes estrangeiros, na sexta-feira. Jornais de diferentes países, inclusive da Venezuela, reproduziram a manifestação favorável ao referendo, que pretende antecipar as eleições e encurtar o mandato de Chávez 2007. Os oposicionistas concordaram em não importunar Lula em sua visita, programada para começar ontem.
Segundo a imprensa internacional, Lula disse que o referendo "está previsto na Constituição, é legal" e que, se a oposição cumprir os requisitos, como crê que já o fez, deverá ser realizado normalmente. Na prática, Lula não disse nada demais, mas agradou tanto a oposição, ao defender o plebiscito, quando a Chávez, que rechaça a idéia alegando que os requisitos não foram cumpridos. "Estamos confiantes de que não vai haver nenhum problema, nenhum incidente, nenhuma manifestação", disse o embaixador do Brasil, Ruy Nogueira.
Pelo sim, pelo não, o governo de Chávez reforçou a segurança ostensiva nas ruas e principalmente dentro do hotel Hilton, no centro da capital, onde Lula e sua comitiva deveriam ficar hospedados. Militar reformado, Chávez mandou dispor homens da Guarda Nacional, com uniformes de campanha e boinas vermelhas, desde a porta até os andares do hotel.
Se aparentemente acalmou a oposição, Lula surpreendeu negativamente ontem os cerca de 40 empresários brasileiros que têm negócios na Venezuela e que têm agenda paralela à visita: foi cancelado de última hora o principal acordo que seria assinado, que previa uma linha de crédito de US$ 1,5 bilhão do BNDES para exportação de bens e serviços em infra-estrutura para a Venezuela. Chávez oferecia petróleo como garantia. O Brasil recusou.
Hoje, empresários dos dois países se reúnem para tentar também uma solução para a dívida de mais de US$ 10 bilhões do setor privado da Venezuela com o Brasil. Por causa do controle do câmbio e das rígidas regras de uso de dólar, os venezuelanos não conseguem crédito para quitar suas dívidas. Já o governo está rigorosamente em dia com o Brasil.


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