São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Relator decide parar processo contra Renan

Antes inclinado a recomendar o arquivamento do caso Schincariol, João Pedro anunciará hoje que vai paralisar a investigação

Pressionado por oposição e PT, relator afirma que processo ficará parado até o fim da apuração na Câmara sobre irmão do senador

SILVIO NAVARRO
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado pela oposição e por lideranças do seu partido, o senador João Pedro (PT-AM) anunciará hoje que decidiu paralisar o segundo processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que trata do caso Schincariol.
A decisão será comunicada na sessão de hoje do Conselho de Ética, então agendada para votar o relatório de João Pedro.
A maioria dos integrantes do conselho concorda com a tese. A sessão do conselho também tratará da proposta de unificar os dois processos de quebra de decoro que ainda pesam contra Renan na Casa -a suposta compra de rádios por laranjas e o que aponta Renan como beneficiário de um esquema de desvio de recursos de ministérios do PMDB.
No caso da Schincariol, Renan é acusado de ter praticado tráfico de influência para beneficiar a cervejaria no perdão de uma dívida na Receita Federal.
O relator argumenta que optou por sobrestar (termo regimental usado no sentido de "congelar") o processo até que a Câmara conclua a investigação do deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão de Renan, arrolado na mesma denúncia. "A Câmara pode trazer novos elementos. Se houver um indício, vamos retomar os trabalhos aqui. Não estamos arquivando", disse o petista.
Apesar de afirmar que sua decisão tem cunho técnico, João Pedro admitiu a pressão política que passou a sofrer desde que anunciou na sua bancada que arquivaria o caso.
Ele não convocou nenhuma testemunha nem ouviu a Receita para elaborar seu parecer. Recebeu, apenas, a defesa por escrito de Renan.
"Tem o componente político do resultado da primeira representação. Por mais que se tenha cuidado de separar questões técnicas, a questão política é muito forte", disse.
Suplente do ministro Alfredo Nascimento (Transportes), João Pedro enfrentou constrangimento ao ouvir de integrantes do próprio partido que não deveria arquivar o caso agora. Na semana passada, a tese do "sobrestamento" foi anunciada na tribuna por Aloizio Mercadante (PT-SP).
Tanto no governo quanto na oposição há uma espécie de consenso de que o caso Schincariol não tem força suficiente para levar Renan de novo ao plenário numa votação de cassação de mandato. Aliados de Renan, inclusive, tentaram anexar os processos contra ele para tentar aproveitar o clima de arquivamento desse caso e enterrar os demais.
Como optou por não investigar o caso, João Pedro afirmou que procuraria o relator do processo contra Olavo Calheiros na Câmara, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), para levar um "informe" do seu parecer.
"Ninguém está a reboque de ninguém. O foco das investigações é a venda da fábrica, o que envolve o irmão do senador Renan", disse o petista.
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo, indeferiu o mandado de segurança no qual o senador Almeida Lima (PMDB-SE) pedia que as votações dos processos por quebra de decoro Conselho de Ética fossem secretas.


Colaborou SILVANA DE FREITAS, da Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Mensalão: Lula pode achar o que quiser, diz procurador
Próximo Texto: Sem Renan, base fecha um acordo com a oposição
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.