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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O FUTURO DE PALOCCI
Ministro já ganhou disputa com Dilma, avalia presidente; ministra considerou exagerada comparação entre titular da Fazenda e o jogador Ronaldinho
Para Lula, Palocci não deve "tripudiar"
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva dedicou o dia de ontem a
tentar promover a paz entre os
ministros Antonio Palocci Filho
(Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa
Civil). Palocci evitou deliberadamente reuniões com Dilma e não
aceita que ela tenha ingerência sobre a liberação de recursos.
Ontem de manhã, antes de embarcar para o Ceará, Lula instruiu
auxiliares a dizer a Palocci que ele
já havia vencido a queda-de-braço com Dilma, mas que não deveria "tripudiar". O presidente não
quer que ela seja "humilhada",
disse um ministro que conversou
ontem com o colega da Fazenda.
Também pela manhã, Lula convidou Dilma de surpresa a acompanhá-lo na viagem ao Ceará. Ela
avalia que Palocci tenta desgastá-la além da conta. Agora não é Palocci quem está contrariado com
Lula, mas Dilma. Ela acha que o
presidente, em entrevista a rádios
anteontem, exagerou ao chamar
Palocci de "Ronaldinho" (Ronaldo Gaúcho, jogador de futebol).
Ao levá-la no vôo, a intenção de
Lula era agradar a ministra. Depois de ordenar que Palocci e Dilma parassem com ataques públicos, ele quer que voltem a conviver civilizadamente. Lula deseja se
reunir com os dois na semana que
vem ou no fim de semana.
Com a justificativa de que tinham outros compromissos de
governo, Palocci e Dilma foram as
principais ausências no 25º Encontro Nacional de Comércio Exterior, ontem no Rio. Evitaram o
que seria a primeira vez que se encontrariam após Lula ter confirmado a permanência do ministro
no cargo até o fim da gestão.
Quem falou ontem com Palocci
ouviu o seguinte: "Está tudo bem.
As coisas estão melhorando e vão
melhorar". No entanto Palocci
avalia que é preciso que Lula
cumpra promessas que lhe fez.
A primeira é oficializar publicamente ou deixar claro para Dilma
num acordo de bastidor que o esforço fiscal deste ano será superior à meta de superávit primário
de 4,25% do PIB. Na segunda-feira à noite, quando teve a conversa
com Lula na qual decidiu permanecer no governo, Palocci obteve
dele a promessa de que o superávit seria de 4,5%, o que lhe permitiria fechar o ano com um número entre 4,6% e 4,7%, pois a equipe econômica sempre mira acima
da meta para tentar atingi-la.
O superávit primário é a economia feita dos gastos públicos para
pagar os juros da dívida pública.
Dilma reclama que o superávit está acima da meta e que o excedente deveria ser destinado a gastos.
Dilma argumenta que a política
monetária exagerou ao fixar juros
muito altos. Como resultado, o
superávit de 4,25% é insuficiente
para pagar a conta de juros. Ou
seja, o governo "enxuga gelo",
pois o volume da dívida pública
não cai devido aos juros altos.
Palocci rebate. Diz que há um
problema anterior. Os juros foram elevados para impedir o crescimento da inflação. O aumento
da dívida pública é um efeito colateral, pois a prioridade é evitar a
volta da inflação, alega Palocci.
Antes da crise Dilma-Palocci,
Lula estimulou a ministra a brigar
pelo superávit mais próximo possível da meta de 4,25%. Ela passou
a atacar o colega da Fazenda, dizendo que ele segura recursos para fazer superávit superior à meta.
Isso explica porque Dilma gostaria de tornar obrigatórias as decisões da Junta Orçamentária,
presidida por Lula e que se reúne
mensalmente para avaliar a entrada de receitas e a possibilidade de
liberação de recursos. Já Palocci
não quer que essas decisões sejam
automáticas. Pressiona pelo fim
da junta ou a exclusão de Dilma
da decisão sobre liberação de verba. Diz ser assunto da Fazenda.
Colaborou a Sucursal do Rio
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