São Paulo, Terça-feira, 26 de Outubro de 1999
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PANTANAL
Área em poder de movimento chegaria a 100 mil ha; comissão da Câmara decide investigar atividades
Reverendo Moon compra terras no MS

Evelson de Freitas/Folha Imagem
Mergulhadores na gruta Buraco das Abelhas, que fica em propriedade do movimento de Moon


ROBERTO SAMORA
da Agência Folha, em Jardim

A Associação das Famílias para a Unificação e Paz Mundial, movimento liderado pelo reverendo Sun Myung Moon, 79, já comprou no sudoeste do Mato Grosso do Sul pelo menos 50 mil hectares de terras e planeja fundar uma universidade para estudar e preservar a biodiversidade da região, que inclui o Pantanal.
O movimento anuncia ter investido nos últimos cinco anos US$ 30 milhões no Projeto Nova Esperança, com sede em Jardim (270 km a sudoeste de Campo Grande). Suas propriedades estão distribuídas por pelo menos seis cidades de Mato Grosso do Sul (Jardim, Bonito, Porto Murtinho, Miranda, Guia Lopes da Laguna e Nioaque) e uma no Paraguai (Fuerte Olimpio), na fronteira.
Ontem, a Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Câmara dos Deputados decidiu criar um grupo de trabalho para investigar as ações do movimento na região.
Segundo o deputado Flávio Derzi (PMDB-MS), serão investigados os vistos de cerca de 800 estrangeiros que entraram como turistas no país e trabalham nas terras do movimento, o recolhimento de impostos e as licenças dos empreendimentos, além de questões trabalhistas e ambientais.
Segundo integrantes do governo do Estado, a área em poder do movimento pode chegar a 100 mil hectares (cerca de dois terços da área total da cidade de São Paulo).
Levantamento feito pela Agência Folha mostra que, até a última quinta-feira, apenas cerca de 8.500 hectares de terras compradas por Moon haviam sido regularizadas no cartório de Jardim. O resto ainda não estava registrado.
Essa expansão territorial faz parte de um projeto do movimento que abrange 33 municípios num raio de 200 km de Jardim.
Cesar Zaduski, 43, gerente-geral da fazenda New Hope ("Nova Esperança", em inglês), onde funciona desde o início do ano uma escola particular de ensino fundamental (antigo 1º grau) para 130 alunos da região, disse que a universidade planejada só pode dar certo se tiver centros de pesquisa em diversos lugares.
"Serão necessários vários ecossistemas para instalarmos diversas faculdades voltadas para o estudo da piscicultura, do reflorestamento, de animais silvestres, para o desenvolvimento de uma engenharia compatível com cada região", declarou.
Zaduski disse que o investimento feito até agora "não significa grande coisa", se comparado ao total das doações feitas pelos adeptos do movimento religioso em todo o mundo.
Zaduski afirmou que, em uma cerimônia marcada para fevereiro de 2000, Moon terá unido 400 milhões de casais em todo o mundo desde quando começou suas atividades. "Vamos imaginar que cada casal contribua com US$ 10. Teremos US$ 4 bilhões."
A previsão do movimento é instalar cursos de biologia, ecologia, medicina veterinária, engenharia florestal e estatística, entre outros.
Segundo Zaduski, o projeto tem preocupação com o conhecimento aplicado da biodiversidade, um dos ramos que se prevêem mais lucrativos para os negócios num futuro próximo e que fazem grandes corporações voltarem suas atenções para áreas do Brasil como a Amazônia e o Pantanal.
O movimento de Moon anuncia que pretende oferecer, em um prazo de dez anos, um ensino mais barato que as demais universidades particulares brasileiras. O projeto, que também inclui o ensino médio (antigo 2º grau), visa desenvolver a atividade econômica e turística.
A região sudoeste do Estado, além do Pantanal, conta com cidades de grande potencial turístico, como Bonito e Miranda.
Em Jardim, na fazenda Figueiras, comprada por Moon por cerca de R$ 8,8 milhões, há o Buraco das Abelhas, uma das principais atrações da cidade.
Atualmente, cerca de 130 famílias sem-terra ligadas à Fetagri (Federação dos Trabalhadores da Agricultura) estão acampadas nas margens de uma das estradas de terra que cortam a fazenda.
O bispo da diocese de Jardim, Bruno Pedron, 55, disse estar preocupado com a ação do movimento na cidade, de 23 mil habitantes. "Eles fazem uma lavagem cerebral nas pessoas", disse.
Segundo o movimento, 70 mil sul-mato-grossenses já assistiram a algum seminário na New Hope.


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