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PSDB
Governador diz que pretende suspender operação de alguns postos instalados em pistas simples e elogia progressão continuada
Tucano promete fechar praças de pedágio
DA REPORTAGEM LOCAL
Folha - Procedem as críticas de
que muitos alunos do Estado passam de ano sem aprender?
Geraldo Alckmin - A progressão
continuada está na Lei de Diretrizes e Bases. Ela foi implantada pelo PT, com a Luiza Erundina. Está
presente nos principais Estados.
Essa é uma crítica que vem pela
direita.
Folha - Mas em outros Estados
não se vêem tantas críticas ao sistema de ciclos.
Alckmin - Está se falando da exceção sem ver o todo. Os índices
do Saresp [Sistema de Avaliação
de Rendimento Escolar] estão
melhorando. A repetência continuada leva ao abandono. O índice
de evasão no ensino fundamental
caiu de 9% para menos de 5%. As
escolas, que funcionavam quatro
horas, funcionam cinco hoje.
Os professores têm pedagogia.
Nós nos antecipamos à Lei de Diretrizes e Bases. E o governo paga
a faculdade para eles.
Folha - Mas 60% são temporários.
Alckmin - Do quê? Do Estado?
Folha - Sim.
Alckmin - Mas esses, vamos dizer, rodam. Nós estamos oferecendo o curso de pedagogia a todas as prefeituras do Estado.
Folha - Mas não é ruim 60% serem
temporários?
Alckmin - A lei diz que todo
mundo vai precisar ter pedagogia.
O governo está se antecipando.
Folha - Por que 60% são temporários?
Alckmin - Da rede?
Folha - Sim.
Alckmin - Você tem concurso
público periodicamente. Entre
um concurso e outro, você tem as
pessoas que se habilitam por pontuação. É critério de mérito.
Folha - Uma faculdade da USP parou neste ano por falta de professores. No período do governo do sr., a
relação de alunos por professor na
USP foi de 11 para 14. O sr. não
acha que falhou nesse sentido?
Alckmin - Não. Os recursos do
governo [para as universidades]
aumentaram. O que diz a lei?
9,57% do ICMS, religiosamente
pagos. Mas, pela primeira vez na
história, pusemos mais dinheiro
do que a lei manda -R$ 50 milhões a mais. O que houve foi uma
corrida pela aposentadoria.
Folha - Às vésperas da eleição, o
sr. segurou o aumento da tarifa de
pedágio em pistas simples e fez um
acordo para a redução do pedágio
nas marginais da Castello Branco.
Em troca, garantiu o subsídio indireto do Estado. Isso não contradiz a
política do governo, que defende
que quem usa é que deve pagar?
Alckmin - O modelo de concessão é o modelo correto, porque o
governo não tem dinheiro, não
tem recurso para fazer tudo.
Quando é que nós teríamos recurso para fazer a pista descendente da Imigrantes? Iria levar
mais 20 anos. Mas vai ficar pronta
em dezembro sem um centavo de
dinheiro público. O modelo tem
uma lógica que está nos permitindo fazer 21 hospitais. Agora, isso
não quer dizer que o modelo é
"imexível". Uma concessão por
20 anos merece correções.
Folha - Houve um exagero, então,
na política dos pedágios?
Alckmin - Deve ser analisado caso a caso. Alguma coisa eu já fiz.
Outras, eu vou fazer depois.
Folha - Nesse caso específico houve uma redução do valor do pedágio na Castello. Havia exagero?
Alckmin - No caso das marginais,
o pedágio é teto. Mas você tinha
uma obra grande, cara, subutilizada. O que se procurou fazer?
Dar um desconto para as pessoas
usarem mais e a receita se equilibrar. Aí você praticamente não
precisa compensar.
Folha - O sr. foi pressionado a isso
pelo calor da campanha eleitoral?
Alckmin - Por mim, eu já teria
feito no ano passado. É que essas
coisas não são tão fáceis. E eu não
quero deixar briga judicial.
Folha - Ter essas concessões é
usufruir do capitalismo sem risco,
não é, governador? Se não atingir a
meta, o Estado banca. Se congelar
a tarifa, o Estado banca.
Alckmin - O Estado poderia ter
feito uma concessão não-onerosa.
