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Cesta é único recurso em cidade do CE
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CANINDÉ
Para as 300 famílias que vivem
em Targinos, vilarejo na zona rural de Canindé, no sertão do Ceará, os 18 quilos de alimentos que
recebem mensalmente do governo federal são a única fonte de sobrevivência.
O trabalho em Canindé (114 km
de Fortaleza) é escasso. Uma das
atividades para os homens é cortar palha da carnaúba, com rendimento de R$ 0,60 pelo milheiro.
Em outubro, a cesta não chegou
-a última remessa havia sido em
setembro. A saída para as famílias
mais numerosas quando há atraso é contar com a ajuda das menos numerosas, que conseguem
economizar os alimentos por
mais tempo.
"Vim sem comer nada. Deixei
em casa um pouco de arroz que a
vizinha conseguiu para os meus
meninos", disse Maria Carmelita,
38, mãe de cinco filhos, o mais novo com 2 anos. Ela estava esperando pela distribuição das cestas
que ocorreu na semana passada.
Zenilda Ferreira Vale, 35, já não
tinha o que dar para os seis filhos
e o marido comerem. Todos chegam a ficar até sete horas esperando o caminhão entregar os alimentos. "Minha mãe vai fazer arroz e feijão quando a gente chegar
em casa", disse a filha mais nova,
Eliziane, 5. "Gosto de tudo", disse
Mardônio, 11. As crianças não comiam havia mais de um dia.
O transporte dos alimentos até a
casa é feito no lombo de cavalo ou
jumento, sobre uma bicicleta ou
em cima da própria cabeça. "Minha casa fica a três léguas daqui.
Chego lá só daqui a duas horas",
disse Maria Carmelita. "Parece
que a cabeça vai explodir de tanta
dor, mas eu aguento a fome."
Em todo o município de Canindé recebem a cesta básica 9.292 famílias. O benefício só é entregue
às famílias sem rendimento algum ou àquelas que recebem um
salário mínimo e têm mais de três
pessoas em casa.
"Muita gente critica o projeto
porque as pessoas ficam mal-acostumadas. Eu até concordo
com isso, mas então que apresentem outro projeto que ajude essas
famílias a conseguir um emprego,
a ter um salário digno", afirmou o
presidente da comissão de distribuição das cestas, Luís Carneiro
Pereira.
As famílias que recebem a cesta
ficam sabendo pelo rádio quando
devem comparecer à sede dos vilarejos para pegar os produtos.
Cada um, com a carteira de identidade na mão, leva um saco de estopa para carregar os alimentos.
Na maioria das vezes, quem vai
é o homem da casa, por causa do
peso do pacote. "Mesmo sendo
pesado, eu prefiro vir, porque homem sempre demora mais, dá
uma passada no bar, fica falando
com os amigos", afirma Maria
Carmelita. "Minha mulher está
prontinha em casa para preparar
a comida", disse, alegre, o agricultor Francisco Antônio Lima, 35,
pai de três filhos.
Além de ser pouco variada,
muitas vezes os produtos da cesta
não são de boa qualidade. "Tem
vez que o feijão não cozinha de
jeito nenhum de tão duro que é",
disse Maria Ferreira Cunha, 48,
mãe de dois filhos. "Mas a gente
não reclama, não, porque é de
graça, não é? Se não tivesse esse, ia
ser bem pior."
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