São Paulo, sábado, 26 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DE DIRCEU

Em documento enviado a ministros do Supremo, presidente do Conselho de Ética reclama de aprovação de pedidos para protelar processo contra petista

Izar quer STF contra "chicanas" de Dirceu

FÁBIO ZANINI
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Enquanto o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), alertava para o risco de uma crise entre Poderes e pedia "cuidado", o Conselho de Ética da Câmara agia de forma diferente, subindo o tom contra o deputado José Dirceu (PT-SP).
Em documento entregue por um assessor nos gabinetes dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, o presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), afirmou que os advogados de Dirceu estão recorrendo a "chicanas exclusivamente procrastinatórias".
Foi uma referência às manobras, geralmente bem-sucedidas, do criminalista José Luiz Oliveira Lima, que derrubaram decisões do conselho. Izar pede que o STF impeça que isso continue ocorrendo. "Senhor ministro, diante de chicanas desta natureza, com fins exclusivamente procrastinatórios, qualquer julgador, em toda e qualquer instância, tem obrigação de cerceá-las, promovendo o regular andamento dos trabalhos", diz o "memorial" de seis páginas assinado por Izar.
Na linguagem jurídica, "chicana" é um termo depreciativo para advogados. Na definição do dicionário Aurélio, trata-se de "sutileza capciosa, em questões judiciais".
O advogado de Dirceu rebateu a acusação. "Faz parte do regime democrático a obtenção de decisões favoráveis e desfavoráveis. O que o STF tem feito é recolocar nos trilhos um processo muitas vezes atropelado pelo conselho", disse Oliveira. Na segunda-feira, é a vez de o advogado entregar seu "memorial" aos ministros.
A tensão deve perdurar até a próxima quarta-feira, quando finalmente o ministro Sepúlveda Pertence emite o voto de desempate em relação à liminar pedida por Dirceu para sustar o processo. A ação toma por base o fato de as testemunhas de defesa terem sido ouvidas antes das de acusação.

Opções
Se Sepúlveda negar a liminar, a cassação será votada pelo plenário no mesmo dia. Caso o ministro a aceite, abrem-se duas hipóteses: ou as testemunhas de defesa terão de depor novamente, o que deve arrastar o processo até 2006, ou os ministros determinarão que sejam suprimidos do relatório trechos "comprometidos" pela inversão processual, e a votação pela Câmara pode seguir adiante.
Enquanto isso, crescem os temores de um choque entre Poderes, principalmente se o Judiciário adotar o entendimento mais radical, o da reinquirição das testemunhas. "Respeito a decisão do STF, mas está na hora de conversarmos. Temos de ter cuidado para uma crise política não virar uma crise entre Poderes", afirmou o presidente da CPI.
O imbróglio criado ameaça a aprovação do Orçamento da União para 2006. A oposição diz que não votará o texto do governo enquanto não houver um desfecho para o caso de Dirceu.
Na noite de ontem, em Campo Grande (MS), Dirceu disse que a oposição "sabota o governo Lula" e "procura constranger os ministros do STF" ao obstruir a aprovação do Orçamento.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, também reagiu: "Não podemos transformar briga política em instrumento de chantagem contra o país". Criticou ainda "a postura irresponsável" dos parlamentares da oposição.


Colaborou a Agência Folha, em Campo Grande

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