É uma decisão de governo. O fato
de ter feito uma concessão onerosa não quer dizer que não possa
mexer em determinados casos.
Por que eu não deixei reajustar
na pista simples? Porque eu pretendo, depois das eleições, fechar
algumas praças de pedágio. Porque há casos em que o custo para
manter a praça de pedágio é mais
de 40% da arrecadação.
Folha - Fechar quais praças?
Alckmin - As de pista simples.
Folha - São muitas [33].
Alckmin - Não são todas [que serão retiradas]. Nós estudamos alguns casos em que o movimento é
pequeno. Eu poderia até ter feito
isso antes da eleição.
Folha - Mas o que as concessionárias vão receber em troca? Vai ser
novamente subsídio do governo?
Alckmin - Você pode compensar
com o próprio ônus da concessão.
Folha - É o capitalismo sem risco.
Alckmin - Foi feito um contrato.
Folha - Mas por que o contrato foi
feito assim?
Alckmin - O modelo de concessão é o modelo correto. Agora, há
casos que você vai analisar.
Folha - As concessionárias descumpriram uma série de metas. No
caso da Viaoeste, por exemplo,
atrasou a duplicação da Raposo Tavares. Por que nenhuma concessionária pagou multa até hoje?
Alckmin - Se não pagou, vai pagar na Justiça. Mas existem concessionárias que estão se antecipando ao cronograma. Em outras, às vezes há atraso. Mas você
renegocia o contrato, inclui obras.
Folha - Uma avaliação do Tribunal de Contas da União aponta 37
indícios de irregularidades no Rodoanel. Diz que há superfaturamento de até 110% e pede o bloqueio das verbas da obra.
Alckmin - Você tem um parecer
do Tribunal de Contas da União,
um mero parecer. A obra está
concluída por um preço abaixo
do previsto. É a obra mais barata
do país. Custou R$ 11,5 milhões o
quilômetro. A Água Espraiada
custou R$ 54 milhões.
Folha - O que justifica os aditamentos acima do permitido?
Alckmin - É que ela foi licitada,
infelizmente, com o projeto básico, sem o executivo. Tanto é que
nas próximas etapas só deixaremos licitar com projeto executivo.
Folha - O TCU se enganou?
Alckmin - É um parecer.
Folha - Retomando algumas promessas: a linha 4 do metrô é prometida desde 1995. Na campanha
de 1998, Covas também prometeu
que haveria 87 km de metrô até
2002. Hoje há 58,6 km e a linha 4
não tem nem a licitação pronta.
Alckmin - Você está mal informado.
Folha - Não estou. A fase de qualificação está sendo contestada.
Alckmin - É natural, em toda
concorrência existe briga.
Folha - Mas a licitação não foi
concluída [nem o edital de licitação
foi lançado, segundo o Metrô".
Alckmin - O contrato já foi assinado, a obra já foi licitada. O contrato já foi assinado com o Banco
Mundial. São Paulo tinha 49 km
de metrô. Ninguém fez tanto metrô quanto o atual governo.
Folha - Mas não cumpriu a promessa, governador.
Alckmin - Quando o então secretário colocou esse número, o que
ele estava interpretando: metrô de
superfície. Ou seja, o trem de
Osasco a Jurubatuba [linha C da
CPTM], quando tiver uma periodicidade de três minutos e um nível de confiabilidade grande, será
um metrô de superfície.
Folha - Com o trem de superfície,
chega-se aos 87 km prometidos?
Alckmin - Se você contar a Osasco-Jurubatuba e outras linhas
modernizadas... Não, mas não
acho uma comparação adequada.
Folha - Sobre promessa, temos
aquela conhecida da segurança, de
reduzir à metade as taxas de criminalidade de 1998 a 2002. O sr. já
disse que não conseguiu cumpri-la
porque o aumento da criminalidade foi um episódio geral etc. Por
que, então, prometer?
Alckmin - Eu sou cauteloso com
a questão de números. Era um objetivo a ser perseguido. Infelizmente, não foi possível.
A curva na década de 90 veio subindo não só em São Paulo. De
dois anos para cá, parou de crescer. Agora começou a cair. E vai
cair mais.
Folha - O sr. prometeria hoje a redução dos índices à metade?
