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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

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ESQUERDA NO DIVÃ

Desfalcada de seus líderes, Internacional Socialista realiza congresso no Brasil e tenta voltar a ser representativa

Internacional se apóia no PT para vencer crise

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Apoiada na vitória eleitoral do PT, a Internacional Socialista realiza, a partir de amanhã, em São Paulo, o seu 22º congresso, cujo principal desafio será recuperar o prestígio como entidade representativa da esquerda mundial.
Trabalhistas, socialistas e sociais-democratas debaterão, durante três dias, temas como um novo papel para a ONU e a pobreza mundial. Mas o pano de fundo das discussões é a crise de identidade pela qual passam a organização e a esquerda no mundo.
Realizada pela primeira vez no Brasil, a reunião fica esvaziada com a ausência de três importantes líderes do centro-esquerda europeu, cujos partidos fazem parte da Internacional: os premiês alemão, Gerhard Schröder (social-democrata), britânico, Tony Blair (trabalhista), e sueco, Göran Persson (social-democrata).
"O maior problema não é o fato de um ou outro líder não comparecer à reunião, o que tira um pouco do seu peso, mas o de que a Internacional perdeu parte de sua representatividade internacional", avaliou o cientista social Norman Birnbaum, ícone da esquerda norte-americana e professor emérito no Centro de Direito da Universidade de Georgetown.
A Governança Progressista (ex-Terceira Via), que propõe um caminho entre o liberalismo e as tendências estatizantes da velha social-democracia e tem o trabalhismo inglês como um dos principais quadros, é apontada como uma das consequências da atual perda de identidade da esquerda e do enfraquecimento da Internacional Socialista.
"Uma reunião como esta é um "saco de gatos" completo. Há desde partidos que ainda têm um compromisso com reformas sociais até a maioria, que dá o tom. Para se tomar como medida ideológica o que é essa Internacional, basta dizer que o PT, membro ou não membro, ainda será uma força à esquerda, porque à direita está Blair", disse João Quartim de Moraes, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp e editor da revista "Crítica Marxista".

Conservadorismo
A atuação do chanceler (premiê) alemão Willi Brandt (1913-1992), nos anos 70 e 80, voltou a organização para o internacionalismo e o subdesenvolvimento do chamado Terceiro Mundo.
Para Leonel Brizola, presidente do PDT, único partido que compõe a Internacional, foi essa a época de maior influência da entidade no debate internacional.
"As esquerdas estão vivendo uma crise de identidade e não atravessam um bom momento em razão do que ocorreu em diversos países [vitória da direita na Europa nas últimas eleições]. Isso atinge o socialismo e confunde muita gente", afirmou Brizola.
Nesse cenário de indefinição da esquerda está o PT, principal "anfitrião-militante" do congresso, conforme definiu o seu presidente, José Genoino. O partido participará novamente como observador, deixando a polêmica definição sobre a entrada na entidade para depois das eleições de 2004.
"A Internacional era tachada de organização de direita. Os petistas diziam: "Isso é a outra cara da moeda. É conservadorismo disfarçado'", conta Brizola.
Por trás da realização do congresso no país está Luís Favre, marido da prefeita Marta Suplicy. "Simbolicamente constitui o reconhecimento do lugar ocupado pelo presidente Lula como líder mundial", disse Favre, para quem teses como as da "Terceira Via" são uma expressão da "crise de identidade" da organização.
Lula abrirá o encontro amanhã. De acordo com o secretário-geral da entidade, o chileno Luís Ayala, o Brasil foi escolhido como sede dos debates em razão da "expectativa" em torno do governo petista em toda a América Latina.
Segundo Manfred Nitsch, especialista em economia política e integrante do Instituto para a América Latina da Universidade Livre de Berlim, o PT "acabou se transformando num verdadeiro ícone da esquerda mundial". "Como [Lech] Walessa [ex-presidente da Polônia], Lula é o líder de um governo com preocupações sociais, mas que não coloca em xeque o sistema liberal", afirmou.
No congresso, cujo tema é "O Retorno da Política", serão feitos três documentos sobre a situação econômica e social internacional.


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