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PT
Candidato avalia que partido amadureceu, aposta no "efeito Lula" na reta final e defende a política petista de alianças
"Aprendemos com os erros", diz Genoino
DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
José Genoino, 56, deputado federal, é o primeiro candidato do
PT ao governo do Estado de São
Paulo a chegar ao segundo turno
das eleições. Avalia que o partido
amadureceu com os erros e está
preparado para o poder.
"O PT não é um partido perfeito. Há momentos em que nós erramos. E nós aprendemos com os
erros. Mas, no fundamental, a história do PT o credencia para ser
essa alternativa de poder que a
população está legitimando", diz.
Ex-preso político e ex-guerrilheiro, Genoino aposta no "efeito
Lula" para captar votos de última
hora e fazer as urnas, mais uma
vez, contrariarem as pesquisas no
maior colégio eleitoral do país.
"Sou de um time. Nunca fiz política sozinho. O meu time é o PT,
o Lula. Sou parte de um projeto,
que é mudar o Brasil", diz ele.
Em entrevista à Folha na última
segunda de manhã, antes de receber o apoio do adversário histórico Paulo Maluf (PPB), Genoino
defendeu a ampla política de
alianças costurada por seu partido para tentar chegar à Presidência e criticou a propagação do medo como estratégia eleitoral. "Todas as vezes em que a humanidade quis mudar, evocou-se a tese
do medo, do caos e da desconfiança para intimidar as pessoas."
Evitando declarações polêmicas, ele limitou-se às críticas ao
adversário Geraldo Alckmin, que
avalia ser "pequeno de idéias" para o tamanho de São Paulo. Leia a
entrevista:
(FC, AI, SC e AG)
Folha - O sr., que foi a todos os debates, como vê a postura de Lula,
candidato do seu partido à Presidência, que se recusou a fazê-lo?
José Genoino - O Lula fez uma
quantidade muito grande de debates e entrevistas no primeiro
turno. No segundo turno, o tempo é curto, e nós, do PT, temos
uma responsabilidade a mais.
Além de eleger Lula, nós estamos
disputando em oito Estados.
Se ele fosse a todos os debates,
não poderia fazer campanha nos
Estados, o que seria um prejuízo.
Folha - Não ir a debates não prejudica o esclarecimento do eleitor?
Genoino - As pessoas conhecem
o PT, conhecem o Lula. É a quarta
eleição nacional que ele disputa.
Portanto não há prejuízo nenhum, porque as propostas do PT
já são conhecidas. Em relação à
insistência do nosso adversário,
em 98 a palavra de ordem era fazer debate e não houve nada.
Folha - O PT fez críticas ao pronunciamento da atriz Regina Duarte no programa de José Serra. O sr.
não acha que o patrulhamento não
contribui para a democracia?
Genoino - Vamos separar o joio
do trigo. O PT não está fazendo
patrulhamento nem censura. A
emenda constitucional que aboliu
a censura é de minha autoria.
A Regina Duarte tem o direito
de dizer o que ela quiser. Mas eu
tenho o direito de dizer que eu fico triste de ver uma pessoa fazer
campanha propagando o medo.
Quando eu conheci Serra no
Congresso Nacional, ele carregava um livro: "Retórica da Intransigência", do Albert Hirschman.
Disse: "Olha, Genoino, você não
lê inglês, mas quando esse livro
sair em português, faça questão
de lê-lo". Diz que em todas as vezes que a humanidade quis mudar, evocou-se a tese do medo, do
caos e da desconfiança para intimidar as pessoas. Eu nunca usei
nem nunca vou usar a propagação do medo para mudar a cabeça
das pessoas.
Folha - Mas na TV o sr. aparece
dentro de um carro blindado atingido por tiros. Não é um apelo a
partir da insegurança, do medo?
Genoino - Não, não. Não estou
propagando o medo. Estou mostrando uma realidade para apresentar uma proposta política.
Folha - O nome do seu programa
de segurança -o "Linha Dura"-
causou algum constrangimento no
PT. De quem foi a idéia?
