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PSDB
Governador diz que tucanos devem "comer mais poeira" após eleições, afirma não ter medo de Lula e não descarta apoiar o PT
Alckmin defende reestruturação no PSDB
FERNANDO CANZIAN
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
ALENCAR IZIDORO
SÍLVIA CORRÊA
ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Geraldo Alckmin, 49, governador de São Paulo, diz que seu partido, o PSDB, deverá passar por
uma "reestruturação" após as
eleições. "Ficou meio solto", afirma. Figuras importantes que possam vir a ficar sem mandato nos
próximos anos "não precisarão
de cargos para ter luz própria".
"O caminho é comer mais poeira.
Não há partido que não se consolide muito próximo das organizações populares", diz.
Alckmin tenta a reeleição amanhã. Se as pesquisas para o governo e para a Presidência se confirmarem, o ex-vice de Mário Covas
voltará como a principal figura do
PSDB. Emerge ao lado do tucano
eleito em Minas, Aécio Neves, 42.
Sobre a eleição presidencial, diz:
"Meu candidato é o Serra". Declara não ter "medo nenhum" de um
eventual governo Lula e, sobre
comparações tucanas de Lula ao
venezuelano Hugo Chávez, afirma: "Eu não faço esse tipo de
campanha". Apoiaria o PT? "Se o
projeto é bom, nós apoiamos."
Se reeleito, Alckmin promete
"mexer muito no governo". Quer
até reduzir os pedágios.
Elogios diretos só fez ao secretário da Segurança, Saulo de Castro
Abreu Filho, 40. "Trabalhador, sério, corajoso. Tem prestígio no
governo", disse Alckmin, em entrevista à Folha na última terça-feira. Horas depois, em uma tentativa de assalto, dois seguranças
de seu filho Thomaz, 19, seriam
baleados em São Paulo. Um morreu. Leia a entrevista:
Folha - Se eleito, como o sr. vai
acomodar outros tucanos paulistas
que possam vir a ficar sem mandato após as eleições?
Geraldo Alckmin - Eu concordo
com a tese de Mário Covas. Diante das adversidades, só há um caminho: lutar, combater e vencer.
Até domingo é só trabalho, só
disposição de vencer. Depois, independentemente do resultado, a
minha tese é que não deve haver
terceiro turno. Precipitar o processo sucessório é ruim para o povo, diminui a governabilidade.
Folha - Mas há uma acomodação
interna dentro do seu partido que
vai precisar ser feita. Figuras importantes podem estar sem cargo.
Alckmin - Essas figuras importantes não precisam de cargos para ter luz própria. O caminho do
governo é o caminho da eficiência. Eu vou mexer muito no governo. [Sobre] o caminho do partido, acho, sim, que ele tem que
fazer uma reestruturação. Isso é
necessário. Inclusive amassar
mais barro e comer mais poeira.
Não há partido que não se consolide muito próximo das organizações populares, dos trabalhadores, da sociedade civil.
Folha - O sr. vê esse distanciamento do "amassar barro" em âmbito federal e na candidatura oficial?
Alckmin - Acho que o PSDB, até
pelas tarefas de governo, pelas altas responsabilidades dos últimos
anos, acabou concentrando todos
os seus quadros em tarefas executivas. E o partido ficou meio solto.
Acho que é importante a tarefa
partidária. É bom para o país, para a democracia, ter partidos políticos fortes. Quem se eleger vai ter
dificuldades, independentemente
de ser o Serra ou o Lula. Ninguém
vai ter maioria no Congresso.
Folha - O candidato José Serra
disse que Lula, se eleito, vai perseguir quem não for da base aliada
do PT. O sr. teme ser perseguido?
Alckmin - Não, não temo. Seria
um retrocesso que não cabe mais,
uma coisa totalmente atrasada.
Folha - Então o sr. não tem medo
de um governo Lula, sentimento
evocado na campanha de Serra?
Alckmin - O governo de São Paulo não [tem medo]. O que Serra
tem colocado não é em relação
aos governadores, mas em relação ao enfrentamento das crises.
Quem é o mais preparado para
governar em um mundo que muda tão rápido? Eu não vejo diferença de natureza ética entre os
dois candidatos. Acho o Lula uma
pessoa extremamente respeitada,
séria, um homem, do ponto de
vista ético, inatacável. O que se
discute é a questão de quem tem
mais condições.
