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PT
Genoino defende investigação de irregularidades, diz que Marta Suplicy assumiu uma prefeitura quebrada e critica tucano
Nem todo mundo no PT é puro, diz petista
DA REPORTAGEM LOCAL
Folha - Por que, na sua opinião, o
governo do seu adversário, Geraldo Alckmin, é aprovado por mais
de 50% da população e o governo
de Marta Suplicy por 36%?
Genoino - Eu não vou falar do
meu adversário, eu vou falar de
Marta. Ela está há um ano e dez
meses na prefeitura de São Paulo.
Encontrou uma prefeitura quebrada e está fazendo um esforço
muito grande. Há setores ainda
com problemas, como o de transportes. Mas o que me estimula
tanto a ser um defensor da prefeita é a revolução social que ela fez.
O programa dela de renda mínima é de R$ 120 e atende a 178 mil
pessoas. No Estado, é R$ 60 e
atende a 52 mil pessoas.
Folha - Por que, apesar disso, a
aprovação dele é maior?
Genoino - Ele está onde está por
conta da morte do [Mario] Covas.
Não basta só um governador ter
uma imagem de bonzinho, ele
tem que ter conteúdo. A grande
debilidade do meu adversário é
que ele é pequeno para o tamanho
de São Paulo. Pequeno de idéias.
Folha - Em oito anos, suponho, a
população teve tempo para avaliar
o governo. Por que 56% o consideram ótimo e bom?
Genoino - A minha competência
é mudar a cabeça dos eleitores,
certo? Eles não entendem de pesquisa. Se entendessem, eu não estaria no segundo turno, porque tinha pesquisa na época da eleição
na qual eu estava bem atrás do
Maluf. A disputa política é muito
dinâmica, variável, imponderável. Por que eu fui, estourado, o
primeiro em todo o ABC, onde o
PT tem cinco prefeituras?
Folha - Mas o PT não venceu em
muitas cidades e Estados onde governa. Há uma crítica ao partido.
Genoino - Ainda bem que quem
governa tem que receber a crítica
da população. O PT aprende com
a crítica. Claro que o eleitor dá recado para nós. Dá, sim, e o PT tem
que ser humilde e entender. Cometemos erros, lógico. O PT não é
um partido perfeito.
Folha - Os votos que Marta recebeu não foram todos transferidos
para o senhor. É um recado?
Genoino - Não. A transferência
não é automática. Em 2000, Marta
sempre esteve em primeiro lugar
e tinha um grau de conhecimento
que eu não tenho. É a minha primeira eleição majoritária.
Folha - O sr. diria ao Datafolha
que o governo de Geraldo Alckmin
é ótimo, bom, regular ou péssimo?
Genoino - Eu não vou responder
a essa pergunta porque não estou
sendo pesquisado pelo Datafolha.
Se fosse, minha identidade não
apareceria na pesquisa. Agora, eu
acho que o governo não enfrentou os principais problemas de
São Paulo, o modelo econômico
para gerar emprego.
Folha - Mas avalie com uma palavra deputado, uma nota.
Genoino - Você acha que eu vou
dar uma nota? Não vou. Eu digo a
você: eu nunca fiz ataque pessoal
ao Alckmin e não vou fazer agora.
Digo que é um governo que não
esteve à altura do grande desafio
de São Paulo: gerar emprego.
Folha - Mas na propaganda o sr.
diz que Alckmin é "bonzinho". O
governo dele é bom?
Genoino - Não, "bonzinho" não
é o governo, mas a imagem de
"bom moço" dele. Não vou avaliar. Você não vai colocar nenhuma avaliação na minha boca.
Folha - Uma reportagem da Folha
mostrou que foram enviadas cartas
com propaganda do sr. e de Lula a
pessoas cadastradas pelos programas da Prefeitura de São Paulo. Como o sr. avalia isso?
Genoino - Isso foi feito pelo diretório do PT, que comprou o cadastro. Não é da prefeitura.
Folha - Isso está obscuro ainda.
Genoino - Estou esclarecendo.
Folha - Comprou de quem um
cadastro que tem o nome de
crianças das casas?
Genoino - Eu não sei, mas todo
mundo sabe como se compra um
cadastro. Nós não estamos usando a máquina. O PT vai informar
isso à Justiça Eleitoral diante de
qualquer representação.
