São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2005

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CAMINHO DAS ÁGUAS

CNBB critica ministro por citar início imediato de transposição

Ciro desagrada Planalto ao falar sobre rio São Francisco

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto recebeu ontem com preocupação e contrariedade as declarações feitas um dia antes pelo ministro Ciro Gomes (Integração Nacional), quando disse que as obras de transposição das águas do rio São Francisco vão começar "imediatamente", ignorando, com isso, o acordo fechado pela Presidência no início do mês com o bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio.
A inquietação do Planalto com a afirmação de Ciro ganhou ainda mais intensidade pelo fato de d. Cappio estar nesta semana em Brasília para participar de um evento organizado por movimentos sociais e pela Igreja Católica.
No início do mês, ele interrompeu dez dias de greve de fome depois de o governo ter se comprometido a adiar o início das obras de transposição do rio para que as discussões do projeto fossem retomadas.
No Planalto, a avaliação é que as afirmações de Ciro podem afetar a relação do governo com a Igreja Católica e inviabilizar, pelo menos por ora, um possível encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o bispo de Barra. Ontem, a reportagem ouviu de um auxiliar de Lula que o ministro, além de não ter atuado diretamente na desgastante negociação pelo fim da greve de fome, ainda contribuiu para colocar em xeque o acordo anunciado pelo Planalto sobre o tema.
Ontem, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) criticou as declarações do ministro da Integração Nacional. Em entrevista, o secretário-geral da conferência, d. Odilo Scherer, condenou também o fato de Ciro ter lançado dúvidas de que o atual projeto possa ser modificado por conta dos novos debates.
"Esperamos que o ministro, sim, queira ouvir a sociedade. Foi algo acordado e esperamos que isso aconteça. E que o governo também leve em conta os anseios da sociedade para que o projeto do São Francisco possa ser levado avante com aquilo que realmente for de interesse e do anseio da sociedade", disse d. Odilo.
O início das obras de transposição depende da concessão de licença de implantação do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis), que, no momento, está impedido de concedê-la devido a uma liminar da Justiça Federal na Bahia.
De acordo com d. Odilo, a CNBB tinha a expectativa de que o governo pudesse ouvir a sociedade e levar em conta suas propostas de aperfeiçoamento e mudanças no atual projeto da obra.
"Nós esperaríamos que o governo realmente ouvisse a sociedade e levasse em conta os anseios da sociedade. De um lado, esse contato e esse diálogo também visam esclarecer a opinião pública melhor sobre o projeto. Mas não só esclarecer. Esperaríamos que o governo também estivesse disposto a ouvir e levar em conta eventualmente aquilo que possa vir da sociedade."
Bispo de Jales (SP) e integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, d. Demétrio Valentini fez coro às declarações de d. Odilo e disse ontem que o posicionamento de Ciro Gomes preocupa muito a CNBB e os movimentos sociais.
"Isso preocupa muito. O governo quer fazer uma aventura no Nordeste e precisa ouvir todos os lados. Que se abra o diálogo e que se ouça todos os lados."
O MAB (Movimento de Atingidos por Barragens) também criticou o ministro da Integração Nacional. "O discurso do ministro preocupa porque os grandes grupos econômicos continuam interessados nessa grande obra", disse Gilberto Cervinski, da coordenação do movimento.


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