São Paulo, segunda-feira, 26 de novembro de 2007

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Brechas do caso sanguessugas continuam

Um ano após escândalo, 82% dos deputados fazem emendas que podem chegar a R$ 3 bi para compra de ambulâncias

Denúncia apontou compras superfaturadas; acusados em 2006 negam qualquer participação e voltam a apresentar emendas agora

FÁBIO ZANINI
RANIER BRAGON

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um ano após ser estourado o esquema dos sanguessugas, 82% dos 513 deputados federais apresentaram emendas ao Orçamento da União para compra de ambulâncias - modalidade de operação alvo de desvio de dinheiro no escândalo.
No total, foram R$ 3 bilhões reservados para a rubrica que permite a compra dos veículos, sendo R$ 600 milhões em iniciativas individuais de deputados e senadores e o restante em emendas coletivas, apresentadas pelas bancadas estaduais.
Entre eles, três acusados de envolvimento no esquema -que não chegaram a ser denunciados à Justiça. Pedro Henry (PP-MT), Marcondes Gadelha (PSB-PB) e Wellington Roberto (PR-PB) integram o grupo de parlamentares cujas emendas ao Orçamento de 2008 incluem "aquisição de unidade móvel" por governos estaduais, prefeituras ou entidades privadas.
Todos negam envolvimento no esquema investigado. Gadelha reservou R$ 1,7 milhão, Henry destinou R$ 1 milhão e Roberto pediu R$ 100 mil.
No total, 486 parlamentares apresentaram emendas para ambulâncias e unidades de saúde, sendo que dois deles, os deputados Carlos Wilson (PT-PE) e Ana Arraes (PSB-PE) destinaram a elas 100% do seu quinhão de R$ 8 milhões.
Segundo Wilson, suas emendas e as de Ana serão todas colocadas na construção do Hospital Miguel Arraes, em Paulista, na Grande Recife. "O governador Eduardo Campos [filho de Ana e neto de Miguel] nos fez este pedido e decidimos atender, dadas as necessidades da cidade. Preferi não pulverizar minhas emendas justamente para não entrarem no varejo", declarou.
Já a deputada Solange Almeida (PMDB-RJ) apresentou 21 emendas que permitem a compra de ambulâncias, beneficiando 17 municípios do Estado, inclusive Rio Bonito, onde foi prefeita. Almeida foi procurada na última sexta-feira, mas não foi localizada pela Folha.

Sanguessugas
Desvendado em 2006, o caso dos sanguessugas teve como pivô a empresa mato-grossense Planam. Segundo a Polícia Federal, seu proprietário, Luiz Antônio Vedoin, comandaria esquema com a participação de prefeituras, deputados, senadores, ONGs e funcionários públicos, pelo qual ambulâncias superfaturadas seriam compradas com dinheiro do Orçamento. Também haveria fraudes na aquisição de equipamentos hospitalares.
Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sugeriu indiciamento de 72 parlamentares. Ninguém perdeu o mandato nos casos analisados. Deputados que não se reelegeram foram denunciados à Justiça.
Apenas cinco deputados se reelegeram: além de Henry, Gadelha e Roberto, voltaram à Câmara Wellington Fagundes (PR-MT) e João Magalhães (PMDB-MG), que neste ano não apresentaram emendas de ambulâncias.
As emendas têm a nomenclatura "implantação, aparelhamento e adequação de unidade de saúde e aquisição de unidade móvel". Elas são genéricas, podendo ser usadas tanto para construção de um hospital como para a compra de ambulâncias e equipamentos. Em outras palavras, a emenda é muitas vezes uma espécie de autorização que pode ser usado para qualquer um destes fins.
O fato de as emendas terem sido incluídas no Orçamento também não significa que o dinheiro será liberado. Isso fica a critério do Executivo, embora a promessa do governo seja aumentar em muito no ano que vem o percentual de execução orçamentária em razão dos recordes de arrecadação.


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