São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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PT

Genoino defende investigação de irregularidades, diz que Marta Suplicy assumiu uma prefeitura quebrada e critica tucano

Nem todo mundo no PT é puro, diz petista

DA REPORTAGEM LOCAL

Folha - Por que, na sua opinião, o governo do seu adversário, Geraldo Alckmin, é aprovado por mais de 50% da população e o governo de Marta Suplicy por 36%?
Genoino -
Eu não vou falar do meu adversário, eu vou falar de Marta. Ela está há um ano e dez meses na prefeitura de São Paulo.
Encontrou uma prefeitura quebrada e está fazendo um esforço muito grande. Há setores ainda com problemas, como o de transportes. Mas o que me estimula tanto a ser um defensor da prefeita é a revolução social que ela fez.
O programa dela de renda mínima é de R$ 120 e atende a 178 mil pessoas. No Estado, é R$ 60 e atende a 52 mil pessoas.

Folha - Por que, apesar disso, a aprovação dele é maior?
Genoino -
Ele está onde está por conta da morte do [Mario] Covas. Não basta só um governador ter uma imagem de bonzinho, ele tem que ter conteúdo. A grande debilidade do meu adversário é que ele é pequeno para o tamanho de São Paulo. Pequeno de idéias.

Folha - Em oito anos, suponho, a população teve tempo para avaliar o governo. Por que 56% o consideram ótimo e bom?
Genoino -
A minha competência é mudar a cabeça dos eleitores, certo? Eles não entendem de pesquisa. Se entendessem, eu não estaria no segundo turno, porque tinha pesquisa na época da eleição na qual eu estava bem atrás do Maluf. A disputa política é muito dinâmica, variável, imponderável. Por que eu fui, estourado, o primeiro em todo o ABC, onde o PT tem cinco prefeituras?

Folha - Mas o PT não venceu em muitas cidades e Estados onde governa. Há uma crítica ao partido.
Genoino -
Ainda bem que quem governa tem que receber a crítica da população. O PT aprende com a crítica. Claro que o eleitor dá recado para nós. Dá, sim, e o PT tem que ser humilde e entender. Cometemos erros, lógico. O PT não é um partido perfeito.

Folha - Os votos que Marta recebeu não foram todos transferidos para o senhor. É um recado?
Genoino -
Não. A transferência não é automática. Em 2000, Marta sempre esteve em primeiro lugar e tinha um grau de conhecimento que eu não tenho. É a minha primeira eleição majoritária.

Folha - O sr. diria ao Datafolha que o governo de Geraldo Alckmin é ótimo, bom, regular ou péssimo?
Genoino -
Eu não vou responder a essa pergunta porque não estou sendo pesquisado pelo Datafolha. Se fosse, minha identidade não apareceria na pesquisa. Agora, eu acho que o governo não enfrentou os principais problemas de São Paulo, o modelo econômico para gerar emprego.

Folha - Mas avalie com uma palavra deputado, uma nota.
Genoino -
Você acha que eu vou dar uma nota? Não vou. Eu digo a você: eu nunca fiz ataque pessoal ao Alckmin e não vou fazer agora. Digo que é um governo que não esteve à altura do grande desafio de São Paulo: gerar emprego.

Folha - Mas na propaganda o sr. diz que Alckmin é "bonzinho". O governo dele é bom?
Genoino -
Não, "bonzinho" não é o governo, mas a imagem de "bom moço" dele. Não vou avaliar. Você não vai colocar nenhuma avaliação na minha boca.

Folha - Uma reportagem da Folha mostrou que foram enviadas cartas com propaganda do sr. e de Lula a pessoas cadastradas pelos programas da Prefeitura de São Paulo. Como o sr. avalia isso?
Genoino -
Isso foi feito pelo diretório do PT, que comprou o cadastro. Não é da prefeitura.

Folha - Isso está obscuro ainda.
Genoino -
Estou esclarecendo.
Folha - Comprou de quem um cadastro que tem o nome de crianças das casas?
Genoino - Eu não sei, mas todo mundo sabe como se compra um cadastro. Nós não estamos usando a máquina. O PT vai informar isso à Justiça Eleitoral diante de qualquer representação.

