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JUDICIÁRIO
Leandro Despouy, da ONU, afirma que há magistrados brasileiros vinculados aos poderes político e econômico
Ação de juiz "explica" impunidade, diz relator
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relator da ONU que prepara
documento crítico sobre o Judiciário brasileiro, o argentino
Leandro Despouy, disse que há
juízes em vários Estados vinculados aos poderes político e econômico locais e que isso, além de
afetar a independência do Poder,
"explica" a impunidade no país.
"Em muitas cidades do interior
dos Estados, a ligação dos juízes
com os setores que detêm o poder
político e econômico acaba por
afetar a independência do Poder
Judiciário e explica o alto nível de
impunidade verificado", afirmou,
em texto com considerações preliminares divulgado ontem.
Despouy declarou, em entrevista para expor as primeiras conclusões, que tentará "documentar ao
máximo" as informações que recebeu nesse sentido.
Ele também disse que há denúncias de envolvimento de magistrados em crime de exploração
sexual de crianças e que essa seria
uma das causas da falta de investigação de casos registrados nas regiões Norte e Nordeste.
"Talvez a situação mais preocupante da realidade brasileira seja a
precária situação em que se encontram as crianças e os adolescentes no país... Os testemunhos
mostram que, nos Estados do
Norte e do Nordeste, a maioria
dos crimes sexuais contra crianças e adolescentes não é investigada e que, em muitos casos, existe o
envolvimento do próprio Poder."
Entre 13 de outubro e ontem,
Despouy teve 60 reuniões com
cerca de 500 pessoas em Brasília,
São Paulo, Porto Alegre, Recife e
Belém. A maioria dos ouvidos é
composta por juízes, membros do
Ministério Público e advogados.
Ontem, ele conversou com os
presidentes do STF (Supremo
Tribunal Federal), Nelson Jobim,
do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Edson Vidigal, e da AMB
(Associação dos Magistrados Brasileiros), Cláudio Baldino Maciel.
Jobim disse, por meio de sua assessoria, que o relatório dará uma
contribuição importante para o
aprimoramento da Justiça, sem
entrar em detalhes.
Despouy visitou o Brasil como
relator especial da Comissão de
Direitos Humanos das Nações
Unidas para apresentar à comissão um relatório sobre a Independência de Juízes e Advogados.
O relatório será elaborado até
dezembro e submetido à aprovação da comissão no início do ano.
Se aprovado, representará uma
recomendação da ONU de aprimoramento do Judiciário brasileiro e servirá de referência para
atuação de organizações não-governamentais no país, disse ele.
Despouy antecipou que defenderá o poder do Ministério Público de conduzir investigações criminais, a criação do Conselho Nacional de Justiça (o órgão de controle externo previsto na reforma
do Judiciário), o fortalecimento
das defensorias públicas como
forma de aumentar o acesso da
população carente à Justiça e a
adoção de medidas que dêem
mais rapidez ao processo judicial.
Sobre a lentidão processual, disse que a situação é mais grave em
São Paulo e que, neste Estado, a
distribuição de um habeas corpus, um tipo de recurso mais urgente, chega a demorar 90 dias.
O relator da ONU anunciou que
recomendará a criação de varas
judiciais especializadas em determinados temas, particularmente
a questão agrária e a defesa da infância e da juventude.
Em visita ao Brasil no ano passado, a relatora especial da ONU
para execuções sumárias, Asma
Jahangir, criticou de forma contundente o Judiciário no país, o
que causou polêmica.
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