São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2004

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CAMPO MINADO

Ouvidoria Agrária diz que promoverá "desarmamento geral" em 2005

Invasões de terra batem novo recorde e preocupam governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dizendo-se "muitíssimo" preocupado com o acirramento da tensão no campo, o governo divulgou ontem mais um recorde de invasões de terra e anunciou que fará "desarmamento geral" no campo a partir de 2005.
A informação é do ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, que vê a "situação de armamento no campo" como principal causa dos conflitos.
"A situação preocupa muitíssimo o governo federal. Sabemos que fazendeiros e sem-terra estão armados. A partir de 2005, vamos fazer um desarmamento geral."
As ações de desarmamento devem ter Pará, Mato Grosso, Rondônia, Bahia e Paraná como primeiros alvos. Antes, no fim deste ano, deve ser lançado, por decreto presidencial, o Plano Nacional de Combate à Violência no Campo.
Na última segunda, em Camaçari (BA), confronto entre seguranças da fazenda Monte Cristo e sem-terra deixou 60 feridos e 72 seguranças presos, soltos ontem.
O delegado Tadeu Caldas Viana Braga, 41, cujos familiares são donos da área, disse ontem que usou a "força indispensável" para tentar expulsar os cerca de 350 agricultores ligados ao MLT (Movimento de Luta pela Terra).
"Apenas exerci a lei civil do "desforço incontinenti", pela qual um proprietário de terras pode defender sua área com o uso da força", disse. Ao menos 200 sem-terra permaneciam no local, e 80 policiais ficaram do lado de fora.

Balanço
Ontem, a Ouvidoria Agrária Nacional divulgou balanço de conflitos fundiários. O número de invasões entre janeiro e julho deste ano avançou em 59% em relação a 2003 (de 160 para 255 casos).
As 255 invasões nos sete primeiros meses deste ano superam o total registrado em todo o ano em 2000 (236), 2001 (158), 2002 (103) e 2003 (222). O governo Lula bateu outro recorde: abril deste ano teve 109 invasões -o maior já registrado num único mês pela ouvidoria, criada em 1999.
O número de mortes no campo, porém, tende a fechar o ano de 2004 abaixo do registrado em 2003. Entre janeiro e julho deste ano, a ouvidoria contabilizou seis assassinatos. Em todo o ano de 2003, foram 42 mortes.
(EDUARDO SCOLESE)


Colaborou LUIZ FRANCISCO, da Agência Folha, em Salvador

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