Folha - O sr. concorda com a propaganda de Serra, que compara a
situação do Brasil em um governo
Lula à da Venezuela?
Alckmin - Não faço esse tipo de
campanha, mas respeito a do Serra. Não tem nenhum demérito,
não há ataque pessoal ao Lula. A
comparação serve para a reflexão.
Folha - Ele colocou a atriz Regina
Duarte dizendo que tem medo de
um governo Lula. O sr. tem medo
de um governo Lula?
Alckmin - Eu não vejo nenhum
problema no fato de ela dizer isso.
Folha - Mas o sr., pessoalmente,
tem medo de um governo Lula?
Alckmin - Não, medo nenhum. A
alternância é da lógica democrática. Acho errado é criar dificuldades para a Regina Duarte. Patrulhamento político não cabe mais.
Folha - O PPS fez um material de
campanha que propõe a chapa "Lula lá, Alckmin aqui". O sr. não se
opôs e também não dá espaço para
o Serra na sua propaganda. Isso
não soa como abandono?
Alckmin - Desde o começo, estamos ajudando Serra. Mas são
duas eleições distintas. Não é possível imaginar que é uma dupla:
escolha um, leve dois. Eu não vou
obrigar o PPS a apoiar um candidato que ele não quer.
Folha - A "onda vermelha" não
sugere exaustão com o tucanato?
Alckmin - Mas eleição é assim
mesmo. É natural. Isso é do processo democrático. Eleição se ganha, eleição se perde.
Folha - Mas existe um motivo para perder e para ganhar?
Alckmin - O PSDB teve bons resultados. Em Minas Gerais, ganhou no primeiro turno. Aqui em
São Paulo nós vamos trabalhar
muito e vamos ganhar a eleição.
Não se pode generalizar. O PT
cresceu mais? Cresceu. É mais fácil hoje ser oposição do que ser
governo. Amanhã o PT vai ser governo. Então, isso é natural, é próprio do processo democrático.
Folha - E o relacionamento com
um eventual governo Lula?
Alckmin - Meu candidato é
Serra.
Folha - São os números, governador. O sr. está na frente, e o Lula está na frente.
Alckmin - Nós temos uma postura diferente da do PT. Independentemente da origem, da iniciativa, se o projeto é bom, nós
apoiamos. O PT já tem mais dificuldade. Somos mais plurais.
Folha - Em 98, Fernando Henrique podia faltar aos debates porque era conveniente eleitoralmente. Por que o Lula não pode?
Alckmin - O que se discute é se o
candidato deve ou não ir a debates. Eu acho que deve.
Folha - Errou FHC?
Alckmin - Erraram os dois [FHC
e Lula". Debater é obrigação do
candidato. É respeito ao eleitor.
Folha - O sr. terá ressentimento
em relação ao seu adversário, que
tem dito que o sr. não tem estatura
para ser governador e que chegou
ao cargo por uma fatalidade -a
morte de Mario Covas?
Alckmin - Antes de ser político,
eu me prezo de ser cristão. Não há
ressentimento, de jeito nenhum.
Só acho a crítica um elogio. O fato
de eu ter sido vice-governador foi
importante. E hoje não tenho dificuldades nas questões de governo
exatamente porque, por seis anos,
fiz um curso de administração.
Folha - O sr. disse há pouco que
vai haver mudanças profundas no
governo. O modelo esgotou-se?
Alckmin - É normal. Você sempre está mudando para melhor,
avançando. Eu sou governador há
um ano e meio e quero ter a oportunidade de fazer um governo
com a minha marca.
Folha - Quais serão as mudanças?
Alckmin - Nossas prioridades
são desenvolvimento, emprego e
renda. Um esforço hercúleo no
sentido de pisar no acelerador,
pois agora a casa já está arrumada. Apoio à micro e à pequena
empresa, turismo, agronegócio,
política fiscal seletiva para a indústria, pólos tecnológicos.
Folha - Nesta semana, os paulistas assistiram à explosão de um
carro-bomba. O PCC é uma facção
criminosa que floresceu neste governo. O episódio não mostra que
essa organização continua ativa?
