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Entrevista Ivan Valente
Candidatos do PT, do DEM e do PSDB são iguais, afirma Valente
Deputado federal diz que busca do poder a todo custo matou o PT e que Marta não é de esquerda
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma campanha de propostas
parecidas, sem profundidade:
"Marta, Kassab e Alckmin são
iguais". Essa é a visão do candidato do PSOL à Prefeitura de
São Paulo, Ivan Valente, 62. Para ele, o PT não é mais de esquerda, pois a busca pelo poder
"a todo custo" matou o partido.
Valente não reclama de falta
de recursos, mas do "apartheid" da mídia, que dá pouco
espaço para o debate entre os
candidatos. Com apenas 1% das
intenções de voto, ele insiste
que irá para o segundo turno.
FOLHA - Faltam propostas com
conteúdo aos líderes das pesquisas?
IVAN VALENTE - As propostas são
muito parecidas. E a imprensa
não destaca aquelas que não
são. As propostas de saúde viraram uma grande invenção, uma
sopa de letras: o CRI, o SIM, o
PLUS, o PAS, o CEU Saúde...
Ninguém fala em implantar o
SUS. Isso faz diferença. Na educação, todo mundo fala do
CEU, mas "o meu CEU é melhor porque ele tem piscina de
água quente". Ninguém fala de
qualidade na educação.
FOLHA - O que fazer no trânsito?
VALENTE - Quem disser que vai
resolver o problema do trânsito
e transporte em São Paulo no
curto prazo é mentiroso. A situação se acumulou. Não se investiu em três décadas no metrô e no transporte sobre trilho.
Você não tem condições de fazê-lo de imediato, porque depende também de recursos federais e estaduais. Você tem de
ter política que desestimule o
uso individual do automóvel.
FOLHA - Em um mandato?
VALENTE - Em um mandato você planta a política pública. Se
você criar a empresa municipal
de trânsito e ela funcionar direito, quero ver quem vai desmanchar depois. A área da saúde é semelhante. Em quatro
anos eu implantaria definitivamente o SUS. Se você planta
uma política pública de fôlego,
é difícil reverter. O que está
acontecendo é o contrário. Temos uma política privatizante.
FOLHA - A coligação de Marta Suplicy é de esquerda? E o PT?
VALENTE - Eu não considero. O
PT transformou políticas públicas universalizantes, o que
era uma marca da esquerda, em
políticas públicas focadas, assistenciais, coisa que qualquer
partido tradicional pode fazer.
Você não vê mais a Marta falar
em participação popular. É "eu
faço", como toda a direita faz.
Não tem o espírito coletivo, a
marca da esquerda.
FOLHA - E o PSOL?
VALENTE - O PSOL está tentando recriar o imaginário de esquerda. Quando um partido
que representou a esquerda
passa a ter um descrédito - e o
PT foi isso-, não se reafirma
novamente um projeto de esquerda em poucos anos. Você
precisa afirmar um programa,
resgatar ideologicamente e batalhar contra a descrença que o
PT deixou. Temos um programa alternativo com coisas que
o PT abandonou -um programa democrático e popular.
FOLHA - Um caminho semelhante?
VALENTE - Não é semelhante
porque a história não se repete
senão como farsa, como diria
Marx. É possível construir um
caminho de esquerda sob novas
condições.
FOLHA - O sr. tem 1% dos votos.
Quem apoiará no segundo turno?
VALENTE - Nós vamos para o segundo turno... Esta é a resposta.
Porque a pergunta despolitiza o
debate. Ela é desmobilizadora e
diz ao eleitor que ele não tem
que fazer a boa escolha, e que o
segundo turno é exatamente a
escolha do menos pior.
FOLHA - Como candidato no segundo turno, deixaria Marta, Alckmin e Kassab irem ao seu palanque?
VALENTE - Deixaria só quem
tem algum grau de coerência. A
hipótese é improvável -não a
de eu ir para o segundo turno,
mas a de eles virem me apoiar.
FOLHA - Mesmo a Marta?
VALENTE - Certamente. O PT
mudou muito. Mas não travo
luta com o PT: nosso discurso
não é raivoso, é politizado.
FOLHA - Marta, Kassab e Alckmin. É
tudo igual?
VALENTE - É. É bastante parecido, apesar de cada partido ter
uma história. Do ponto de vista
estruturante das propostas para a sociedade, são muito iguais.
Um ou outro pode ter uma
preocupação mais social, manter relações mais intensivas
com as periferias, mas nada que
o clientelismo de direita não
possa fazer. Faz e sempre fez.
Maluf fez, Kassab faz etc. Não
há uma grande diferença.
FOLHA - Como vê o governo Lula?
VALENTE - O governo Lula se
beneficia de um momento internacional compensador. A
pequena política assistencial
rende uma popularidade enorme. Lula tem popularidade nos
setores mais populares, diferente do que o PT já foi. Já foi
uma grande hegemonia nos
movimentos sociais organizados, mas o PT ajudou a desorganizar os setores organizados.
FOLHA - Faltou coragem?
VALENTE - Certamente. Precisa
fazer enfrentamentos, tem de
acabar com a lógica que concentra renda, riqueza e terra.
Não é à toa que ele governa com
uma base ultraconservadora.
FOLHA - O PSOL enfrenta a descrença que hoje afeta a esquerda?
VALENTE - É o contrário: o
PSOL tem uma simpatia. O PT
criou uma rejeição. Muita gente séria que se desiludiu com o
PT. O problema é implantar de
novo um projeto de esquerda,
porque demora um tempo. Por
isso não temos pressa em chegar ao poder a todo custo.
FOLHA - Esse foi o problema do PT?
VALENTE - Isso matou o PT: chegar ao poder a todo custo.
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