São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2000

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OUTRO LADO
ACM diz que benefícios ocorriam porque sua fundação era "coisa do Estado, mesmo" e que caso é irrelevante
Senador afirma que "não precisava pagar"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), não nega que sua fundação tenha usado as instalações de um banco estadual sem pagar aluguel.
Na verdade, acredita que "não precisava pagar". Segundo ele, sua fundação "é coisa do Estado mesmo, praticamente".
Hospedado no Maksoud Plaza, em São Paulo, o senador irritou-se ao tratar do caso. "Não vou discutir isso por telefone", disse.
ACM também afirmou que tinha "na mão" denúncias contra o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), seu inimigo político que quer ocupar a presidência do Senado a partir de 2001. Mas fez a ressalva de que não se tratava de barganha. Leia a seguir a entrevista do presidente do Senado.

Folha - A Folha localizou no STJ uma ação de indenização movida pelo Desenbanco contra dirigentes que emprestaram recursos para a Fundação Bahiana para Estudos Econômicos e Sociais, que o senhor fundou e presidiu.
Antonio Carlos Magalhães -
Sim.

Folha - Esse caso também trata de despesas pagas a Rubens Gallerani, um ex-assessor seu no Ministério das Comunicações.
ACM -
Assessor no ministério, não. Isso aí é de quando ele era representante da Bahia (em Brasília). Era um negócio de peça de balé, não sei o quê.

Folha - Isso. O senhor conhece esse caso.
ACM -
Conheço, sim.

Folha - E qual é a avaliação sobre essa ação?
ACM -
É uma coisa inteiramente ignóbil. E por causa disso dois (ex) diretores moveram ação (contra o Desenbanco) e ganharam no Tribunal da Bahia. Eu não deixei que eles pegassem o dinheiro. Eles não trabalharam para ganhar R$ 2 milhões.

Folha - E o dinheiro que foi para a fundação?
ACM -
O da fundação estava todo legal e também já ganhou na Justiça.

Folha - Mas a Justiça da Bahia nem sequer examinou o mérito da ação. Considerou que o Desenbanco deveria ter realizado assembléia de acionistas antes de mover a ação. Entendimento absolutamente diverso do que o STJ deu à mesma questão. Vai ser julgado pela primeira vez o mérito no STJ.
ACM -
Eu desconheço inteiramente.

Folha - Esse andamento mais recente é de um ano para cá. Esse caso foi entregue ao ministro Aldir Passarinho Júnior e ele vai levar a julgamento na Quarta Turma.
ACM -
Você sabe qual é o pensamento dele?

Folha - Não, não sei.
ACM -
Para você ver como eu acho isso tão irrelevante. Eu nunca tratei desse assunto no STJ.

Folha - Mas trataria como?
ACM -
Perguntar como está, como não está, ué. Nem vou dar importância a isso.

Folha - Não vai dar importância?
ACM -
Nenhuma.

Folha - Mas senador, a sua fundação ocupava um andar na sede do Desenbanco.
ACM -
Por autorização do governo do Estado e do Desenbanco.

Folha - Mas a fundação não pagava aluguel.
ACM -
Não precisava pagar. É coisa do Estado mesmo, praticamente.

Folha - Como é coisa do Estado? Era uma entidade privada?
ACM -
Não senhor. Não vou discutir com você no telefone uma coisa dessa.

Folha - Por que não?
ACM -
Porque não quero.

Folha - O senhor pode não querer, mas o jornal vai publicar a informação.
ACM -
Pode publicar o que quiser, como tem publicado outras coisas. Aí eu faço uma carta e desminto você no jornal.

Folha - Mas o senhor não pode desmentir os fatos.
ACM -
Você espere o julgamento do ministro. Deixe de ser apressado. Mas você está apressado a serviço de quem?

Folha - Eu sou pago por uma empresa jornalística.
ACM -
Meu amigo, você divulgue o que você quiser. Faça como você quiser. Eu não tenho que conversar com você pelo telefone. Por que eu vou dar a você essa importância, de conversar por telefone?

Folha - Mas se o senhor conhece o processo, não entendo porque o senhor não se dispõe a esclarecer logo.
ACM -
Meu amigo, não vou conversar mais com você sobre esse assunto. Se você quiser conversar comigo segunda-feira, estou às suas ordens. Se você achar que deve esperar, espere. Você manda, rapaz. Nós estamos numa fase em que quem manda é (o senador) Jader Barbalho (risos).

Folha - O senhor acha?
ACM -
Eu acho que vocês não têm a reação com Jader Barbalho que deveriam ter. Você acha que ele é sério?

Folha - Eu não tenho que achar nada, senador.
ACM -
Você tem uma porção de fatos na mão sobre Jader e não quer tratar. Quer tratar disso (o caso do Desenbanco). Eu quero tratar das duas coisas.

Folha - Onde é que estão?
ACM -
Estão na mão do Fernando Mesquita (assessor de imprensa de ACM) e na minha. É só você fazer.

Folha - Senador, aqui não se trata de barganha, de dossiê de um contra outro.
ACM -
Aí você me respeite.

Folha - Senador, não vou entrar nisso.
ACM -
Me respeite (sic). Quem faz barganha não sou eu. É outra pessoa que você conhece.

Folha - Estou tratando de uma questão de sua alçada.
ACM -
Você me dá licença que eu não vou mais conversar?

Folha - Pois não.
ACM -
Boa tarde.

Folha - Boa tarde.


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