São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2008

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Entrevista Ivan Valente

Candidatos do PT, do DEM e do PSDB são iguais, afirma Valente

Deputado federal diz que busca do poder a todo custo matou o PT e que Marta não é de esquerda

ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma campanha de propostas parecidas, sem profundidade: "Marta, Kassab e Alckmin são iguais". Essa é a visão do candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Ivan Valente, 62. Para ele, o PT não é mais de esquerda, pois a busca pelo poder "a todo custo" matou o partido. Valente não reclama de falta de recursos, mas do "apartheid" da mídia, que dá pouco espaço para o debate entre os candidatos. Com apenas 1% das intenções de voto, ele insiste que irá para o segundo turno.

 

FOLHA - Faltam propostas com conteúdo aos líderes das pesquisas?
IVAN VALENTE
- As propostas são muito parecidas. E a imprensa não destaca aquelas que não são. As propostas de saúde viraram uma grande invenção, uma sopa de letras: o CRI, o SIM, o PLUS, o PAS, o CEU Saúde...
Ninguém fala em implantar o SUS. Isso faz diferença. Na educação, todo mundo fala do CEU, mas "o meu CEU é melhor porque ele tem piscina de água quente". Ninguém fala de qualidade na educação.

FOLHA - O que fazer no trânsito?
VALENTE
- Quem disser que vai resolver o problema do trânsito e transporte em São Paulo no curto prazo é mentiroso. A situação se acumulou. Não se investiu em três décadas no metrô e no transporte sobre trilho.
Você não tem condições de fazê-lo de imediato, porque depende também de recursos federais e estaduais. Você tem de ter política que desestimule o uso individual do automóvel.

FOLHA - Em um mandato?
VALENTE
- Em um mandato você planta a política pública. Se você criar a empresa municipal de trânsito e ela funcionar direito, quero ver quem vai desmanchar depois. A área da saúde é semelhante. Em quatro anos eu implantaria definitivamente o SUS. Se você planta uma política pública de fôlego, é difícil reverter. O que está acontecendo é o contrário. Temos uma política privatizante.

FOLHA - A coligação de Marta Suplicy é de esquerda? E o PT?
VALENTE
- Eu não considero. O PT transformou políticas públicas universalizantes, o que era uma marca da esquerda, em políticas públicas focadas, assistenciais, coisa que qualquer partido tradicional pode fazer.
Você não vê mais a Marta falar em participação popular. É "eu faço", como toda a direita faz.
Não tem o espírito coletivo, a marca da esquerda.

FOLHA - E o PSOL?
VALENTE
- O PSOL está tentando recriar o imaginário de esquerda. Quando um partido que representou a esquerda passa a ter um descrédito - e o PT foi isso-, não se reafirma novamente um projeto de esquerda em poucos anos. Você precisa afirmar um programa, resgatar ideologicamente e batalhar contra a descrença que o PT deixou. Temos um programa alternativo com coisas que o PT abandonou -um programa democrático e popular.

FOLHA - Um caminho semelhante?
VALENTE
- Não é semelhante porque a história não se repete senão como farsa, como diria Marx. É possível construir um caminho de esquerda sob novas condições.

FOLHA - O sr. tem 1% dos votos. Quem apoiará no segundo turno?
VALENTE
- Nós vamos para o segundo turno... Esta é a resposta. Porque a pergunta despolitiza o debate. Ela é desmobilizadora e diz ao eleitor que ele não tem que fazer a boa escolha, e que o segundo turno é exatamente a escolha do menos pior.

FOLHA - Como candidato no segundo turno, deixaria Marta, Alckmin e Kassab irem ao seu palanque?
VALENTE
- Deixaria só quem tem algum grau de coerência. A hipótese é improvável -não a de eu ir para o segundo turno, mas a de eles virem me apoiar.

FOLHA - Mesmo a Marta?
VALENTE
- Certamente. O PT mudou muito. Mas não travo luta com o PT: nosso discurso não é raivoso, é politizado.

FOLHA - Marta, Kassab e Alckmin. É tudo igual?
VALENTE
- É. É bastante parecido, apesar de cada partido ter uma história. Do ponto de vista estruturante das propostas para a sociedade, são muito iguais.
Um ou outro pode ter uma preocupação mais social, manter relações mais intensivas com as periferias, mas nada que o clientelismo de direita não possa fazer. Faz e sempre fez.
Maluf fez, Kassab faz etc. Não há uma grande diferença.

FOLHA - Como vê o governo Lula?
VALENTE
- O governo Lula se beneficia de um momento internacional compensador. A pequena política assistencial rende uma popularidade enorme. Lula tem popularidade nos setores mais populares, diferente do que o PT já foi. Já foi uma grande hegemonia nos movimentos sociais organizados, mas o PT ajudou a desorganizar os setores organizados.

FOLHA - Faltou coragem?
VALENTE
- Certamente. Precisa fazer enfrentamentos, tem de acabar com a lógica que concentra renda, riqueza e terra.
Não é à toa que ele governa com uma base ultraconservadora.

FOLHA - O PSOL enfrenta a descrença que hoje afeta a esquerda?
VALENTE
- É o contrário: o PSOL tem uma simpatia. O PT criou uma rejeição. Muita gente séria que se desiludiu com o PT. O problema é implantar de novo um projeto de esquerda, porque demora um tempo. Por isso não temos pressa em chegar ao poder a todo custo.

FOLHA - Esse foi o problema do PT?
VALENTE
- Isso matou o PT: chegar ao poder a todo custo.


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