Genoino - A idéia foi minha. O
"Linha Dura" é um sistema integrado de segurança pública que
usa a força, que é diferente da violência. Em relação a algumas opiniões de pessoas do PT -que não
são todo o PT nem são a maioria
do PT-, eu respeito, como elas
me respeitam. Se eu fizesse política preocupado com termos, eu
não teria chegado aonde cheguei.
Folha - O sr. não quer explicar o
que é a operação "Linha Dura"?
Genoino - É um sistema de segurança pública que começa
com duas vertentes: a intervenção social do Estado nas áreas
controladas pelo crime e a presença física da polícia. É preciso
ter uma presença social e o uso
da força física, intimidatória,
concreta.
No Brasil, nós não temos polícia comunitária. O modelo mais
adequado é o da França, que se
chama polícia de proximidade.
Ela não entra em conflito com o
bandido. Fica ali para se comunicar com a força especializada. O
que articula isso? Uma central de
inteligência, que não existe em
São Paulo. Um sistema de rádio
que não seja interceptado, um
sistema de computação que integre a PM e a delegacia, um mapa
do crime.
Folha - Mas na TV é só ""Linha Dura", Rota na rua, tiro. Por quê?
Genoino - Essa palavra de ordem, "Rota na rua", nunca saiu
dessa boca aqui. O repórter perguntou: "A Rota no seu governo
vai existir?". Eu disse: "Vai, para
cumprir missão especial, com
comando especial". Ela vai para a
rua em alguns momentos e em
outros não. Rota, GOE, Gate e
Garra são forças especiais. Não
servem para fazer ronda, para ficar na rua. A polícia tem que ter
um tripé articulado: prevenção,
inteligência e repressão.
Folha - No começo da campanha
o sr. defendia os direitos humanos
de presos, mas não voltou ao assunto no horário eleitoral. Isso pode assustar os votos conservadores, dos quais hoje o sr. depende?
Genoino - O direito humano básico é o direito à vida. Quando eu
falo que a polícia pode ser enérgica, é com base no Estado democrático de direito. A polícia não
precisa sair matando.
Folha - Mortes são inevitáveis na
ação enérgica da polícia?
Genoino - Isso aí não é da minha
boca que você vai tirar. Vou ser
franco, olho no olho. O que é inevitável é ter uma polícia forte, que
não deixa acontecer a tragédia.
Folha - O sr. sempre criticou a
"política de condomínio" do PSDB,
em que sempre cabe mais um nas
alianças. Agora, dizendo que amadureceu, o seu partido fez uma
aliança bem larga para tentar garantir a eleição do Lula. O PSDB
amadureceu antes?
Genoino - Quero responder sobre a minha candidatura.
Folha - O PT sondou o Maluf.
Genoino - Mas não estou fazendo aliança com o Maluf. É um dever nosso pedir votos aos adversários. A base do nosso programa é
uma aliança de esquerda com as
forças progressistas que fazem
oposição ao poder que está aí.
Apoio e declaração de voto você
recebe e não pode recusar.
Folha - O PL é força progressista?
Genoino - Não, o PL está nos
apoiando no segundo turno. Estamos recebendo o apoio do PL numa aliança política pontual. Nós
não cedemos nada do programa
nem de coisa nenhuma. E Lula fez
a mesma coisa. Lula não está cedendo nada do programa.
Folha - Lula cedeu a Vice-Presidência ao PL, o que não é pouco.
Genoino - Mas, se há uma coisa
que o PT fez certo, foi dar a Vice-Presidência para José Alencar. Zé
Alencar é muito maior do que o
PL. É uma figura admirável. Não
tinha um vice melhor.
Folha - Outro assunto recorrente
na sua campanha são as críticas à
progressão continuada no Estado.
No entanto a ex-prefeita Luiza
Erundina, então no PT, foi quem
primeiro adotou o modelo.
Genoino - Progressão continuada, sim. O aluno aprende, passa
de ano sabendo. Aprovação automática, não. E o que existe em São
Paulo é aprovação automática: o
aluno passa sem ser avaliado porque há muitos alunos por sala.
