São Paulo, sábado, 26 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O FUTURO DE PALOCCI

Ministro já ganhou disputa com Dilma, avalia presidente; ministra considerou exagerada comparação entre titular da Fazenda e o jogador Ronaldinho

Para Lula, Palocci não deve "tripudiar"

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva dedicou o dia de ontem a tentar promover a paz entre os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil). Palocci evitou deliberadamente reuniões com Dilma e não aceita que ela tenha ingerência sobre a liberação de recursos.
Ontem de manhã, antes de embarcar para o Ceará, Lula instruiu auxiliares a dizer a Palocci que ele já havia vencido a queda-de-braço com Dilma, mas que não deveria "tripudiar". O presidente não quer que ela seja "humilhada", disse um ministro que conversou ontem com o colega da Fazenda.
Também pela manhã, Lula convidou Dilma de surpresa a acompanhá-lo na viagem ao Ceará. Ela avalia que Palocci tenta desgastá-la além da conta. Agora não é Palocci quem está contrariado com Lula, mas Dilma. Ela acha que o presidente, em entrevista a rádios anteontem, exagerou ao chamar Palocci de "Ronaldinho" (Ronaldo Gaúcho, jogador de futebol).
Ao levá-la no vôo, a intenção de Lula era agradar a ministra. Depois de ordenar que Palocci e Dilma parassem com ataques públicos, ele quer que voltem a conviver civilizadamente. Lula deseja se reunir com os dois na semana que vem ou no fim de semana.
Com a justificativa de que tinham outros compromissos de governo, Palocci e Dilma foram as principais ausências no 25º Encontro Nacional de Comércio Exterior, ontem no Rio. Evitaram o que seria a primeira vez que se encontrariam após Lula ter confirmado a permanência do ministro no cargo até o fim da gestão.
Quem falou ontem com Palocci ouviu o seguinte: "Está tudo bem. As coisas estão melhorando e vão melhorar". No entanto Palocci avalia que é preciso que Lula cumpra promessas que lhe fez.
A primeira é oficializar publicamente ou deixar claro para Dilma num acordo de bastidor que o esforço fiscal deste ano será superior à meta de superávit primário de 4,25% do PIB. Na segunda-feira à noite, quando teve a conversa com Lula na qual decidiu permanecer no governo, Palocci obteve dele a promessa de que o superávit seria de 4,5%, o que lhe permitiria fechar o ano com um número entre 4,6% e 4,7%, pois a equipe econômica sempre mira acima da meta para tentar atingi-la.
O superávit primário é a economia feita dos gastos públicos para pagar os juros da dívida pública. Dilma reclama que o superávit está acima da meta e que o excedente deveria ser destinado a gastos.
Dilma argumenta que a política monetária exagerou ao fixar juros muito altos. Como resultado, o superávit de 4,25% é insuficiente para pagar a conta de juros. Ou seja, o governo "enxuga gelo", pois o volume da dívida pública não cai devido aos juros altos.
Palocci rebate. Diz que há um problema anterior. Os juros foram elevados para impedir o crescimento da inflação. O aumento da dívida pública é um efeito colateral, pois a prioridade é evitar a volta da inflação, alega Palocci.
Antes da crise Dilma-Palocci, Lula estimulou a ministra a brigar pelo superávit mais próximo possível da meta de 4,25%. Ela passou a atacar o colega da Fazenda, dizendo que ele segura recursos para fazer superávit superior à meta.
Isso explica porque Dilma gostaria de tornar obrigatórias as decisões da Junta Orçamentária, presidida por Lula e que se reúne mensalmente para avaliar a entrada de receitas e a possibilidade de liberação de recursos. Já Palocci não quer que essas decisões sejam automáticas. Pressiona pelo fim da junta ou a exclusão de Dilma da decisão sobre liberação de verba. Diz ser assunto da Fazenda.


Colaborou a Sucursal do Rio

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