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JANIO DE FREITAS
Entre a ação e o bocejo
A diminuição dos subsídios de quase todos os gabinetes seria a mais decente das providências para iniciar a moralização do Congresso
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UMA IMPORTANTE proposta
para atenuar a desmoralização do Congresso, com prováveis reflexos saneadores nos Estados, tende a se perder caso não haja
um movimento em seu apoio na opinião pública, a partir de imprensa,
CNBB, OAB, ABI e outras entidades
com poder mobilizador (embora
pouco ou nada exercido nos últimos
anos).
Motivada como contraproposta à
articulação para mais aumentos dos
vários ganhos de deputados e senadores, a idéia que reúne um pequeno
grupo de parlamentares consiste em
duas providências concomitantes:
sustar a discussão do "reajuste" e
instituir, por meio de uma comissão
especial, os estudos necessários para sanear e racionalizar o gasto com
os congressistas e com atividades injustificáveis da Câmara, como a sua
rádio só para as cercanias de Brasília, e do Senado.
Em nenhum sentido, o que inclui
o salarial, a função de deputado
equivale à de ministro do Supremo
Tribunal Federal, como não é superior à de ministro do Superior Tribunal de Justiça. Dispensa considerações, portanto, o absurdo da articulação para que os subsídios de
parlamentares equiparem-se, com
aumento de 91,5%, aos do STF e sejam superiores aos do STJ.
Diminuir os vencimentos de parlamentares, isso sim, seria saudável.
O desconto das faltas injustificáveis,
considerada a semana normal do
funcionalismo, e a conseqüente diminuição dos subsídios de quase todos os parlamentares seria, a rigor, a
mais decente das providências para
iniciar a moralização do Congresso.
Nenhum dos presidentes da Câmara e do Senado, em anos a perder de
vista, mostrou estatura para aplicar
o regime legal de presenças e vencimentos. E não é prudente supor que
apareça algum, no futuro previsível.
Quem seria capaz de fazê-lo, por isso
mesmo, não se elege presidente no
Congresso.
Mas a proposta de racionalização
dos gastos atuais aborda práticas
não menos despropositadas, e vários dos privilégios. Como a verba
"indenizatória", à falta de nome ainda mais disfarçante; a mais recente
verba "de gabinete" e, além de outras de igual teor moral, também
lembra Fernando Gabeira os milhares de reais mensais, para cada parlamentar, a pretexto de gasto com
selos na era da internet. São os diversos penduricalhos, assentados
em justificativas falseadas, que levam o gasto mensal com cada deputado a quase R$ 100 mil. Gasto, convém lembrar, que não resulta da divisão da despesa total da Câmara pelo número de deputados, mas de
gasto direto, pessoal, com cada um
deles.
Fernando Gabeira, Eduardo Suplicy, Chico Alencar, Jefferson Peres, Heloísa Helena e Júlio Delgado
iniciaram o grupo da contraproposta. Nenhuma surpresa nesses nomes, nem nos que vêm aumentar o
grupo. Mas, cá de fora, qualquer passo que os apoie para valer, com ação,
será muito surpreendente. O que é
tão deplorável quanto mais parece
que um punhado de parlamentares
batalhadores pode iniciar a luta, mas
a maneira mais provável de vencê-la
seria outra. Seria o projeto popular,
como a Constituição prevê, proveniente de movimento de opinião pública. Se houvesse, cá fora, quem
acordasse para acordá-la.
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