Folha - No caso da educação, as
bancadas do PT sempre foram contra a inclusão dos inativos nessa
conta. Mas, quando a prefeita Marta Suplicy assumiu, ela usou esse
mesmo expediente e ainda incluiu
uniformes, transporte e programas
sociais. O sr. fará o mesmo?
Genoino - A educação tem que
ser vista dentro de uma visão integral. Não é professor, sala de aula
e aluno. É a idéia do desenvolvimento, de dar condições ao desenvolvimento do aluno. Isso é
educação. Sobre os inativos, nenhuma prefeitura -nem do PT
nem de outro partido- tem hoje
condições de tirar os inativos.
A divergência com alguns companheiros é a questão do uniforme, do transporte. Eu defendo.
Folha - O sr. vai incluir transporte, material, uniforme e programas
sociais na conta da Educação?
Genoino - Vou, já falei.
Folha - Marta, para fazer isso, tirou dinheiro da construção e da reforma de escolas e de creches. O
que é mais importante: dar uniforme e transporte ou colocar todas as
crianças na escola?
Genoino - As duas coisas são importantes. O Estado tem condições de fazer as duas coisas. Eu
não quero governar São Paulo
com o constrangimento desse Orçamento. Eu quero, com o crescimento, com a mudança desse
modelo econômico, que São Paulo tenha uma arrecadação e um
investimento maiores.
Folha - E se não houver aumento
da arrecadação, qual a prioridade?
Genoino - Eu não vou trabalhar
com o "se". Se eu trabalhar com o
"se", a política fica sem graça.
Folha - Mas o sr. está trabalhando
com o "se" houver aumento. Aliás,
com o "se" for governador.
Genoino - Eu não estou trabalhando com o "se" for governador. Eu trabalho com a vontade
de governar São Paulo.
Folha - E se só tiver dinheiro para
uma coisa, qual será a sua prioridade: colocar todas as crianças na escola ou dar transporte e uniforme?
Genoino - As duas coisas. Eu
acho que dá para fazer. Eu vou
criar condições de dinheiro para
as duas. São Paulo entra com 42%
dos impostos federais. Você precisa de um governo que defenda
melhor os interesses de São Paulo
para que os repasses sejam maiores para a educação, a saúde etc.
Nós vamos exigir esses recursos. Vamos discutir as transferências. Os índices de riqueza de São
Paulo não podem ser absolutizados, porque temos índices sociais
que não são considerados.
Eu tenho dito para Lula que há
duas coisas que eu quero discutir
como governador: o Banespa e a
Ceagesp. O valor da venda do Banespa seria abatido da dívida de
São Paulo, mas eles abateram só o
valor avaliado, não o ágio. São R$
5,2 bilhões que não foram abatidos. Eu não quero desestatizar o
Banespa, quero apenas que abatam. A segunda questão é a Ceagesp, que federalizaram e não sabem o que fazer com ela. Vai morrer de "morte morrida". Temos
de recuperá-la.
Folha - Como o governo vai acomodar tantas reivindicações e
cumprir metas fiscais pesadas?
Genoino - Não é reabrir a negociação da dívida. É você fazer um
processo de compensação. Por
exemplo: a presença do BNDES
no Estado de São Paulo é, proporcionalmente, muito pequena. Podemos pensar nisso.
Folha - A Lei de Responsabilidade
Fiscal foi um avanço?
Genoino - Oitenta porcento dela.
Folha - E não seria justo o PT ter
votado a favor dela já que discordava de apenas 20% do texto?
Genoino - O PT governa desde
88 e nunca praticou farra fiscal.
Nós só votamos contra por um
item. Há uma indexação do endividamento com os juros e não há
uma indexação de flexibilidade
para programas sociais em situações de emergência.
Folha - Mas, mesmo sendo um
avanço, o PT votou contra porque
não ficou exatamente como o PT
queria. Não é uma postura radical?
Genoino - Não, não é radical, não
é uma birra. Nós focalizamos uma
questão central: para os juros, o
bezerro de ouro é intocável; para a
vida das pessoas, não. Nós pedimos apenas um tratamento igualitário. É verdade que a gente até
modificou muitos aspectos da lei,
mas votamos contra porque houve uma intransigência do governo
nesse ponto.
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