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Frase acalma oposição na Venezuela
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva agiu preventivamente para
evitar protestos hoje em sua visita
à Venezuela, ao lado do presidente Hugo Chávez: em entrevista no
Brasil, Lula se declarou a favor de
um referendo sobre o mandato de
Chávez, desde que resguardadas
as premissas constitucionais. Disse tudo o que a poderosa oposição
venezuelana queria ouvir, mas
sem desagradar Chávez.
A declaração de Lula não foi casual nem de improviso: foi cautelosamente articulada por setores
diplomáticos de Brasília e de Caracas e executada durante entrevista dele a correspondentes estrangeiros, na sexta-feira. Jornais
de diferentes países, inclusive da
Venezuela, reproduziram a manifestação favorável ao referendo,
que pretende antecipar as eleições
e encurtar o mandato de Chávez
2007. Os oposicionistas concordaram em não importunar Lula
em sua visita, programada para
começar ontem.
Segundo a imprensa internacional, Lula disse que o referendo
"está previsto na Constituição, é
legal" e que, se a oposição cumprir os requisitos, como crê que já
o fez, deverá ser realizado normalmente. Na prática, Lula não
disse nada demais, mas agradou
tanto a oposição, ao defender o
plebiscito, quando a Chávez, que
rechaça a idéia alegando que os
requisitos não foram cumpridos.
"Estamos confiantes de que não
vai haver nenhum problema, nenhum incidente, nenhuma manifestação", disse o embaixador do
Brasil, Ruy Nogueira.
Pelo sim, pelo não, o governo de
Chávez reforçou a segurança ostensiva nas ruas e principalmente
dentro do hotel Hilton, no centro
da capital, onde Lula e sua comitiva deveriam ficar hospedados.
Militar reformado, Chávez mandou dispor homens da Guarda
Nacional, com uniformes de campanha e boinas vermelhas, desde
a porta até os andares do hotel.
Se aparentemente acalmou a
oposição, Lula surpreendeu negativamente ontem os cerca de 40
empresários brasileiros que têm
negócios na Venezuela e que têm
agenda paralela à visita: foi cancelado de última hora o principal
acordo que seria assinado, que
previa uma linha de crédito de
US$ 1,5 bilhão do BNDES para exportação de bens e serviços em infra-estrutura para a Venezuela.
Chávez oferecia petróleo como
garantia. O Brasil recusou.
Hoje, empresários dos dois países se reúnem para tentar também uma solução para a dívida de
mais de US$ 10 bilhões do setor
privado da Venezuela com o Brasil. Por causa do controle do câmbio e das rígidas regras de uso de
dólar, os venezuelanos não conseguem crédito para quitar suas dívidas. Já o governo está rigorosamente em dia com o Brasil.
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