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CAMINHO DAS ÁGUAS
CNBB critica ministro por citar início imediato de transposição
Ciro desagrada Planalto ao falar sobre rio São Francisco
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto recebeu
ontem com preocupação e contrariedade as declarações feitas
um dia antes pelo ministro Ciro
Gomes (Integração Nacional),
quando disse que as obras de
transposição das águas do rio São
Francisco vão começar "imediatamente", ignorando, com isso, o
acordo fechado pela Presidência
no início do mês com o bispo de
Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio.
A inquietação do Planalto com a
afirmação de Ciro ganhou ainda
mais intensidade pelo fato de d.
Cappio estar nesta semana em
Brasília para participar de um
evento organizado por movimentos sociais e pela Igreja Católica.
No início do mês, ele interrompeu dez dias de greve de fome depois de o governo ter se comprometido a adiar o início das obras
de transposição do rio para que as
discussões do projeto fossem retomadas.
No Planalto, a avaliação é que as
afirmações de Ciro podem afetar
a relação do governo com a Igreja
Católica e inviabilizar, pelo menos por ora, um possível encontro
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva com o bispo de Barra. Ontem, a reportagem ouviu de um
auxiliar de Lula que o ministro,
além de não ter atuado diretamente na desgastante negociação
pelo fim da greve de fome, ainda
contribuiu para colocar em xeque
o acordo anunciado pelo Planalto
sobre o tema.
Ontem, a CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil)
criticou as declarações do ministro da Integração Nacional. Em
entrevista, o secretário-geral da
conferência, d. Odilo Scherer,
condenou também o fato de Ciro
ter lançado dúvidas de que o atual
projeto possa ser modificado por
conta dos novos debates.
"Esperamos que o ministro,
sim, queira ouvir a sociedade. Foi
algo acordado e esperamos que
isso aconteça. E que o governo
também leve em conta os anseios
da sociedade para que o projeto
do São Francisco possa ser levado
avante com aquilo que realmente
for de interesse e do anseio da sociedade", disse d. Odilo.
O início das obras de transposição depende da concessão de licença de implantação do Ibama
(Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis),
que, no momento, está impedido
de concedê-la devido a uma liminar da Justiça Federal na Bahia.
De acordo com d. Odilo, a
CNBB tinha a expectativa de que
o governo pudesse ouvir a sociedade e levar em conta suas propostas de aperfeiçoamento e mudanças no atual projeto da obra.
"Nós esperaríamos que o governo realmente ouvisse a sociedade
e levasse em conta os anseios da
sociedade. De um lado, esse contato e esse diálogo também visam
esclarecer a opinião pública melhor sobre o projeto. Mas não só
esclarecer. Esperaríamos que o
governo também estivesse disposto a ouvir e levar em conta
eventualmente aquilo que possa
vir da sociedade."
Bispo de Jales (SP) e integrante
do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social da Presidência da República, d. Demétrio Valentini fez coro às declarações de
d. Odilo e disse ontem que o posicionamento de Ciro Gomes preocupa muito a CNBB e os movimentos sociais.
"Isso preocupa muito. O governo quer fazer uma aventura no
Nordeste e precisa ouvir todos os
lados. Que se abra o diálogo e que
se ouça todos os lados."
O MAB (Movimento de Atingidos por Barragens) também criticou o ministro da Integração Nacional. "O discurso do ministro
preocupa porque os grandes grupos econômicos continuam interessados nessa grande obra", disse Gilberto Cervinski, da coordenação do movimento.
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