Folha - O PT cresceu e incorporou algumas práticas que sempre criticou. Em Mato Grosso do Sul, houve uma distribuição de cesta básica para benefício do candidato Zeca do PT. No Rio Grande do Sul, denúncias de comprometimento de autoridades com o jogo do bicho. Em Santo André, uma CPI petista abafou as investigações sobre irregularidades em contratos. O PT já é igual aos outros?
Genoino -
Não use a tática do gambá, que espalha mau cheiro para todo mundo feder e não fazer diferença. Nós não aceitamos isso. No RS, um assessor teve um determinado diálogo com um delegado. Sim, é coisa que o PT condena, não aceita e reprova.
Eu não estou dizendo que todo mundo do PT é puro. A diferença é que, quando há essas coisas, a gente corta na própria carne e não tem medo da investigação. A Assembléia, majoritariamente de oposição, e o Ministério Público agiram e nada encontraram que comprometesse Olívio Dutra ou o governo dele. Em MS, havia uma denúncia, afastou-se a pessoa.
O assunto de Santo André é uma investigação que vem de seis anos, que tem que continuar, e as pessoas que têm culpa no cartório têm que pagar. Mas houve uma politização na véspera da eleição.

Folha - Um dos principais acusados em Santo André já voltou a atuar no partido. O PT considera Klinger [vereador e ex-secretário da prefeitura local] inocente?
Genoino -
Eu não tenho elementos para considerá-lo inocente e quem tem elementos para condená-lo não é o PT. Ele não tem responsabilidade no partido, não tem responsabilidade na campanha. Ele está sendo investigado e tem que continuar sendo.

Folha - Quando o PT é oposição, defende remanejamento no Orçamento de até 1%. Com Marta no governo, pode ser de 12%. Na oposição, o PT vetava a inclusão da merenda nos gastos com educação. No governo, Marta a incluiu. Na oposição, qualquer conversa do secretário de Governo com os vereadores é fisiologismo. Se o PT é governo, é acordo político. O PT é mais condescendente consigo mesmo?
Genoino -
O PT tem 22 anos de história e tem evoluído, tem aprendido muito. Houve momentos que nós erramos, e nós aprendemos com os erros. Mas, no fundamental, a história do PT o credencia para ser essa alternativa de poder que a população está legitimando. Agora, nessa história, nós cometemos erros e estamos corrigindo sempre.

Folha - A Prefeitura de São Paulo transferiu de forma ilegal verbas da saúde para a publicidade. Se fosse um outro governo, o PT pediria CPI. Como foi numa gestão do partido, defendeu que foi um erro.
Genoino -
Eu estou até admitindo que, pontualmente, nós certamente cometemos alguns erros quando fazemos oposição. Mas nesse caso não foi publicidade geral, foi dinheiro para informação, para combater a dengue.

Folha - É ilegal. E o secretário admitiu o erro.
Genoino -
Você já pensou que coisa fantástica é um secretário dizer que errou?

Folha - Isso abre a possibilidade de o PT ser assim condescendente com "erros" de outros partidos.
Genoino -
Não. O PT não vai ser condescendente nem com ele nem com os outros partidos. O PT não pode abrir mão de quatro coisas: ética, transparência, democracia e políticas sociais.

Folha - Outro exemplo: um militante histórico do PT, William Ali Chaim, disse que foi indicado para a presidência de um grupo de ônibus de SP pelo secretário dos Transportes de Marta, responsável por fiscalizar as empresas. O que o sr. faria se fosse no seu governo?
Genoino -
Eu conheci esse caso pela Folha. Isso tem que ser avaliado, tem que ser investigado. No meu governo, não vai acontecer esse tipo de coisa, não.

Folha - O sr. discorda?
Genoino -
Se eu estou dizendo a você que no meu governo não vai acontecer esse tipo de coisa...

Folha - Se acontecesse...
Genoino -
Não vai acontecer.

Folha - Por que pode acontecer no governo de Marta Suplicy e não pode acontecer no seu?
Genoino -
Porque nós estamos mais experientes e cuidadosos.

