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TJ-SP mantém 39 juízes como assessores
Magistrados atuam na burocracia e não julgam; ao menos 39 mil sentenças deixam de sair por ano, diz desembargador
Tribunal ignora regimento, e 7 juízes são assessores há mais de 3 anos; questão é tratada com reservas, mas desobediência já foi maior
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo mantém 39
juízes como assessores na cúpula da Corte em funções burocráticas, afastando-os da principal atividade: julgar. O tribunal não cumpre o seu regimento interno, e sete desses juízes
não poderiam ter sido reconvocados porque ultrapassaram o
limite de três anos no cargo.
Os magistrados Ana Amazonas Barroso Carrieri (assessora
do presidente Roberto Vallim
Bellocchi), Afonso Celso da Silva (da Seção Criminal) e José
Roberto Furquim Cabella (da
Corregedoria), por exemplo,
são assessores há dez anos.
"Sou contra a convocação,
porque é um desperdício de
material humano, quando a
magistratura de São Paulo não
consegue sequer preencher as
300 vagas existentes", afirmou
em julho o desembargador Augusto Francisco Mota Ferraz
de Arruda.
A questão é polêmica e tratada com reservas, mas a desobediência já foi maior. Em novembro de 2007, no final da
gestão de Celso Limongi, a direção do tribunal mantinha 21
juízes trabalhando como assessores além do prazo regimental. Bellochi reduziu essas exceções a um terço.
A manutenção de 39 juízes
assessores, segundo os cálculos
de Ferraz de Arruda, significa
que, no mínimo, 39 mil sentenças deixam de ser proferidas a
cada ano.
"Considerando que a média
de aprovados nos concursos é
de 60 juízes, dois terços desse
total é tirado das respectivas
varas para serviços administrativos", declara o desembargador.
Ferraz de Arruda diz que essa
prática é comum nos tribunais,
e que o Supremo Tribunal Federal e o Conselho Nacional de
Justiça também a adotam. Ele
ressalva ainda que "os juízes
não recebem nem um tostão a
mais pela função e que a exercem com o espírito público de
bem servir à administração".
Ele entende que essas funções deveriam ser ocupadas
por funcionários do tribunal ou
por pessoal contratado. Para
resolver o problema, propõe
convênios com procuradorias
do Estado ou do município, para comissionar procuradores
que dariam pareceres.
O desembargador Caetano
Lagrasta sugere "um aprofundado estudo das verdadeiras
necessidades dos respectivos
gabinetes do Conselho Superior da Magistratura".
Ele propôs, sem sucesso, a
presidentes anteriores que as
questões mais relevantes e urgentes fossem distribuídas entre os demais desembargadores, com o incremento de comissões, como faz o Tribunal
de Justiça do Rio Grande do
Sul.
No final de 2007, a juíza Maria Lúcia Ribeiro de Castro Pizzotti Mendes, da 23a. Vara Cível, obteve a lista de juízes que
ocupavam cargos de assessoria
além do prazo previsto. Ela enviou circular aos candidatos a
cargos eletivos, solicitando que
fosse respeitado o artigo 216 do
regimento interno.
"Há muito tal dispositivo
vem sendo esquecido (...), o
que, além de contrariar o regimento interno do próprio Tribunal de Justiça, afasta o juiz
de sua função precípua, que é a
de judicar", afirmou, na correspondência aos candidatos.
Os 39 assessores estão distribuídos da seguinte maneira: 10
na presidência, 3 na vice-presidência, 3 na Seção Criminal, 4
na Seção de Direito Privado, 3
na Seção de Direito Público e 16
na Corregedoria.
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