Folha - O PT cresceu e incorporou
algumas práticas que sempre criticou. Em Mato Grosso do Sul, houve
uma distribuição de cesta básica
para benefício do candidato Zeca
do PT. No Rio Grande do Sul, denúncias de comprometimento de
autoridades com o jogo do bicho.
Em Santo André, uma CPI petista
abafou as investigações sobre irregularidades em contratos. O PT já é
igual aos outros?
Genoino - Não use a tática do
gambá, que espalha mau cheiro
para todo mundo feder e não fazer diferença. Nós não aceitamos
isso. No RS, um assessor teve um
determinado diálogo com um delegado. Sim, é coisa que o PT condena, não aceita e reprova.
Eu não estou dizendo que todo
mundo do PT é puro. A diferença
é que, quando há essas coisas, a
gente corta na própria carne e não
tem medo da investigação. A Assembléia, majoritariamente de
oposição, e o Ministério Público
agiram e nada encontraram que
comprometesse Olívio Dutra ou o
governo dele. Em MS, havia uma
denúncia, afastou-se a pessoa.
O assunto de Santo André é
uma investigação que vem de seis
anos, que tem que continuar, e as
pessoas que têm culpa no cartório
têm que pagar. Mas houve uma
politização na véspera da eleição.
Folha - Um dos principais acusados em Santo André já voltou a
atuar no partido. O PT considera
Klinger [vereador e ex-secretário
da prefeitura local] inocente?
Genoino - Eu não tenho elementos para considerá-lo inocente e
quem tem elementos para condená-lo não é o PT. Ele não tem responsabilidade no partido, não
tem responsabilidade na campanha. Ele está sendo investigado e
tem que continuar sendo.
Folha - Quando o PT é oposição,
defende remanejamento no Orçamento de até 1%. Com Marta no
governo, pode ser de 12%. Na oposição, o PT vetava a inclusão da merenda nos gastos com educação. No
governo, Marta a incluiu. Na oposição, qualquer conversa do secretário de Governo com os vereadores é
fisiologismo. Se o PT é governo, é
acordo político. O PT é mais condescendente consigo mesmo?
Genoino - O PT tem 22 anos de
história e tem evoluído, tem
aprendido muito. Houve momentos que nós erramos, e nós
aprendemos com os erros. Mas,
no fundamental, a história do PT
o credencia para ser essa alternativa de poder que a população está
legitimando. Agora, nessa história, nós cometemos erros e estamos corrigindo sempre.
Folha - A Prefeitura de São Paulo
transferiu de forma ilegal verbas
da saúde para a publicidade. Se
fosse um outro governo, o PT pediria CPI. Como foi numa gestão do
partido, defendeu que foi um erro.
Genoino - Eu estou até admitindo que, pontualmente, nós certamente cometemos alguns erros
quando fazemos oposição. Mas
nesse caso não foi publicidade geral, foi dinheiro para informação,
para combater a dengue.
Folha - É ilegal. E o secretário admitiu o erro.
Genoino - Você já pensou que
coisa fantástica é um secretário
dizer que errou?
Folha - Isso abre a possibilidade
de o PT ser assim condescendente
com "erros" de outros partidos.
Genoino - Não. O PT não vai ser
condescendente nem com ele
nem com os outros partidos. O
PT não pode abrir mão de quatro
coisas: ética, transparência, democracia e políticas sociais.
Folha - Outro exemplo: um militante histórico do PT, William Ali
Chaim, disse que foi indicado para
a presidência de um grupo de ônibus de SP pelo secretário dos
Transportes de Marta, responsável
por fiscalizar as empresas. O que o
sr. faria se fosse no seu governo?
Genoino - Eu conheci esse caso
pela Folha. Isso tem que ser avaliado, tem que ser investigado. No
meu governo, não vai acontecer
esse tipo de coisa, não.
Folha - O sr. discorda?
Genoino - Se eu estou dizendo a
você que no meu governo não vai
acontecer esse tipo de coisa...
Folha - Se acontecesse...
Genoino - Não vai acontecer.
Folha - Por que pode acontecer
no governo de Marta Suplicy e não
pode acontecer no seu?
Genoino - Porque nós estamos
mais experientes e cuidadosos.
Folha - Mas acabou de acontecer.
