|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Nas mãos de aliados de Sarney, Luz para Todos fracassa no MA
TCU apura indícios de que os responsáveis pelas instalações maquiaram o número de ligações realmente realizadas
Eletrobrás não admite nenhuma irregularidade no programa; presidente da empresa diz ter tido aval de senador para assumir cargo
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL AO MARANHÃO
O Luz para Todos, criado em
2003 pelo governo Lula para levar energia elétrica às casas da
zona rural, acumula problemas
no Maranhão, Estado natal do
presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP). A meta
original de ligações ainda não
foi atingida e o programa está
sob suspeita de fraude.
O TCU (Tribunal de Contas
da União) apura indícios de que
os responsáveis pelas instalações maquiaram o número de
ligações realmente feitas. O
projeto no Maranhão é administrado por apadrinhados pelo
presidente do Senado.
Em relatório a que a Folha
teve acesso, o tribunal diz que
inspeções da Eletrobrás constataram 13 mil ligações a menos do que o total (103 mil) que
havia sido reportado pelo Estado ao Luz para Todos.
Outro ponto questionado pelo TCU é uma suposta incongruência técnica nos dados fornecidos pela companhia de energia do Maranhão, a Cemar.
Na prestação de contas do primeiro contrato do Luz para Todos, por exemplo, a empresa
alega ter eletrificado 1.578 casas a mais do que o previsto,
mas registra a instalação de 77
mil postes a menos do que o
necessário para cumprir a meta inicial definida no edital.
Esse contrato, de 2004, foi
assinado por Silas Rondeau
quando ele presidia a Eletrobrás, a estatal responsável pelo
programa federal de eletrificação. Homem de confiança de
Sarney, Rondeau virou ministro de Minas e Energia no ano
seguinte. Em maio de 2007, caiu por suspeita de corrupção.
A Eletrobrás continua comandada por diretores ligados
a Sarney. "Fui nomeado com
aval do presidente Sarney, não
tenha dúvida", reconhece José
Antonio Muniz, presidente da
estatal desde março de 2008.
Questionada pela Folha, a
Eletrobrás não admite nenhuma irregularidade no Luz para
Todos no Maranhão, apesar de
o TCU usar dados da própria
estatal ao analisar suspeita sobre maquiagem de números.
Os indícios de fraude começaram a ser apurados a partir
de reclamação do sindicato de
funcionários da Cemar dando
conta de que a empresa deixou
de fazer ao menos 50 mil das
103 mil ligações de energia estipuladas para 2005 e 2006.
O sindicato questionou ainda a fiscalização da Eletrobrás.
Em documento enviado ao
TCU, relatou que um fiscal vistoriou 2.376 casas em 12 municípios durante 15 dias, o que,
diz o sindicato, não é possível.
A Cemar, que tem a tarifa de
energia mais alta entre as concessionárias do país, é responsável pela segunda maior execução do Luz para Todos no
país, perdendo apenas para a
Bahia. Assinou contratos de R$
797 milhões, segundo o TCU (a
Eletrobrás não tabula os valores repassados a cada Estado).
Ligações políticas
No processo que corre no
TCU, a Cemar fez-se defender
por um de seus diretores, José
Jorge Leite Soares. Ele é amigo
íntimo do filho mais velho de
José Sarney, o empresário Fernando, de quem recebeu uma
procuração para movimentar a
conta do Instituto Mirante. A
ONG é suspeita de desviar parte de uma verba de R$ 150 mil
repassada pela Eletrobrás para
patrocínio cultural de festas.
Leite Soares, apelidado por
Sarney de JJ, é conhecido no
Maranhão como uma espécie
de "facilitador" do Luz para Todos dentro da Cemar.
Mais dois amigos maranhenses de Fernando Sarney participam da condução do programa federal no Estado: o diretor
financeiro da Eletrobrás, Astrogildo Quental, que tinha como missão agilizar o repasse de
verbas do programa para a Cemar, e o empreiteiro Henry
Duailibe Filho, dono da Ducol
Engenharia, contratada para as
obras de eletrificação. Ela recebeu R$ 51 milhões da Cemar.
A construtora foi alvo de ação
do Ministério Público Estadual
em 2007 por desvio de verbas
em obras públicas.
Segundo a Polícia Federal, as
ligações entre Cemar, Eletrobrás, empreiteiras, Ministério
de Minas e Energia e, mais especificamente, a presença de
aliados da família Sarney em
todas as instâncias revelam tráfico de influência em torno de
todo o setor elétrico do país.
Relatório do inquérito da
Operação Boi Barrica (atualmente Faktor), da PF, chama o
grupo maranhense de "organização criminosa" e diz que ela é
liderada por Fernando Sarney.
Colaborou ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de
Brasília
Texto Anterior: Toda Mídia - Nelson de Sá: À esquerda Próximo Texto: Povoado de Jabuti espera chegada de luz há 20 anos Índice
|