São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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SEGUNDO TURNO

Em debate da Globo, sem perguntas entre os candidatos, presidenciáveis viram "palestrantes'; audiência foi de 38 pontos

Na arena, Lula e Serra têm confronto mínimo

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem perguntas de um candidato para o outro, como previam as novas regras, o debate promovido ontem pela Rede Globo se assemelhou a uma palestra de Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) para uma platéia de indecisos escolhida pela emissora.
Apenas por causa da disposição dos concorrentes na arena montada pela TV, o debate teve alguns momentos que beiravam o confronto. Não propriamente de idéias, mas de tensão dramática. O tucano chegou a responder uma pergunta de eleitor com o dedo apontado na direção do petista. Lula se queixou, irônico.
Ao final, dominou a cordialidade. Nos corredores da Globo, Lula se dirigiu a Serra com uma proposta, conforme um diretor da emissora confidenciou à Folha. "Semana que vem a gente precisa conversar", disse o petista.
O debate alcançou audiência de 38 pontos de média, com 46 de pico, segundo o Ibope. Cada ponto equivale a 47 mil domicílios na Grande São Paulo.
Com obsessão pelo tema debate, mote da campanha no segundo turno, o tucano ainda tentou fazer perguntas ao petista. Serra respondia um eleitor sobre a possibilidade de melhorar as aposentadorias. Lula ignorou a indagação do adversário, direcionando-se para José Paulo Giardelli, o indeciso que havia perguntado.
Ao responder sobre o aumento do salário mínimo, o candidato do PSDB voltou a indagar Lula. "Eu perguntaria qual o aumento para o ano que vem?", perguntou. "Ele é governo", replicou Lula. Nesse instante, o petista disse que o salário mínimo diferenciado entre regiões poderia fazer alguns Estados pagarem uma "merreca".
O formato à moda da TV americana foi a grande novidade para os telespectadores. Lula e Serra circulavam, em pé, ao lado um do outro. A grande vantagem de Lula nas pesquisas, que o fazia evitar qualquer ensaio de confronto ou provocação, suplantou a possibilidade de maior conflito.
Em vez do discurso ambíguo em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso, como ocorreu em debates do primeiro turno, Serra destacou ações oficiais em quase todas as questões, como moradia, ações contra planos de saúde que lesam consumidores, Previdência e programas sociais.
Sobre este último tema, Lula criticou o programa da bolsa-alimentação. "Com R$ 7 por pessoa não resolve o problema", disse. Mais adiante, Serra voltou ao assunto, em tom de correção ao petista: "A bolsa-alimentação não é de R$ 7, é de R$ 15".
Na sua estratégia, o tucano tentou imprimir um estilo professoral, sempre com estocadas e "correções" ao que o adversário falava. O petista saia-se com um rápido riso irônico e ataques ao governo FHC. O alvo de Serra, nestes momentos, foram as administrações do PT. Citou os governos petistas do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro como fracassos na área de segurança. O mesmo tema já havia sido explorado no horário eleitoral do candidato.
O Rio Grande do Sul, onde o candidato do PSDB à Presidência alcança melhores índices de intenção de votos, foi um dos assuntos mais acionados por ele durante o debate da TV Globo.
Além de tentar ampliar a sua votação no Estado, o tucano apostou na estratégia de ajudar o seu aliado Germano Rigotto (PMDB), que superou, também segundo as pesquisas, o candidato do PT ao governo do Estado, Tarso Genro.
Citando uma entrevista de Tarso à Folha, na qual o petista dizia que um governo se faz de erros e acertos, Serra defendeu-se de críticas de Lula à gestão de FHC.
O petista defendeu as gestões petistas. Principalmente a administração de Olívio Dutra(PT), governador gaúcho. "Foi o Estado que mais cresceu no Brasil", disse.
A intenção de Lula foi tentar impulsionar a candidatura de Tarso, que enfrenta dificuldades para dar continuidade ao domínio do partido no Sul. O tucano criticou a ambiguidade do discurso petista. Afirmou que o presidente do partido, José Dirceu, defendia o não pagamento da dívida externa há dois anos. Foi uma forma de apontar "a insegurança" do mercado em caso de vitória de Lula, outro mote da campanha dos programas do horário eleitoral gratuito na TV.

Paulo Freire
Ao discutir a qualidade de educação no Brasil, os candidatos apresentaram mais um ensaio de confronto. Lula condenou o sistema de progressão continuada, que é adotado pelo governo tucano no Estado de São Paulo.
Serra disse que o seu adversário esquecia de citar que Paulo Freire, mentor intelectual do sistema em questão, era do PT.
Como no primeiro turno, o jornalista William Bonner fez perguntas aos candidatos. O tempo para resposta, de 45 segundos, foi insuficiente em quase todas as intervenções, obrigando-o a chamar a atenção dos concorrentes.
Nas considerações finais, Serra pediu que cada eleitor seu conquistasse mais um voto, para provocar uma virada. Lula ironizou o adversário. Disse que não pediria a mesma coisa, pois corria o risco de ultrapassar os 100%.


Colaborou SABRINA PETRI, da Sucursal do Rio


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