Genoino - Mas não vai [acontecer". Você não vai botar na minha
boca o que você quer botar.
Folha - Alckmin diz que, em 20
anos de Congresso, o sr. não aprovou nenhum projeto que beneficiasse São Paulo. O sr. poderia citar
dois que tenha aprovado?
Genoino - Eu lamento que ele venha com essa visão tão pequena
sobre o Parlamento. Eu apresentei dezenas de projetos, mas sempre fui de uma bancada minoritária. Ulysses Guimarães ficou durante 25 anos no Congresso e
aprovou apenas dois projetos.
Além disso, como membro da
Comissão de Constituição e Justiça, dei mais de mil pareceres.
Folha - O sr. tem dito que vai acabar com a farra dos pedágios, alterar contratos, diminuir tarifas. Essas questões cabem à Artesp, uma
agência reguladora que é autônoma e que teve diretores nomeados
em abril com mandatos de até quatro anos. O sr. vai romper com a autonomia dela e mudar a diretoria?
Genoino - Não. Talvez eu faça o
que o Fernando Henrique fez
com o apagão. Não mudou nada
na agência do apagão, mas a
Aneel não fez nada. É lamentável
que essa agência tenha sido criada
só agora. Nas marginais da Castello [Branco], pelo padrão das tarifas, aquele pedágio deveria ser de
R$ 0,80. É de R$ 3,50. E, se a concessionária não atingir o número
de carros, o governo cobre.
Está malfeito. Como resolver esse problema? Chamar as concessionárias para negociar.
Agora, no limite, se negociar
não resolver, vou colocar essa decisão na Justiça. O pedágio da
marginal da Castello tem duas ilegalidades -a tarifa e o fechamento de acessos.
Folha - A agência discorda.
Genoino - Eu vou convencê-los
como governador. Terei sido eleito para isso. A agência não foi eleita. Vou usar a força política do governador para convencê-los.
Folha - Se não os convencer?
Genoino - Não sei. Eu não conversei com eles ainda. Se FHC se
dobrasse à Aneel, não tinha tido
Parente [Pedro Parente, que ficou
conhecido como "ministro do
apagão]", não tinha tido aquele
movimento todo. Não existem no
mercado essas coisas absolutamente "imovíveis". Há coisas no
contrato que eu posso mudar. Por
exemplo, o local do pedágio não
está no contrato.
Folha - Mesmo não estando no
contrato, se o sr. colocar um pedágio onde não há arrecadação, as
concessionárias podem ir à Justiça.
Genoino - Vou examinar e conversar. Se for necessário, vou à
Justiça pedir que ela dê a última
palavra sobre cláusulas que prejudicam o Estado.
Folha - O sr. vai oferecer às concessionárias subsídio ou redução
de investimentos?
Genoino - Eu não vou subsidiar
concessionária que explora pedágio. Jamais, jamais, jamais. O lucro delas é um lucro razoável. Não
tem sentido. É um escândalo.
O cidadão que não usa a estrada
já paga o pedágio embutido nos
produtos. Ainda vamos subsidiar
a concessionária que não corre
risco nenhum? Agora concessionária é como banco: não tem risco
de ter prejuízo. Vamos rediscutir.
É claro que não vou fazer isso de
maneira abrupta, voluntarista.
Vou fazer isso com toda a cautela.
Folha - Se eleito, o que o sr. fará
no primeiro ano de governo no caso da Castello Branco?
Genoino - Primeira coisa: vou
permitir a ligação da Castello com
as cidades. Porque é um absurdo.
Onde é que está escrito que as pessoas, para irem a Alphaville, a
Osasco e a Carapicuíba, têm que ir
até Jandira? Não está.
Folha - Mas está no contrato a garantia do equilíbrio econômico.
Genoino - Equilíbrio econômico
é uma coisa genérica. Pode ter
certeza, eu não vou ser governador para dar equilíbrio a quem especula com o serviço público.
Folha - Por que o sr. vota em José
Genoino?
Genoino - Eu voto no Genoino
pelo seguinte. Primeiro: eu me
preparei, aprendi a ser um político do diálogo. Segundo: sou de
um time. Terceiro: minha relação
com São Paulo é especial. Sou cearense e vim para cá para me proteger, para ter emprego. Tenho
uma relação de amor e paixão.
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