Alckmin - O meu compromisso é
dar total prioridade à segurança, é
esforço, trabalho, aumentar a polícia, equipar a polícia, integrar a
polícia, treinar o policial, motivá-lo, investir no policial. Agora, o
número será o máximo que nós
pudermos fazer. Se pudermos fazer mais de 50% de redução, devemos fazer. Mas acho imprudente
fixar um número.
Folha - Uma pesquisa do Datafolha mostrou neste ano que a falta
de segurança é a maior preocupação para 27% dos paulistas. Em
1998, esse grupo era de 3%.
Alckmin - No mundo todo, a
questão da segurança é o grande
desafio. Qualquer um reconhece
que a situação hoje melhorou em
relação a um ano atrás. E vai melhorar mais ainda. Mas não vai ser
em um passe de mágica.
Folha - Mas piorou em relação a
1998.
Alckmin - Em 1998, o tema da
campanha era só segurança. O
Maluf atacou o Covas na campanha inteira. "Vou pôr a Rota na
rua" [Alckmin imita a voz de Maluf]. Na década de 90, os índices
cresceram. Não negamos isso, é a
realidade. Mas o fato é que esses
índices, que vinham crescendo,
graças a Deus, começaram a cair.
Não existia Infocrim [base de dados informatizada das ocorrências], não existia nada disso.
Folha - Mas o Infocrim existe sem
que ninguém possa saber onde se
concentram as ocorrências.
Alckmin - Pode, pode, sim.
Folha - Não pode, governador.
Alckmin - Dia 30 de outubro.
Folha - Antes era janeiro de 2001.
Alckmin - No dia 30 você vai ter
os índices do trimestre [Alckmin
se refere ao balanço estatístico da
criminalidade de julho a setembro; ele não indica os locais de
ocorrência dos crimes".
Folha - Estou falando do Infocrim.
O sr. não acha que é justo a população saber onde se rouba mais carro,
por exemplo, para se proteger?
Alckmin - Há um conjunto de
dados que a prefeitura deve ter, os
órgãos de segurança devem ter.
Há outros que são coisas técnicas.
Mas, quanto mais você puder dar
dados à população, melhor.
Folha - A mesma pesquisa do Datafolha mostra que 74% dos paulistanos mudam trajeto e horários
por medo. O sr. muda a sua rotina
por medo da violência?
Alckmin - Eu não mudo meu trajeto, mas respeito o fato de as pessoas terem cuidado.
Folha - Também na campanha de
1998, Mário Covas prometeu entregar 250 mil moradias populares. O
sr. está terminando o governo com
menos de 40 mil. O que houve?
Alckmin - No começo do segundo mandato, dois projetos da
CDHU tiveram que ser reformulados: o de mutirão e o Chamamento Empresarial. Isso realmente acarretou um atraso.
Folha - O Chamamento Empresarial teve que ser alterado porque
foram considerados irregulares ao
menos 80 contratos. O que justifica, por exemplo, a CDHU pagar R$
762 mil por um terreno em Garça
que a empreiteira havia comprado
por R$ 200 mil 11 dias antes?
Alckmin - Tudo deve ser apurado. Apure-se, puna-se. Não há nada a omitir. Às vezes, a escritura
está com um valor simbólico. Mário Covas dizia que o que interessa no Chamamento Empresarial
não é quanto pagou pelo terreno,
pela porta, pela janela. É quanto
custou o imóvel final. Quando se
compra um paletó, não interessa
quando custou o botão.
Folha - Mas a própria Corregedoria Geral da Administração apontou um prejuízo de R$ 464 milhões
aos cofres públicos por conta desse
programa e todos os diretores da
CDHU tiveram os bens bloqueados.
Alckmin - O Chamamento Empresarial é um programa que vinha
do governo anterior. Aliás, o governador Mário Covas não fez
uma só licitação. As obras todas já
estavam licitadas e contratadas.
Agora, a Corregedoria acha que
há procedimentos a serem investigados? Ótimo, a Corregedoria
existe para isso. Nós é que criamos a Corregedoria.
Ela tem toda a liberdade, deve
investigar. Se chegar à conclusão
de que há irregularidade, será punido quem a fez.
Folha - Por que o sr. vota em Geraldo Alckmin?
Alckmin - Porque entendo que
nós podemos fazer um grande governo. Estou animado, eu me preparei, não é uma tarefa fácil.
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