Folha - Mas acabou de acontecer.
Genoino -
Mas não vai [acontecer". Você não vai botar na minha boca o que você quer botar.

Folha - Alckmin diz que, em 20 anos de Congresso, o sr. não aprovou nenhum projeto que beneficiasse São Paulo. O sr. poderia citar dois que tenha aprovado?
Genoino -
Eu lamento que ele venha com essa visão tão pequena sobre o Parlamento. Eu apresentei dezenas de projetos, mas sempre fui de uma bancada minoritária. Ulysses Guimarães ficou durante 25 anos no Congresso e aprovou apenas dois projetos. Além disso, como membro da Comissão de Constituição e Justiça, dei mais de mil pareceres.

Folha - O sr. tem dito que vai acabar com a farra dos pedágios, alterar contratos, diminuir tarifas. Essas questões cabem à Artesp, uma agência reguladora que é autônoma e que teve diretores nomeados em abril com mandatos de até quatro anos. O sr. vai romper com a autonomia dela e mudar a diretoria?
Genoino -
Não. Talvez eu faça o que o Fernando Henrique fez com o apagão. Não mudou nada na agência do apagão, mas a Aneel não fez nada. É lamentável que essa agência tenha sido criada só agora. Nas marginais da Castello [Branco], pelo padrão das tarifas, aquele pedágio deveria ser de R$ 0,80. É de R$ 3,50. E, se a concessionária não atingir o número de carros, o governo cobre.
Está malfeito. Como resolver esse problema? Chamar as concessionárias para negociar.
Agora, no limite, se negociar não resolver, vou colocar essa decisão na Justiça. O pedágio da marginal da Castello tem duas ilegalidades -a tarifa e o fechamento de acessos.

Folha - A agência discorda.
Genoino -
Eu vou convencê-los como governador. Terei sido eleito para isso. A agência não foi eleita. Vou usar a força política do governador para convencê-los.

Folha - Se não os convencer?
Genoino -
Não sei. Eu não conversei com eles ainda. Se FHC se dobrasse à Aneel, não tinha tido Parente [Pedro Parente, que ficou conhecido como "ministro do apagão]", não tinha tido aquele movimento todo. Não existem no mercado essas coisas absolutamente "imovíveis". Há coisas no contrato que eu posso mudar. Por exemplo, o local do pedágio não está no contrato.

Folha - Mesmo não estando no contrato, se o sr. colocar um pedágio onde não há arrecadação, as concessionárias podem ir à Justiça.
Genoino -
Vou examinar e conversar. Se for necessário, vou à Justiça pedir que ela dê a última palavra sobre cláusulas que prejudicam o Estado.

Folha - O sr. vai oferecer às concessionárias subsídio ou redução de investimentos?
Genoino -
Eu não vou subsidiar concessionária que explora pedágio. Jamais, jamais, jamais. O lucro delas é um lucro razoável. Não tem sentido. É um escândalo.
O cidadão que não usa a estrada já paga o pedágio embutido nos produtos. Ainda vamos subsidiar a concessionária que não corre risco nenhum? Agora concessionária é como banco: não tem risco de ter prejuízo. Vamos rediscutir. É claro que não vou fazer isso de maneira abrupta, voluntarista. Vou fazer isso com toda a cautela.

Folha - Se eleito, o que o sr. fará no primeiro ano de governo no caso da Castello Branco?
Genoino -
Primeira coisa: vou permitir a ligação da Castello com as cidades. Porque é um absurdo. Onde é que está escrito que as pessoas, para irem a Alphaville, a Osasco e a Carapicuíba, têm que ir até Jandira? Não está.

Folha - Mas está no contrato a garantia do equilíbrio econômico.
Genoino -
Equilíbrio econômico é uma coisa genérica. Pode ter certeza, eu não vou ser governador para dar equilíbrio a quem especula com o serviço público.

Folha - Por que o sr. vota em José Genoino?
Genoino -
Eu voto no Genoino pelo seguinte. Primeiro: eu me preparei, aprendi a ser um político do diálogo. Segundo: sou de um time. Terceiro: minha relação com São Paulo é especial. Sou cearense e vim para cá para me proteger, para ter emprego. Tenho uma relação de amor e paixão.



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