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SEGUNDO TURNO
Em debate da Globo, sem perguntas entre os candidatos, presidenciáveis viram "palestrantes'; audiência foi de 38 pontos
Na arena, Lula e Serra têm confronto mínimo
XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem perguntas de um candidato
para o outro, como previam as
novas regras, o debate promovido
ontem pela Rede Globo se assemelhou a uma palestra de Inácio
Lula da Silva (PT) e José Serra
(PSDB) para uma platéia de indecisos escolhida pela emissora.
Apenas por causa da disposição
dos concorrentes na arena montada pela TV, o debate teve alguns
momentos que beiravam o confronto. Não propriamente de
idéias, mas de tensão dramática.
O tucano chegou a responder
uma pergunta de eleitor com o
dedo apontado na direção do petista. Lula se queixou, irônico.
Ao final, dominou a cordialidade. Nos corredores da Globo, Lula
se dirigiu a Serra com uma proposta, conforme um diretor da
emissora confidenciou à Folha.
"Semana que vem a gente precisa
conversar", disse o petista.
O debate alcançou audiência de
38 pontos de média, com 46 de pico, segundo o Ibope. Cada ponto
equivale a 47 mil domicílios na
Grande São Paulo.
Com obsessão pelo tema debate, mote da campanha no segundo turno, o tucano ainda tentou
fazer perguntas ao petista. Serra
respondia um eleitor sobre a possibilidade de melhorar as aposentadorias. Lula ignorou a indagação do adversário, direcionando-se para José Paulo Giardelli, o indeciso que havia perguntado.
Ao responder sobre o aumento
do salário mínimo, o candidato
do PSDB voltou a indagar Lula.
"Eu perguntaria qual o aumento
para o ano que vem?", perguntou.
"Ele é governo", replicou Lula.
Nesse instante, o petista disse que
o salário mínimo diferenciado entre regiões poderia fazer alguns
Estados pagarem uma "merreca".
O formato à moda da TV americana foi a grande novidade para
os telespectadores. Lula e Serra
circulavam, em pé, ao lado um do
outro. A grande vantagem de Lula
nas pesquisas, que o fazia evitar
qualquer ensaio de confronto ou
provocação, suplantou a possibilidade de maior conflito.
Em vez do discurso ambíguo
em relação ao governo Fernando
Henrique Cardoso, como ocorreu
em debates do primeiro turno,
Serra destacou ações oficiais em
quase todas as questões, como
moradia, ações contra planos de
saúde que lesam consumidores,
Previdência e programas sociais.
Sobre este último tema, Lula criticou o programa da bolsa-alimentação. "Com R$ 7 por pessoa
não resolve o problema", disse.
Mais adiante, Serra voltou ao assunto, em tom de correção ao petista: "A bolsa-alimentação não é
de R$ 7, é de R$ 15".
Na sua estratégia, o tucano tentou imprimir um estilo professoral, sempre com estocadas e "correções" ao que o adversário falava. O petista saia-se com um rápido riso irônico e ataques ao governo FHC. O alvo de Serra, nestes
momentos, foram as administrações do PT. Citou os governos petistas do Rio Grande do Sul e do
Rio de Janeiro como fracassos na
área de segurança. O mesmo tema
já havia sido explorado no horário eleitoral do candidato.
O Rio Grande do Sul, onde o
candidato do PSDB à Presidência
alcança melhores índices de intenção de votos, foi um dos assuntos mais acionados por ele durante o debate da TV Globo.
Além de tentar ampliar a sua
votação no Estado, o tucano apostou na estratégia de ajudar o seu
aliado Germano Rigotto (PMDB),
que superou, também segundo as
pesquisas, o candidato do PT ao
governo do Estado, Tarso Genro.
Citando uma entrevista de Tarso à Folha, na qual o petista dizia
que um governo se faz de erros e
acertos, Serra defendeu-se de críticas de Lula à gestão de FHC.
O petista defendeu as gestões
petistas. Principalmente a administração de Olívio Dutra(PT),
governador gaúcho. "Foi o Estado
que mais cresceu no Brasil", disse.
A intenção de Lula foi tentar impulsionar a candidatura de Tarso,
que enfrenta dificuldades para
dar continuidade ao domínio do
partido no Sul. O tucano criticou a
ambiguidade do discurso petista.
Afirmou que o presidente do partido, José Dirceu, defendia o não
pagamento da dívida externa há
dois anos. Foi uma forma de
apontar "a insegurança" do mercado em caso de vitória de Lula,
outro mote da campanha dos
programas do horário eleitoral
gratuito na TV.
Paulo Freire
Ao discutir a qualidade de educação no Brasil, os candidatos
apresentaram mais um ensaio de
confronto. Lula condenou o sistema de progressão continuada,
que é adotado pelo governo tucano no Estado de São Paulo.
Serra disse que o seu adversário
esquecia de citar que Paulo Freire,
mentor intelectual do sistema em
questão, era do PT.
Como no primeiro turno, o jornalista William Bonner fez perguntas aos candidatos. O tempo
para resposta, de 45 segundos, foi
insuficiente em quase todas as intervenções, obrigando-o a chamar a atenção dos concorrentes.
Nas considerações finais, Serra
pediu que cada eleitor seu conquistasse mais um voto, para provocar uma virada. Lula ironizou o
adversário. Disse que não pediria
a mesma coisa, pois corria o risco
de ultrapassar os 100%.
Colaborou SABRINA PETRI, da Sucursal
do Rio
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