Alckmin - Não, ao contrário. O
fato mostra que a polícia está mais
preparada. Em São Paulo, ela se
antecipa ao crime. O governo tem
agido. Com escutas telefônicas,
detectamos quem estava dentro
do sistema prisional comandando o crime. Eles foram reindiciados e mandados todos para a Penitenciária de Presidente Bernardes, onde ficaram incomunicáveis. É uma guerra que não tem
fim. Eles estão superenfraquecidos, a verdade é essa.
Folha - Mas em São Paulo o tráfico já fechou o comércio.
Alckmin - Em São Paulo, não.
Aqui não tem um local onde a polícia não entra. Uma vez eu estava
no carro e ouvi que na favela Caixa-D'Água houve uma luta e morreu um traficante. Alguém passou
e disse para o comércio fechar. Do
carro eu liguei para o secretário da
Segurança: "Rota! Saturação! Polícia para todo lado!". A polícia
em 30 minutos estava lá.
Folha - Mas houve toque de recolher. O sr. admite?
Alckmin - Não. Houve tentativa.
Criminoso tentando conturbar a
segurança vai ter sempre. Mas o
doutor Saulo de Castro (Segurança) está fazendo um bom trabalho. É um secretário em quem eu
tenho absoluta confiança, que
tem prestígio no governo.
Folha - Como no caso do toque de
recolher, antes da megarrebelião
de 2001, o governo negava a existência do PCC.
Alckmin - Eu não tenho essa informação. Veja bem, as pessoas
presas se organizarem não é novidade. É próprio da natureza humana haver uma agregação. Isso
existe no país inteiro. Pode mudar
de nome, mas não vai acabar.
Folha - O secretário da Segurança
fica em um segundo mandato?
Alckmin - Nós só vamos comandar o futuro governo depois da
eleição. Agora, é um secretário
dos melhores que eu tenho. Trabalhador, sério, corajoso.
Folha - Por que as Corregedorias
de polícia não respondem mais aos
ofícios da Ouvidoria e por que não
existem mais comissões com participação social de acompanhamento de letalidade e de estatísticas?
Já são 400 os pedidos de informação a que elas não responderam.
Alckmin - Nós é que criamos a
Ouvidoria. Não há nenhuma razão para negar a informação à
Ouvidoria. Ela tem total acesso.
Folha - Mas o acesso tem sido negado.
Alckmin - Não tenho essa informação.
Folha - E sobre as comissões? A de
acompanhamento de letalidade foi
criada quando uma pesquisa mostrou que a polícia mata pelas costas. A de acompanhamento de estatísticas surgiu quando houve denúncias da maquiagem dos números. A poeira baixou, e elas terminaram.
Alckmin - Veja bem, os números
da polícia são transparentes.
Quem quiser pode acompanhar.
São públicos. Agora, há algumas
pessoas que, em vez de apoiar as
instituições, só as criticam.
Folha - Mas por que motivo as comissões não existem mais?
Alckmin - Elas não foram extintas. Quem extinguiu?
Folha - O doutor Saulo.
Alckmin - Ele as extinguiu?
Folha - Sim.
Alckmin - Eu vou confirmar essa
informação. Não há nenhuma
orientação para omitir dados.
Folha - O que o sr. acha de infiltrar criminosos em ações de inteligência policial? De dar a eles carro,
arma e celular?
Alckmin - Se permitido pela lei,
sou favorável. Não só à infiltração,
a tudo o que puder ser feito para
enfrentar as organizações criminosas e derrotá-las.
Folha - No caso das ações do Gradi (Grupo de Repressão e Análise de
Delitos de Intolerância), as autorizações judiciais não eram específicas. O sr. acha que houve uma interpretação...
Alckmin - Cabe à Justiça dizer.
Folha - O sr. sabia?
Alckmin - Sabia, claro.
Folha - O sr. conhecia em detalhes
o teor da decisão do juiz?
Alckmin - Detalhes, evidentemente não. Agora, houve ordem
judicial para uma ação e ela foi feita de outra forma? Apura-se. Se
alguém errou, pune-se.
Folha - O sr. está satisfeito com os
resultados da segurança pública?
Alckmin - Eu acho que demos
passos importantes e que a população, embora ache que falta muito a fazer, já tem a sensação de que
a polícia está na rua. Se você disser: "Você acha que está bom?".
Não, não acho. Eu acho que nós
temos que avançar muito mais.
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