São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2007

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Walfrido diz que não deixará o governo se for denunciado

"Eu vou enfrentar a denúncia como ministro; denúncia não é culpa", afirma petebista

Ministro diz que não quer prejudicar o governo e que seu futuro político pertence ao presidente Lula -"não sou dono do meu cargo"

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) disse que pretende permanecer no cargo de articulador político do governo mesmo que seja denunciado pela Procuradoria Geral da República no inquérito que apura o esquema do valerioduto mineiro.
"Minha disposição é a seguinte: eu vou enfrentar a denúncia como ministro; denúncia não é culpa", disse Walfrido ontem à Folha, após receber a solidariedade de seus colegas do Planalto e de políticos da base aliada no Congresso.
Questionado se havia acertado essa estratégia com Lula, Walfrido ressalvou ser essa sua disposição, mas que seu futuro pertence ao presidente: "Não sou dono do meu cargo. Já informei o presidente que estou seguro da minha inocência, mas também disse que se estiver prejudicando o governo não serei nenhum empecilho".
Sobre a eventual denúncia, declarou: "Se eu for denunciado, não vou comentar, não cabe isso, mas vou me defender no processo, desse direito eu não abdico". Ontem, Walfrido reuniu-se no Planalto com os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Franklin Martins (Comunicação) e com o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Na reunião, recebeu dos colegas o estímulo para ficar no cargo mesmo que o procurador-geral Antonio Fernando de Souza decida incluí-lo na denúncia a ser encaminhada ao Supremo Tribunal Federal.
Segundo a Folha apurou, na reunião os ministros analisaram que o governo não pode ficar na "defensiva" e afastar ministros sempre que surja uma acusação e não haja provas contra ele, como teria ocorrido com o ex-ministro Silas Rondeau (Minas e Energia).
No caso de Walfrido, a avaliação é que, pelo que foi divulgado até agora, o ministro não teria tido nenhuma participação que o comprometesse durante a campanha de reeleição do ex-governador tucano Eduardo Azeredo (MG). Segundo relato ouvido pela Folha, a não ser que surja um fato novo, a documentação reunida pela Polícia Federal não seria suficiente para incriminá-lo.
Um ministro que participou da reunião disse à Folha que não é possível dizer que um rascunho de estimativa de gastos de campanha seja prova de que Walfrido manipulou recursos da campanha e fez previsões de uso de caixa dois.
Entre a documentação em posse da PF, há folhas rascunhadas com previsões de gastos de campanhas anotadas pelo hoje ministro, na época vice-governador e candidato a deputado federal pelo PTB.
No papel havia anotação de previsão de verba da campanha de Azeredo a ser destinada a outras campanhas -tal movimentação não foi registrada na Justiça Eleitoral. Em um dos casos, a PF identificou dinheiro do esquema de Marcos Valério entrando na conta da candidata Júnia Marise uma semana depois que Walfrido fez a anotação de previsão de verba.
O ministro informou a seus colegas que na sexta-feira encaminha ao procurador-geral uma versão preliminar da auditoria encomendada por ele em sua empresa Samos. A Receita suspeita que ela tenha registrado movimentações financeiras atípicas em 2002, ano em que o ministro fez um empréstimo para Eduardo Azeredo quitar uma dívida de R$ 500 mil.
Ele disse aos ministros que a auditoria provará que em nenhum momento usou dinheiro ilícito para ajudar o tucano.
Além do encontro com os ministros, Walfrido recebeu a solidariedade de líderes do PMDB, que estiveram com ele, e recebeu telefonema de apoio de José Sarney. Ele participou também de uma reunião com chefes de gabinetes dos ministérios, quando Gilberto Carvalho disse que Walfrido tem a confiança do presidente e que todos deveriam procurar atender seus pedidos para facilitar as relações com a base aliada.


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