São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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Bancos envolvidos no valerioduto têm situações opostas

Dois anos depois do mensalão vir a público, BMG cresceu e ampliou sua carteira de crédito, enquanto Rural diminuiu

O número de agências do Rural, que virou réu na ação penal aberta pelo Supremo, caiu de 79 para 21; BMG não foi denunciado à Justiça

MARTA SALOMON
SHEILA D'AMORIM

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois anos depois do escândalo do mensalão vir a público, os dois bancos envolvidos nas investigações registram destinos diferentes. Enquanto o BMG conseguiu ampliar as operações com crédito consignado e não foi formalmente denunciado à Justiça, o Rural-réu em ação penal aberta pelo Supremo Tribunal Federal por gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro- encolheu.
O BMG cresceu e ampliou a carteira de crédito focada nos empréstimos com desconto em folha de pagamento, justamente as operações apontadas como a principal vantagem obtida no início do governo Lula.
O Rural corresponde atualmente à terça parte do que era no final de 2004, antes do esquema de desvio de recursos envolvendo o publicitário Marcos Valério ser divulgado. Mas, segundo sua assessoria, o banco "já voltou a lucrar e é uma instituição com perspectivas de futuro bastante positivas".
Com a imagem bastante abalada depois de ser apontado pelo Ministério Público como núcleo financeiro da "organização criminosa", o Rural contabilizava, no início deste ano, ativos totais de R$ 9,6 bilhões. Segundo dados do Banco Central, esse valor é quase 70% menor do que os R$ 30,4 bilhões verificados em dezembro de 2004.
As operações de crédito foram reduzidas em quase 80% no Rural. Passaram de R$ 2,8 bilhões, em dezembro de 2004, para R$ 577 milhões, em dezembro de 2006. Os empréstimos classificados como de má qualidade, por terem chances reduzidas de serem quitados, pularam de R$ 106,6 milhões para R$ 248,3 milhões, no período, mostram os balanços.
Segundo a assessoria do Rural, o número de agências teria diminuído de 79 para 21, e o número de funcionários, de 2.300 para 600. Depois do que foi considerado o pior momento da crise, porém, o banco já teria captado R$ 300 milhões no mercado "como forma de alavancar suas operações".
O banco mineiro é investigado por empréstimos nunca pagos de R$ 29 milhões a duas empresas de Marcos Valério em 2003, base para o processo por gestão fraudulenta. Saques em dinheiro em suas agências sem identificação precisa dos sacadores justificaram a abertura de ação por crime de lavagem de dinheiro. A defesa, comandada pelo ex-ministro José Carlos Dias, alega: "Se houve erros nas classificações de risco de créditos, esses não podem ser atribuídos a fraudes".
O BMG não foi denunciado pelo Ministério Público, mas foi apontado no inquérito do mensalão e pela CPI dos Correios como o outro banco que abasteceu o valerioduto, com mais três operações de crédito também consideradas "de fachada" (R$ 26 milhões).
Mesmo personagem da crise, a instituição conseguir aumentar seus ativos em quase 130%. de R$ 22,6 bilhões, em dezembro de 2004, para R$ 51,6 bilhões no final do ano passado. As operações de crédito subiram 45%: de R$ 1,9 bilhões para R$ 2,7 bilhões no mesmo período. Em compensação, há uma queda de 30% no volume de depósitos, de R$ 1,3 bilhão para R$ 889 milhões. Isso, segundo especialistas, sinaliza que o banco tem tido dificuldades em captar junto ao público e tem se valido do capital próprio para sustentar sua expansão.


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