São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

PF só deve dar fonte do dinheiro após eleição

Polícia diz que é mais fácil saber procedência dos dólares, pois montante está seriado, do que de reais, que não estão identificados

De acordo com o Coaf, informações disponíveis não indicam que dinheiro apreendido veio de saques superiores a R$ 100 mil


ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A pequena quantidade de reais identificados -R$ 25 mil do R$ 1,168 milhão- dificulta, segundo a Polícia Federal, apontar a origem do dinheiro para a compra por petistas do dossiê contra os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, que não deve ocorrer antes das eleições. Para a PF, é mais fácil saber a procedência dos dólares do que dos reais.
Além dos reais, a PF apreendeu com os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha US$ 248,8 mil, o que totalizou cerca de R$ 1,7 milhão. Em tese seria mais fácil localizar os dólares, segundo a PF, pois todo o montante é seriado e está com cintas da casa da moeda norte-americana.
O procurador da República em Mato Grosso Mário Lúcio Avelar, que investiga a compra de dossiês, e integrantes da CPI dos Sanguessugas criticaram a PF, que não estaria agindo com rapidez na identificação da origem do dinheiro.
Os petistas foram presos com o dinheiro há dez dias, mas apenas ontem ocorreu uma reunião entre a PF e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão ligado ao Ministério da Fazenda. À noite, após o encontro, nota do Coaf diz que dados "disponibilizados hoje [ontem] pela PF indicam que, dos recursos apreendidos, apenas R$ 25 mil apresentavam identificação de origem, de três diferentes bancos, valor inferior àquele que ensejaria comunicação" por parte dos bancos ao órgão.
Ainda segundo o Coaf, nenhuma das informações disponíveis até o momento indica que o dinheiro apreendido foi proveniente de saques de valor superior a R$ 100 mil, o que obriga os bancos a informarem as operações ao órgão.
O Coaf divulgou que pesquisou em seu banco de dados os nomes dos envolvidos na negociação e não encontrou registro de comunicações de operações suspeitas relacionadas a eles. O R$ 1,75 milhão seria o pagamento pela documentação reunida pela família Vedoin, que articulou o esquema da máfia dos sanguessugas. Para a transação, os Vedoin escalaram Valdebran, que entregaria o dossiê. Em nome do PT, o emissário foi Gedimar.
Para identificar a origem dos dólares, a PF solicitou o apoio do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica, para acionar o FBI, a PF norte-americana.

Bancos
Dos R$ 25 mil tarjados, R$ 5 mil vêm de uma agência do Safra, outros R$ 5 mil da agência Lapa do Bankboston e outros R$ 15 mil do Bradesco na Barra Funda. No caso do BankBoston e do Bradesco, a referência nas cintas diz respeito a distribuidoras de dinheiro. Portanto, é possível que as notas não tenham sido sacadas nestes postos, sendo eles apenas referência de passagem do dinheiro.
A PF considera a hipótese de desvendar o caso antes das eleições se Gedimar revelar os nomes das pessoas de quem teria recebido o dinheiro. A PF também tenta descobrir um outro personagem que teria ido ao hotel em São Paulo onde os petistas foram presos para levar o dinheiro para a operação.


Colaboraram SHEILA D"AMORIM, da Sucursal de Brasília, e LEONARDO SOUZA, enviado especial a Cuiabá

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