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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

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Políticos negam ter traído eleitores

DA AGÊNCIA FOLHA
DA REDAÇÃO
DA SUCURSAL DO RIO


Prefeitos afirmam não estar traindo seus eleitores ao trocar de cidade para tentar um novo mandato -e, com isso, ficar na inusitada situação de governar uma cidade e votar em outra.
"Como não posso ser candidato à reeleição na cidade que administrei, eles [eleitores] acham que deveria buscar meu caminho", diz o prefeito de São José (SC), Dário Berger (PSDB, ex-PFL).
Na semana do dia 3 de outubro, prazo para mudança de domicílio eleitoral, ele transferiu o seu para Florianópolis, onde deverá disputar a prefeitura no ano que vem.
Do centro de São José, é possível enxergar a Ilha de Santa Catarina, onde está a capital. As cidades são vizinhas, mas Florianópolis possui mais eleitores (256.004 contra 115.079).
"Ser prefeito da capital é o sonho de todo político. É mais um degrau na vida pública."
No caso de Berger, a possibilidade de disputar o terceiro mandato consecutivo veio casada com a mudança de partido. Sem candidatos fortes para disputar a prefeitura da capital, o PSDB catarinense viu no prefeito vizinho uma possibilidade de vitória.
Ainda em Santa Catarina, o prefeito de Paial, Névio Antônio Martori (PPS, ex-PFL), se mudou para Itá.
"O PPS ofereceu a possibilidade de uma candidatura a prefeito em Itá [cidade vizinha, de onde Paial foi desmembrada em 1996]", disse Martori, que já foi vereador (1988-92) e vice-prefeito (1992-96) de Itá. Desde a criação de Paial, ele é o prefeito.

Visita a eleitores
A prefeita de Joca Marques (PI), Janainna Marques (PFL), 27, se transferiu para Luzilândia, município do qual Joca Marques foi desmembrado em 1996.
A prefeita disse que visitou a maioria dos 5.000 moradores e que eles autorizaram sua transferência. "Eles diziam que, se eu não podia mais ficar aqui, concordavam com a mudança."
Janainna é sobrinha do atual prefeito de Luzilândia, Izmar Marques (PFL).
O prefeito de São Miguel da Baixa Grande (PI), Jeneílson Pio (ex-PFL), é agora eleitor de Passagem Franca. Pio teve o mandato suspenso pelo TRE-PI por suspeita de compra de votos na eleição, mas foi reconduzido ao cargo pelo TSE. Com um terceiro mandato, o prefeito manteria o foro privilegiado. O telefone da casa do prefeito diz que está temporariamente desligado, e ninguém atende no telefone da prefeitura. A troca de domicílio eleitoral do prefeito foi confirmada pelo presidente da Câmara Municipal, Chico Negro (PSDB).

"Planos de vida"
No Rio, os prefeitos de Mangaratiba, Carlo Bussato Júnior (PFL), Paraíba do Sul, Rogério Onofre (PP), e Macuco, Maurício Bittencourt Papelbaum (PP), mudaram seu domicílio para Itaguaí, Três Rios e Cordeiro, respectivamente.
A troca de siglas não causa embaraço aos prefeitos. "Eu adoto aqui o pragmatismo", diz Onofre. "O meu partido é a cidade que eu administro." Eleito pelo PSD, ele migrou para o PSB e, com a saída do ex-governador Anthony Garotinho do partido, aderiu ao PP.
"Não estava nos meus planos de vida ser candidato de novo. Mas o povo puxa, ninguém vai ser candidato se não tiver a vontade popular", diz Bussato, que começou a carreira no PL e se elegeu prefeito pelo PSDB. Ele atribui à atuação de "forças ocultas" a decisão recente de se filiar ao PFL.

"Missão" de vida
Warmillon Fonseca Braga (PFL), 37, prefeito de Lagoa dos Patos, no norte de Minas, diz que sua "missão" é servir à política.
Braga, produtor rural, quer trocar Lagoa dos Patos (4.400 habitantes) por Pirapora (50,3 mil), distante 60 km, sua cidade natal. Diz que, pela sua experiência, sabe "direitinho" como a máquina pública funciona.
"O melhor instrumento que um ser humano pode ter na mão para ajudar as pessoas é um mandato de prefeito", afirma ele.
Ronaldo Mota Dias (PL), 45, prefeito de São João da Lagoa, também no norte de Minas, diz que já cumpriu o seu "projeto político" lá. Quer agora ser prefeito em Coração de Jesus (25,7 mil habitantes), do qual São João da Lagoa (4.400 habitantes) se emancipou em 1995. "Elegi-me em cima de um projeto político, e esse projeto está pronto. Eu encerrei ele um ano e meio antes da eleição. Os meus compromissos e as minhas metas, eu acabei em março deste ano", disse.

Irmão de PC
Em Alagoas, há três casos de mudança de domicílio eleitoral. O caso que ganhou mais visibilidade foi a ida de Rogério Farias (PPS), prefeito de Barra do Santo Antônio, para Porto de Pedras.
Rogério é irmão de Paulo César Farias, o PC, morto em 1996. O expediente pode aumentar a zona de influência da família, já que a mulher de Rogério, Rume, atual vice-prefeita, será a candidata dele em Barra de Santo Antônio.
Em Pernambuco, o prefeito reeleito de Igarassu, Yves Ribeiro (PPS), mudou seu domicílio para Paulista, na Grande Recife. Ele já tem experiência nesse tipo de estratégia. Antes de governar Igarassu, administrou por duas vezes a cidade de Itapissuma.
Pelo menos mais dois outros prefeitos pernambucanos também transferiram seus domicílios eleitorais este ano: Elias Gomes (PPS), de Cabo de Santo Agostinho, e Genival Araújo -que ainda trocou o PMDB pelo PPS.
Gomes tem o apoio do presidente nacional do partido, Roberto Freire, para se candidatar em Jaboatão dos Guararapes. Já Araújo pretende trocar a Prefeitura de Betânia pela de Custódia.
O levantamento feito pela Folha apontou casos semelhantes de mudanças de domicílio eleitoral em outros seis Estados (AM, CE, MA, PB, RS e SE).


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