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Bancos envolvidos no valerioduto têm situações opostas
Dois anos depois do mensalão vir a público, BMG cresceu e ampliou sua carteira de crédito, enquanto Rural diminuiu
O número de agências do Rural, que virou réu na ação penal aberta pelo Supremo, caiu de 79 para 21; BMG não foi denunciado à Justiça
MARTA SALOMON
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dois anos depois do escândalo do mensalão vir a público, os
dois bancos envolvidos nas investigações registram destinos
diferentes. Enquanto o BMG
conseguiu ampliar as operações com crédito consignado e
não foi formalmente denunciado à Justiça, o Rural-réu em
ação penal aberta pelo Supremo Tribunal Federal por gestão fraudulenta e lavagem de
dinheiro- encolheu.
O BMG cresceu e ampliou a
carteira de crédito focada nos
empréstimos com desconto em
folha de pagamento, justamente as operações apontadas como a principal vantagem obtida
no início do governo Lula.
O Rural corresponde atualmente à terça parte do que era
no final de 2004, antes do esquema de desvio de recursos
envolvendo o publicitário Marcos Valério ser divulgado. Mas,
segundo sua assessoria, o banco "já voltou a lucrar e é uma
instituição com perspectivas de
futuro bastante positivas".
Com a imagem bastante abalada depois de ser apontado pelo Ministério Público como núcleo financeiro da "organização
criminosa", o Rural contabilizava, no início deste ano, ativos
totais de R$ 9,6 bilhões. Segundo dados do Banco Central, esse valor é quase 70% menor do
que os R$ 30,4 bilhões verificados em dezembro de 2004.
As operações de crédito foram reduzidas em quase 80%
no Rural. Passaram de R$ 2,8
bilhões, em dezembro de 2004,
para R$ 577 milhões, em dezembro de 2006. Os empréstimos classificados como de má
qualidade, por terem chances
reduzidas de serem quitados,
pularam de R$ 106,6 milhões
para R$ 248,3 milhões, no período, mostram os balanços.
Segundo a assessoria do Rural, o número de agências teria
diminuído de 79 para 21, e o número de funcionários, de 2.300
para 600. Depois do que foi
considerado o pior momento
da crise, porém, o banco já teria
captado R$ 300 milhões no
mercado "como forma de alavancar suas operações".
O banco mineiro é investigado por empréstimos nunca pagos de R$ 29 milhões a duas
empresas de Marcos Valério
em 2003, base para o processo
por gestão fraudulenta. Saques
em dinheiro em suas agências
sem identificação precisa dos
sacadores justificaram a abertura de ação por crime de lavagem de dinheiro. A defesa, comandada pelo ex-ministro José
Carlos Dias, alega: "Se houve
erros nas classificações de risco
de créditos, esses não podem
ser atribuídos a fraudes".
O BMG não foi denunciado
pelo Ministério Público, mas
foi apontado no inquérito do
mensalão e pela CPI dos Correios como o outro banco que
abasteceu o valerioduto, com
mais três operações de crédito
também consideradas "de fachada" (R$ 26 milhões).
Mesmo personagem da crise,
a instituição conseguir aumentar seus ativos em quase 130%.
de R$ 22,6 bilhões, em dezembro de 2004, para R$ 51,6 bilhões no final do ano passado.
As operações de crédito subiram 45%: de R$ 1,9 bilhões para
R$ 2,7 bilhões no mesmo período. Em compensação, há uma
queda de 30% no volume de depósitos, de R$ 1,3 bilhão para
R$ 889 milhões. Isso, segundo
especialistas, sinaliza que o
banco tem tido dificuldades em
captar junto ao público e tem se
valido do capital próprio para
sustentar sua expansão.
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