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Brechas do caso sanguessugas continuam
Um ano após escândalo, 82% dos deputados fazem emendas que podem chegar a R$ 3 bi para compra de ambulâncias
Denúncia apontou compras superfaturadas; acusados em 2006 negam qualquer participação e voltam a apresentar emendas agora
FÁBIO ZANINI
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um ano após ser estourado o
esquema dos sanguessugas,
82% dos 513 deputados federais apresentaram emendas ao
Orçamento da União para compra de ambulâncias - modalidade de operação alvo de desvio
de dinheiro no escândalo.
No total, foram R$ 3 bilhões
reservados para a rubrica que
permite a compra dos veículos,
sendo R$ 600 milhões em iniciativas individuais de deputados e senadores e o restante em
emendas coletivas, apresentadas pelas bancadas estaduais.
Entre eles, três acusados de
envolvimento no esquema
-que não chegaram a ser denunciados à Justiça. Pedro
Henry (PP-MT), Marcondes
Gadelha (PSB-PB) e Wellington Roberto (PR-PB) integram
o grupo de parlamentares cujas
emendas ao Orçamento de
2008 incluem "aquisição de
unidade móvel" por governos
estaduais, prefeituras ou entidades privadas.
Todos negam envolvimento
no esquema investigado. Gadelha reservou R$ 1,7 milhão,
Henry destinou R$ 1 milhão e
Roberto pediu R$ 100 mil.
No total, 486 parlamentares
apresentaram emendas para
ambulâncias e unidades de saúde, sendo que dois deles, os deputados Carlos Wilson (PT-PE) e Ana Arraes (PSB-PE)
destinaram a elas 100% do seu
quinhão de R$ 8 milhões.
Segundo Wilson, suas emendas e as de Ana serão todas colocadas na construção do Hospital Miguel Arraes, em Paulista, na Grande Recife. "O governador Eduardo Campos [filho
de Ana e neto de Miguel] nos
fez este pedido e decidimos
atender, dadas as necessidades
da cidade. Preferi não pulverizar minhas emendas justamente para não entrarem no varejo", declarou.
Já a deputada Solange Almeida (PMDB-RJ) apresentou 21
emendas que permitem a compra de ambulâncias, beneficiando 17 municípios do Estado, inclusive Rio Bonito, onde
foi prefeita. Almeida foi procurada na última sexta-feira, mas
não foi localizada pela Folha.
Sanguessugas
Desvendado em 2006, o caso
dos sanguessugas teve como pivô a empresa mato-grossense
Planam. Segundo a Polícia Federal, seu proprietário, Luiz
Antônio Vedoin, comandaria
esquema com a participação de
prefeituras, deputados, senadores, ONGs e funcionários públicos, pelo qual ambulâncias
superfaturadas seriam compradas com dinheiro do Orçamento. Também haveria fraudes na aquisição de equipamentos hospitalares.
Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sugeriu
indiciamento de 72 parlamentares. Ninguém perdeu o mandato nos casos analisados. Deputados que não se reelegeram foram denunciados à Justiça.
Apenas cinco deputados se
reelegeram: além de Henry,
Gadelha e Roberto, voltaram à
Câmara Wellington Fagundes
(PR-MT) e João Magalhães
(PMDB-MG), que neste ano
não apresentaram emendas de
ambulâncias.
As emendas têm a nomenclatura "implantação, aparelhamento e adequação de unidade
de saúde e aquisição de unidade
móvel". Elas são genéricas, podendo ser usadas tanto para
construção de um hospital como para a compra de ambulâncias e equipamentos. Em outras palavras, a emenda é muitas vezes uma espécie de autorização que pode ser usado para
qualquer um destes fins.
O fato de as emendas terem
sido incluídas no Orçamento
também não significa que o dinheiro será liberado. Isso fica a
critério do Executivo, embora a
promessa do governo seja aumentar em muito no ano que
vem o percentual de execução
orçamentária em razão dos recordes de arrecadação.
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