São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CASO CELSO DANIEL

Juiz afastado afirma que petistas discutem, em conversas gravadas, meios para abafar investigação da morte do prefeito de Santo André

Justiça tem fitas contra PT, diz Rocha Mattos

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O juiz federal afastado João Carlos da Rocha Mattos, 57, preso há dois anos, disse ontem à CPI dos Bingos que a Justiça Federal em São Paulo tem cópias de 42 fitas cassetes com gravações ilegais nas quais petistas discutem, segundo ele, meios de abafar as investigações do assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, morto em janeiro de 2002. A intenção dos petistas era esconder suposto esquema de corrupção do PT, afirmou Mattos.
Oficialmente as gravações originais, por serem fruto de escutas telefônicas ilegais da Polícia Federal, foram destruídas, afirmou Mattos. Ele mesmo disse ter dado a ordem de destruir as gravações em 2003, quando ainda estava no cargo de juiz.
A CPI dos Bingos, segundo apurou a Folha, obteve cópias das fitas ontem à noite e deve analisá-las a partir de hoje.
No depoimento, Mattos afirmou que, em 2002, ouviu parte das gravações e pelos diálogos entendeu que a "operação abafa" do suposto esquema de corrupção era coordenada por Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época do assassinato de Celso Daniel, Carvalho era o secretário de Governo de Santo André.
"Pelo que me lembro das fitas, não existe gravação frontal, mas dá a impressão que ele [Carvalho] coordenava um esquema de arrecadação [de propina para o PT]."
As gravações são ilegais pois a PF, ao pedir autorização à Justiça para fazer escutas, informou que grampearia traficantes de drogas, mas fez escutas em telefones de petistas, incluindo Carvalho.
"Nas conversas (...) diziam que estavam querendo jogar um cadáver em cima do PT. Era um morto que ninguém queria", afirmou Mattos.

"Viuvinha sofrida"
"Não havia o mínimo lamento de ninguém pela morte do prefeito. A apuração do caso seria desastrosa, porque mostraria já naquela época corrupção do PT", acrescentou o juiz afastado.
Ainda segundo Mattos, Carvalho orientou a então namorada de Celso Daniel, Ivone de Santana, a ser uma "viuvinha sofrida".
Mattos foi condenado a três anos de prisão por formação de quadrilha por envolvimento em suposto esquema de venda de decisões judiciais, desmontado em outubro de 2003 na Operação Anaconda, feita pela PF.
Até ontem pensava-se que não havia cópias oficiais das gravações na Justiça.
Durante seu depoimento, Mattos afirmou não saber como as fitas atuais chegaram à Justiça Federal. Ele disse que tinha cópias, mantidas ilegalmente em sua casa, mas que elas foram apreendidas pela PF na Operação Anaconda. A PF sempre nega.
As gravações originais, destruídas em 2003, chegaram a Mattos porque ele era o juiz da 4ª Vara Federal que analisou o caso. Ao descobrir que as escutas eram ilegais, o Ministério Público Federal pediu a Mattos apreensão do material na sede da PF em São Paulo. Ele autorizou.
Disse que ouviu "quatro, cinco, dez" fitas do conjunto de 42 para tomar uma decisão. Mandou então que se fizesse a degravação. Logo depois, contou à CPI, resolveu destruir as fitas atendendo a um pedido do advogado que representava Klinger de Oliveira Souza, um dos petistas gravados na escuta ilegal. Klinger, que foi secretário em Santo André e é acusado de fazer parte de esquema de corrupção para arrecadar dinheiro para o PT. Ele nega.
O ex-superintendente da PF em São Paulo Francisco Baltazar da Silva, que na época era segurança de Lula na campanha eleitoral, pediu a destruição das fitas "em nome do partido", afirmou Mattos. Por coincidência, segundo o juiz afastado, foi Baltazar quem destruiu as fitas já no cargo de superintendente.
Mattos foi mais longe nas acusações. Afirmou que "pessoas da favela Pantanal", onde Celso Daniel teria sido mantido em cativeiro, ligavam para Klinger e Carvalho.

Outro Lado
O chefe-de-gabinete de Lula informou ontem, por meio de sua assessoria, que "vai ler, examinar e responder oportunamente" as declarações de Rocha Mattos. Disse ainda que não pedirá uma sessão fechada hoje em acareação com os irmãos de Celso Daniel, que o acusam de saber de corrupção em Santo André.
Já a PF informou que não comentaria as acusações de Mattos.
A reportagem não conseguiu localizar o ex-superintendente da PF Francisco Baltazar da Silva.


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