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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CASO CELSO DANIEL
Juiz afastado afirma que petistas discutem, em conversas gravadas, meios para abafar investigação da morte do prefeito de Santo André
Justiça tem fitas contra PT, diz Rocha Mattos
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O juiz federal afastado João Carlos da Rocha Mattos, 57, preso há
dois anos, disse ontem à CPI dos
Bingos que a Justiça Federal em
São Paulo tem cópias de 42 fitas
cassetes com gravações ilegais nas
quais petistas discutem, segundo
ele, meios de abafar as investigações do assassinato do prefeito de
Santo André (SP), Celso Daniel,
morto em janeiro de 2002. A intenção dos petistas era esconder
suposto esquema de corrupção
do PT, afirmou Mattos.
Oficialmente as gravações originais, por serem fruto de escutas
telefônicas ilegais da Polícia Federal, foram destruídas, afirmou
Mattos. Ele mesmo disse ter dado
a ordem de destruir as gravações
em 2003, quando ainda estava no
cargo de juiz.
A CPI dos Bingos, segundo apurou a Folha, obteve cópias das fitas ontem à noite e deve analisá-las a partir de hoje.
No depoimento, Mattos afirmou que, em 2002, ouviu parte
das gravações e pelos diálogos entendeu que a "operação abafa" do
suposto esquema de corrupção
era coordenada por Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na época do assassinato de Celso
Daniel, Carvalho era o secretário
de Governo de Santo André.
"Pelo que me lembro das fitas,
não existe gravação frontal, mas
dá a impressão que ele [Carvalho]
coordenava um esquema de arrecadação [de propina para o PT]."
As gravações são ilegais pois a
PF, ao pedir autorização à Justiça
para fazer escutas, informou que
grampearia traficantes de drogas,
mas fez escutas em telefones de
petistas, incluindo Carvalho.
"Nas conversas (...) diziam que
estavam querendo jogar um cadáver em cima do PT. Era um
morto que ninguém queria", afirmou Mattos.
"Viuvinha sofrida"
"Não havia o mínimo lamento
de ninguém pela morte do prefeito. A apuração do caso seria desastrosa, porque mostraria já naquela época corrupção do PT",
acrescentou o juiz afastado.
Ainda segundo Mattos, Carvalho orientou a então namorada de
Celso Daniel, Ivone de Santana, a
ser uma "viuvinha sofrida".
Mattos foi condenado a três
anos de prisão por formação de
quadrilha por envolvimento em
suposto esquema de venda de decisões judiciais, desmontado em
outubro de 2003 na Operação
Anaconda, feita pela PF.
Até ontem pensava-se que não
havia cópias oficiais das gravações na Justiça.
Durante seu depoimento, Mattos afirmou não saber como as fitas atuais chegaram à Justiça Federal. Ele disse que tinha cópias,
mantidas ilegalmente em sua casa, mas que elas foram apreendidas pela PF na Operação Anaconda. A PF sempre nega.
As gravações originais, destruídas em 2003, chegaram a Mattos
porque ele era o juiz da 4ª Vara
Federal que analisou o caso. Ao
descobrir que as escutas eram ilegais, o Ministério Público Federal
pediu a Mattos apreensão do material na sede da PF em São Paulo.
Ele autorizou.
Disse que ouviu "quatro, cinco,
dez" fitas do conjunto de 42 para
tomar uma decisão. Mandou então que se fizesse a degravação.
Logo depois, contou à CPI, resolveu destruir as fitas atendendo a
um pedido do advogado que representava Klinger de Oliveira
Souza, um dos petistas gravados
na escuta ilegal. Klinger, que foi
secretário em Santo André e é
acusado de fazer parte de esquema de corrupção para arrecadar
dinheiro para o PT. Ele nega.
O ex-superintendente da PF em
São Paulo Francisco Baltazar da
Silva, que na época era segurança
de Lula na campanha eleitoral,
pediu a destruição das fitas "em
nome do partido", afirmou Mattos. Por coincidência, segundo o
juiz afastado, foi Baltazar quem
destruiu as fitas já no cargo de superintendente.
Mattos foi mais longe nas acusações. Afirmou que "pessoas da favela Pantanal", onde Celso Daniel
teria sido mantido em cativeiro,
ligavam para Klinger e Carvalho.
Outro Lado
O chefe-de-gabinete de Lula informou ontem, por meio de sua
assessoria, que "vai ler, examinar
e responder oportunamente" as
declarações de Rocha Mattos.
Disse ainda que não pedirá uma
sessão fechada hoje em acareação
com os irmãos de Celso Daniel,
que o acusam de saber de corrupção em Santo André.
Já a PF informou que não comentaria as acusações de Mattos.
A reportagem não conseguiu localizar o ex-superintendente da
PF Francisco Baltazar da Silva.
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